Editorial

A inflação que ninguém segura

Reportagem do jornal o Estado de S. Paulo, de 27 de junho último, trouxe em números o peso que cada brasileiro vem sentindo há muito no bolso. Segundo o IPDM (Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento de Mercado), neste ano, os gastos com tarifas somarão R$ 91,6 bilhões. Esse montante inclui água, esgoto, energia elétrica, telefonia fixa, gás de cozinha, condomínio e imposto predial, todos obrigatórios à manutenção de uma residência.

A bolada corresponderá a 7,5% de todo o consumo das famílias, estimado em
R$ 1,2 trilhão em 2005. Representa ainda 60% das despesas com alimentação, calculadas em R$ 156,2 bilhões. Tal perfil de comprometimento do orçamento, de acordo com o instituto, está longe de ser razoável, tendo em vista que os gastos compulsórios estão bastante próximos daqueles com um item básico de sobrevivência: comida O estudo do IDPM também aponta mais uma estocada contra a classe média, que tem percentual maior do seu orçamento destinado à telefonia. Essa camada gasta 2,7%, contra 2% dos mais pobres e 1,9% dos mais ricos. A relação poderia ser ainda pior se o estudo incluísse o desembolso com combustível, telefonia celular e pedágio, também obrigatório para muitos.

Imunes à lógica – já elevada à condição de dogma – de aumentar juros para conter a atividade econômica e conseqüentemente a inflação, esses preços administrados continuam subindo e superam o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Só no início de julho, ficaram mais caros a telefonia fixa, cujo reajuste de 7,27% foi calculado com base no IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), e os pedágios, elevados em 9,075%, com base no IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado). Formados por uma cesta de outros índices, esses são afetados também pela variação do câmbio.

Assim, em caso de desvalorização do real, tais preços podem subir drasticamente, afetando não só o orçamento doméstico do cidadão, como os esforços da equipe econômica. Lamentavelmente, em tempos de dólar barato, ao contrário do que se poderia esperar, as tarifas não caem. A regra perversa, que beneficia os operadores dos serviços públicos, obedece aos contratos estabelecidos por ocasião das privatizações – aqueles que, firmados no Governo passado, são considerados sagrados pelo atual.

Além de ter de apertar cada vez mais o cinto e se aprimorar no malabarismo financeiro, resta ao cidadão comum a incômoda sensação de estar vivendo segundo um fundamentalismo econômico que não encontra correspondência na realidade. De um lado, uma política visando administrar a relação entre o PIB (Produto Interno Bruto) e dívida pública que lembra o cão correndo atrás da própria cauda – elevado superávit anulado por altas taxas de juros. De outro, preços que sobem sem controle e contribuem para o aumentar o custo vida.

Seria mais que desejável que se alterasse alguma variável dessa equação, dessa vez em favor da população.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

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