Meio ambiente

Embalagens longa vida já podem ser totalmente recicladas

Soraya Misleh

 

Iniciativa inusitada promete dar nova destinação a materiais que compõem a embalagem cartonada: o desenvolvimento de tecnologia de plasma para esse fim, em parceria entre a Alcoa, Klabin, Tetra Pak e TSL Engenharia Ambiental. O embrião do projeto surgiu, segundo divulgado pelo Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), há cerca de sete anos, da necessidade de se reduzir o resíduo sólido no meio ambiente.

Até então, o modelo de reciclagem das caixinhas longa vida – compostas de várias camadas de papel, polietileno de baixa densidade e alumínio – separava o primeiro material, mas mantinha os outros dois agregados. Conforme conta Gunther von Atzingen, supervisor de produto da TSL, na busca de alternativa para a reciclagem completa, a Tetra Pak – uma das principais fabricantes de embalagens longa vida no País, que no ano retrasado, de acordo com informações em seu site, produziu aqui 8,7 bilhões para os mercados interno e externo – procurou o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). “A TSL mantinha um contrato de assessoria com esse órgão e empresas no exterior para desenvolver a tecnologia e buscar aplicações para o plasma térmico. Foi proposto às outras três companhias participantes formarem um grupo composto por engenheiros renomados que pudesse atuar nisso, sob a sua supervisão. O trabalho foi feito a oito mãos”, destaca. Segundo o diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak no Brasil, Fernando von Zuben, antes, a possibilidade era de que o plástico e o alumínio provenientes das embalagens longa vida – os quais representam em torno de 25% de sua composição – fossem prensados e utilizados, por exemplo, na fabricação de placas de telha. O outro caminho que se apresentava a esses materiais, bem mais comum, como aponta Atzingen, eram os aterros.

Esse é o destino de mais de 75% das embalagens cartonadas no Brasil, que não são selecionadas e reaproveitadas – um percentual elevado, mas ainda assim inferior à média mundial, cujo índice de reciclagem é de apenas 15% do total consumido. Além de propiciar melhor utilização do plástico e alumínio, a instalação da nova planta baseada na tecnologia de plasma – inaugurada em Piracicaba em maio último, mas em fase de testes – deve repercutir na elevação do percentual nacional disposto adequadamente. Assim, de acordo com Atzingen, dos cerca de 22% hoje recuperados, deve-se passar para 25% nos dois primeiros anos – ou seja, em torno de 40 mil toneladas a cada ano. “Nossa planta, cujo início das operações está previsto para a primeira quinzena de setembro, reciclará 8 mil toneladas de plástico e alumínio por ano, o equivalente a 32 mil embalagens longa vida. A um peso médio de 30 gramas por unidade, reciclaremos perto de 1 bilhão de caixas”, enfatiza. E a idéia, diz ele, é construir novas plantas no Brasil. Caso se alcancem os resultados esperados, muitas árvores devem ser poupadas. Isso porque, de acordo com o Cempre, cada tonelada de embalagem cartonada reciclada gera, aproximadamente, 680 quilos de papel kraft. Sem contar a redução do impacto ambiental com a destinação adequada do produto final – quando disposto em aterro, a agressão ao meio não deixa de ser considerável, embora o material tenha degradação relativamente rápida dependendo das condições do local, o que é demonstrado por estudo da USP. Zuben lembra que, de acordo com esse, 49% da embalagem desaparece em seis meses.


Inédito e brasileiro – Fruto de investimento de R$ 12 milhões e pesquisas 100% nacionais, como lembra Atzingen, a aplicação da nova tecnologia com esse objetivo é inédita no mundo e começa a despertar o interesse fora do País. “O sistema usa energia elétrica para produzir um jato de plasma a 15 mil graus Celsius para aquecer a mistura de plástico e alumínio”, afirma ele. Conforme o supervisor, o primeiro é transformado em parafina que pode ser vendida para a indústria petroquímica nacional ou de velas. E o segundo, totalmente recuperado na forma de lingotes de alta pureza, que podem ser reaproveitados em novas embalagens. O papel mantém o ciclo normal de reciclagem, vira papelão e posteriormente é transformado em caixas, como ocorre na fábrica recicladora de papel da Klabin, ao lado da qual foi construída estrategicamente a planta de plasma em Piracicaba. Outra vantagem da tecnologia é que, no processo, os gases gerados são tratados e não há resíduos. “A emissão de poluentes é próxima de zero”, confirma Atzingen. E a eficiência energética situa-se em torno de 90%.

Além do ganho ao meio ambiente, Zuben ressalta que deve aumentar o valor do material pós-consumo aos recicladores. “Conseqüentemente, o catador buscará mais e mais embalagens entre o que hoje é simplesmente lixo e muitas vezes destinado aos aterros sanitários. As projeções atuais são de um aumento de 30% no preço médio pago às cooperativas”, complementa o supervisor de produto da TSL. Com a maior demanda, a nova planta deve gerar trabalho, emprego e renda. Porém, para se obter esse resultado, é fundamental a conscientização da população. Segundo Atzingen, as empresas têm um trabalho constante nesse sentido.

 

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