Editorial

Locomotiva em marcha a ré

Diversos aspectos das condições de vida, trabalho e desenvolvimento no Estado, incluindo infra-estrutura, áreas sociais, relações de poder e economia foram trazidos à luz durante o seminário intitulado “São Paulo: Realidade e Perspectivas”, que o SEESP sediou em seu auditório nos dias 28 e 29 de abril.

O encolhimento paulista e a transferência de suas riquezas da área produtiva para a especulação são alguns dos pontos que merecem atenção especial e apontam a necessidade urgente de mudanças nas políticas adotadas e prioridades do Governo. Esses foram demonstrados pelos professores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Wilson Cano e Márcio Pochmann, durante o evento em questão, promovido pelo Instituto Maurício Grabois. Nas décadas de 80 e 90, como se sabe, o Brasil teve crescimento pífio, registrando taxas médias de 2,2% e 1,9% respectivamente. Pois bem, em São Paulo, isso foi ainda pior: 1,5% e 1,4%.

Um dos sintomas do movimento de regressão, como nos mostrou Cano, é a maior participação da agricultura, enquanto o setor industrial vai à míngua, num contra-senso em relação à própria teoria e história do desenvolvimento econômico, que indica peso declinante da agropecuária ao longo do tempo. Na contramão dessa lógica, o setor representava, em 1970, 5,7% da renda paulista. Hoje, corresponde a 7,8%. A indústria, que era 44% da geração da renda, caiu a cerca de 40%. Como conseqüência, São Paulo, que tinha 40% da renda nacional, tem atualmente 32,5%. Lamentavelmente, isso não ocorreu, como se poderia imaginar, porque outros estados obtiveram melhor desempenho e superaram São Paulo, o que serviria para minimizar as desigualdades regionais. Foi puro e simples empobrecimento.

Paralelamente a essa degradação, vê-se a queda violenta do investimento estadual em infra-estrutura. Após as privatizações, por exemplo, do setor elétrico, São Paulo deixou de ter o papel de indutor do desenvolvimento, já que foram abandonados os projetos de geração, transmissão e distribuição de energia, que propiciavam uma reação em cadeia na economia, ativando a indústria e gerando empregos.

 

A vez da banca – Enquanto a indústria paulista encolhe e não há ação efetiva por parte do Estado para reverter tal situação, o capital corre em direção à financeirização, conforme os números apresentados por Pochmann. Entre 1985 e 1997, os setores que mais cresceram em São Paulo foram os relativos à intermediação financeira (19%) e atividades imobiliárias (23%). A indústria de transformação caiu 14,8% nesse período. Dos anos 80 para cá, apontou ele, essas atividades concentraram-se no Estado de São Paulo, que detém 49% delas. Possui ainda 62% dos bancos – dos 131 existentes no País, 81 têm sede no Estado. Responde por 83% do patrimônio líquido dessas instituições e 69% dos ativos financeiros, enquanto a participação geral no PIB nacional é de apenas 33%. Ficou o alerta do que isso representa em comprometimento das oportunidades que São Paulo teria do ponto de vista produtivo. Explica, por exemplo, a queda violenta na renda do trabalho. Essa, que era 44,5% em 1980, despencou para 30,9% em 2003. Ou seja, a outrora chamada locomotiva do Brasil não só estacionou como segue em marcha a ré. Para o bem do povo paulista e de todo o País, é mais do que hora de reverter esse movimento.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

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