Opinião

Ferrovias: a situação sob o ponto de vista da indústria

Ronaldo da Rocha

 

Em 1996, por ocasião do início das privatizações da malha ferroviária nacional, os investimentos do Governo no setor chegaram a níveis nunca antes imagináveis: praticamente zero. A situação era precária, com alto índice de acidentes e com produção em baixa. Além disso, apenas o custeio dessas malhas, gerava prejuízos para os cofres públicos da ordem de US$ 1 milhão por dia.

Por conseqüência, a indústria ferroviária foi praticamente extinta, os empregos eliminados, dentre os quais os de uma legião de milhares de engenheiros.

De 1996 a 1999, foi realizado o processo de concessão pelo Governo Federal, através do qual foram entregues à iniciativa privada 11 malhas ferroviárias, num total de 28.445 km. Esse processo prevê em seu bojo a definição de um Plano Trienal para cada concessionária, fixando metas de produção e segurança, com a aplicação de penalidades pelo eventual não-cumprimento de tais metas.

Desde o início dessas concessões, verificou-se uma reversão no quadro perverso em que nos encontrávamos. Foram investidos mais de R$ 6 bilhões.

Considerando o que o Governo deixou de gastar com o custeio, o que foi investido pelas concessionárias, o que foi pago por essas a título de outorga e o que foi arrecadado de impostos, nosso País teve um benefício da ordem de R$ 15 bilhões.

Esses investimentos consistiram basicamente em:

• Melhoria da condição operacional das vias das malhas concedidas, com ênfase em segurança e “transit time”;

• Aquisição de material rodante, bem como recuperação da frota recebida no início do processo de concessão;

• Introdução gradual de novas tecnologias de controle de tráfego e sistemas, visando aumento da produtividade, segurança e confiabilidade das operações;

• Capacitação e aperfeiçoamento profissional;

• Ações sociais com campanhas educativas, preventivas e de conscientização das comunidades limítrofes das ferrovias.

 

Novo cenário – Os principais indicadores confirmam, de forma inequívoca, que no período de 1997 a 2004, tais investimentos trouxeram benefícios efetivos e mensuráveis.

A carga transportada passou de 138 bilhões de TKU (Tonelada Quilômetro Útil Transportada) para 201,7 em 2004. Um aumento de 46%. Para 2005, as previsões indicam que devem ser atingidas 225,8 bilhões de TKU, o que representa um aumento da ordem de 64%. Os acidentes, por sua vez, caíram de 78,7 por milhão de trens/km para 30,1, ou seja, uma redução de 62%.

É também importante mencionar a reversão do patrimônio líquido das ferrovias, de negativo para positivo, à exceção da Brasil Ferrovias, que está agora em franco processo de recuperação, através de um plano de reestruturação que contará com investimentos públicos e privados que superarão R$ 1 bilhão nos próximos anos.

As metas atuais caminham no sentido de uma integração das ferrovias e reconstituição dos corredores operacionais de transportes para atendimento das exportações e da demanda interna, com aumento ainda maior na produção dessas ferrovias.

Em suma, esse processo virtuoso, ocorrido a partir de 1997, permitiu à indústria sua expansão, com a ampliação das linhas de produção, a reativação de instalações abandonadas, a abertura de novas fábricas e principalmente a recuperação dos empregos. A indústria conta hoje com cerca de 10 mil empregos diretos. A produção anual de vagões, que é o principal indicador do setor, passou de praticamente zero, para 4 mil vagões/ano em 2004 e deve atingir a cifra de 8 mil vagões até o final deste ano. Ainda, a demanda já prevista para compra do equipamento, de 2005 e 2009, é de cerca de 21 mil unidades, com previsão, no mesmo período, de recuperação de outros 2,1 mil.

Dispomos hoje no Brasil de uma sólida base produtiva instalada. O complexo industrial ferroviário conta com um parque de empresas modernas e com capacidade de projetar e fabricar sistemas completos, sem dependência externa, com uma base tecnológica local que tornou o País autônomo neste setor. Os produtos aqui desenvolvidos e produzidos são exportados para todos os continentes e atendem a especificações internacionais cujos requisitos de qualidade, desempenho e segurança são muito elevados. É importante destacar que o mercado interno é a base sobre a qual se garante competitividade ao fabricante nacional para atuar no mercado externo, o que inclui desenvolver e fabricar produtos tecnologicamente avançados, a custos não elevados e dentro dos prazos requeridos pelos clientes.

 

No rumo do desenvolvimento – Pelo exposto, entendemos que nosso país está no caminho certo, uma vez que estão sendo viabilizados os corredores de exportação tão necessários para que possamos participar, efetivamente, de um cenário internacional cada vez mais competitivo.

Este é o verdadeiro desenvolvimento que almejamos para o Brasil e para os seus trabalhadores, com carteira assinada, salário na conta, comida na mesa e, principalmente, dignidade e auto-estima elevada

 

Ronaldo da Rocha
Vice-presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária) e diretor do Simefre (Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários)

 

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