Mercado

Contra o desemprego, mudanças urgentes na política econômica

Soraya Misleh

 

“A vida está muito difícil ao setor da construção civil.” O desabafo feito pelo vice-presidente de Economia do Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil), Eduardo May Zaidan, reflete a realidade também de outros segmentos produtivos, face à política econômica adotada pelo Governo, que privilegia o capital especulativo em detrimento de quem emprega. “Tem que haver mudanças estruturais”, enfatiza. A pesquisa mensal de emprego do IBGE, divulgada em 23 de junho, acusou a taxa de desocupação de 10,2% no mês de maio, primeira queda significativa do ano segundo o órgão. A recuperação, no entanto, está longe de ser motivo para comemorações.

Em coletiva à imprensa no dia 16 de junho, quando foi apresentado estudo sobre o nível de empregos da indústria paulista no mês de maio, Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias no Estado de São Paulo), destacou: “É preciso baixar os juros, quisera isso já tivesse ocorrido.” Ele referia-se à decisão do Copom (Conselho de Política Monetária) de manter a taxa Selic em 19,75%, sem viés, tomada um dia antes, depois de nove meses consecutivos de alta. O gerente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, André Rebelo, sentenciou: “Os juros no patamar que estão geram muita insegurança.” Conseqüentemente, segundo ele, há um desestímulo e projetos de investimentos são engavetados. Isso explica o índice negativo no nível de empregos da indústria paulista, quando feito ajuste sazonal, pela primeira vez após 17 meses, apontando clara tendência de queda no próximo semestre. O estudo da federação mostra que no mês de maio foram gerados apenas 7.038 postos de trabalho. Conforme Skaf, desde 2000, esse foi o pior resultado obtido comparando-se igual período.

Com as taxas de juros nas alturas e o dólar – cotado hoje em cerca de R$ 2,40 – durante meses em queda livre, de acordo com Rebelo, o mercado interno está perdendo fôlego e a exportação parando de crescer. Frente a essa realidade, “se fecharmos o ano assim já está bom. Se a indústria não demitir, estamos no lucro”. Se o estrago já feito vai inevitavelmente repercutir no segundo semestre, para Skaf, pelo menos é possível mudar a expectativa, revertendo-a para o lado positivo. Na ótica de Rebelo, o caminho para tanto é a taxa Selic começar a cair, e rápido, e o dólar reagir.

 

Montanha-russa – Diante da conjuntura econômica, Zaidan lembra que a previsão de crescimento do PIB da construção civil neste ano foi revista dos iniciais 4,5%, aproximadamente, para 3,8%. E o dinamismo no nível de emprego, que vinha tendo leve recuperação, se reduziu significativamente. Hoje, o mercado formal brasileiro agrega cerca de 1,3 milhão de trabalhadores – sequer recuperou as 300 mil vagas que perdeu nos últimos dez anos, situação semelhante a que vive a indústria, a qual, afirma Rebelo, nunca mais conseguiu elevar o índice de empregos a patamares de meados da década de 90. Zaidan explica o porquê de o setor estar com o freio de mão puxado: “A economia brasileira sofre de um raquitismo meio endêmico. Cresce muito pouco e sem continuidade. É uma montanha-russa, não tem horizonte confiável de investimento. Estamos numa camisa-de-força, com o dólar em baixa e os juros altos sufocando o crescimento.” A fórmula perversa imposta pela ala econômica do Governo não poderia ter outro resultado senão “desemprego, queda de renda e de consumo”.

Essa é uma tendência até mesmo no setor agrícola, cujos bons resultados vêm sendo impulsionados pelas exportações. Responsável pela balança comercial positiva, o segmento deve viver desaceleração a partir do próximo ano. Isso, segundo Macel Caixeta, vice-presidente da CNA (Confederação Nacional de Agricultura), se se mantiver a “política monetária desastrosa e a falta de comprometimento do Governo quanto a solicitações feitas pelos produtores rurais”. Segundo ele, “faltou crédito”. Em decorrência disso, em algumas regiões do País, já predomina a estagnação. “Nesse cenário, vamos pedir ao Governo que se instale política agrícola definitiva e queremos recursos para a agricultura brasileira. Além disso, tem que se reduzir os juros para que o dólar reaja e a gente possa exportar mais. Se não houver correção de rumos, haverá queda grande na produção.” A reivindicação estava na pauta de movimento organizado pelo setor que levaria caravanas de todo o País à Capital Federal entre 26 de junho e 1º de julho. Intitulado “Tratoraço – O alerta do campo”, pretendia reunir 20 mil agricultores.

 

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