Mercado

Apostas para 2006 dependem de mudanças na política econômica

Soraya Misleh

 

Em 2006, a depender da aprovação e execução dos investimentos em infra-estrutura, o resultado pode ser favorável em setores cruciais ao desenvolvimento, como construção e indústria, atestam seus representantes. E isso, reconhecem, deve repercutir em maiores oportunidades de trabalho aos engenheiros.

Conforme a Assessoria de Comunicação do Ministério do Planejamento, estão previstos no projeto de lei do Orçamento Geral da União R$ 15 bilhões para esses investimentos –
R$ 3,5 bilhões a mais do que foi pago em 2005. O montante inclui cerca de R$ 6 bilhões ao setor de transportes e R$ 2,3 bilhões à pasta de Cidades – a qual terá ainda R$ 10 bilhões provenientes do FGTS para aplicar em saneamento, habitação e também transportes. O presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, declarou à Folha Online, em 4 de janeiro, que a votação do orçamento deve ocorrer ainda neste mês. Porém, a reportagem aponta que, na opinião de líderes partidários, isso só deve acontecer em março.

Além das expectativas em relação à apreciação o quanto antes do tema no Congresso Nacional, para que o desempenho positivo se confirme, será necessário promover mudanças na política econômica. É o que afirma Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Seu argumento fundamenta-se em análise feita por essa entidade. O estudo indica dois cenários possíveis para 2006: um levando-se em conta a continuidade dessa política e outro, alterações, englobando redução de juros, maiores valorização do câmbio e investimentos do setor público. Nesse último caso, enfatiza Francini, “o crescimento do PIB pode se ampliar para 4,5% neste ano”. Conseqüentemente, ainda de acordo com ele, a indústria paulista pode crescer 6% e gerar em torno de 100 mil novos empregos, inclusive aos engenheiros. Na pior situação, entretanto, esse incremento será “meio medíocre”, de cerca de 3% – semelhante ao de 2005. A população hoje empregada no setor em São Paulo, estima Francini, é de aproximadamente 2,2 milhões de pessoas, o que equivale a 40% da mão-de-obra nacional contratada na indústria.

Na construção civil, segundo o engenheiro Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo), imagina-se crescimento entre 3,5% e, na melhor das hipóteses, 5% – balanço de 2005 deve fechar com incremento de apenas 1%, contra os 4,6% estimados no início do ano. Na opinião do representante do setor, deve haver algum movimento em termos de investimentos em 2006, mas precisariam ser maiores e ter continuidade. Isso seria fundamental em um segmento cujos projetos, de acordo com ele, demandam no mínimo seis meses para sair do papel e transformar-se em obra. “Daí vão virar crescimento e emprego.” Portanto, recursos teriam que ser liberados o mais breve possível. Até para tentar recuperar minimamente os postos de trabalho que o setor perdeu ao longo dos últimos anos. Conforme Zaidan, desde 1999, a construção civil vem tendo decréscimo, com exceção de 2000 e 2004. No geral, estima o vice-presidente, tem hoje 200 mil postos de trabalho formais a menos que há dez anos. “No Brasil, são 1,43 milhão de empregados, dos quais 28% concentram-se neste Estado.”

 

Contratação atrasada
Com cerca de 15 a 20 mil engenheiros atuando no País, segundo João Antonio del Nero, presidente do Sinaenco-SP (Sindicato das Empresas de Engenharia Consultiva de São Paulo), o setor de consultoria espera por maiores investimentos em 2006 – no ano anterior, enfrentou turbulências, a exemplo de outros segmentos. Mas, ressalva ele, “na parte de projetos, já deveriam ter sido feitos os contratos”. Del Nero acredita que, devido à demora, não será possível usar 1/3 dos recursos que forem disponibilizados. Assim, não vê muita mudança no cenário atual e sequer acha que empregos sejam gerados de forma significativa na consultoria. “Continuam anos difíceis daqui para a frente”, sentencia. O presidente do Sinaenco-SP justifica: “A engenharia tem sido muito mal-usada no Brasil.” Um dos exemplos disso, para ele, é a liberação pelo governo, no início deste mês, de R$ 440 milhões para o Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas. “É verba para operação tapa-buraco, faltou planejamento.”

Carlos Pacheco Silveira, presidente do Sinicesp-SP (Sindicato da Indústria da Construção Pesada de São Paulo), concorda: “Os recursos da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) ficaram represados por muito tempo, não se investiu quase nada.” A despeito disso, na construção pesada, enfatiza ele, as perspectivas são de aquecimento, “principalmente no setor rodoviário”. Com isso, a previsão é que sejam abertas novas vagas, o que refletirá em maiores oportunidades aos engenheiros. Ao todo, “devem ser criados em torno de 8 mil empregos no Brasil, uns 3 mil no Estado de São Paulo”. Porém, acrescenta, “ainda muito aquém do necessário”. O ritmo de contratação de obras precisaria, na sua opinião, ser quatro a cinco vezes maior. Conforme Silveira, nos últimos 20 anos, houve perda de aproximadamente 93 mil postos de trabalho no setor em todo o País. “Hoje, são menos de 40 mil empregados.”

 

 

Próximo texto

JE 270