Dia-a-dia

Engenheiro assegura proteção contra fogo e fumaça

Soraya Misleh

 

Desenvolver o projeto de prevenção contra incêndios para uma empresa ou condomínio é o que faz o consultor técnico da Bombeiros.com, Cleber Vieira. Engenheiro mecânico e de segurança do trabalho, ele atua há três anos na área. Em seu dia-a-dia, visita obras e aponta as necessidades do cliente. Além de novos empreendimentos, companhias que vão ampliar seu espaço precisam adequar-se às normas atuais, e, portanto, também contratam seus serviços. O projeto muda de um local para outro, segundo Vieira, conforme o grau de risco, o número de pessoas que trabalham, os pavimentos. “A escada de fuga é obrigatória em função dos andares e quantidade de pessoas que circulam no prédio”, exemplifica.

No papel de “engenheiro de incêndio”, como gosta de se autodenominar – profissão ainda não-regulamentada, mas que poderá vir a ser fruto de especialização obtida em curso de pós-graduação, pois, informa o consultor, já há estudos sobre isso junto ao Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) –, ele tem uma gama de atribuições. Em sua rotina de trabalho, pode implantar os equipamentos de proteção contra incêndios de acordo com as normas e legislação vigente, bem como acompanhar sua instalação, fazer auditoria para certificação de empresas e elaborar pequenos projetos a ser incorporados ao sistema. Entre eles, de detecção de fumaça e calor e iluminação de emergência – o que inclui definir onde serão colocadas lâmpadas especiais e também a sinalização reflexiva –, que mantém a claridade durante seis ou sete horas. Além disso, o engenheiro pode projetar a rede de sprinklers (chuveiros automáticos), pára-raios, carrocerias para viaturas de combate a incêndio e a parte hidráulica, inclusive nesses veículos. Com isso, é possível avaliar, por exemplo, quais “as bombas que têm que ser colocadas e a quantidade e pressão da água suficientes para que o sistema funcione”.

Outra tarefa desempenhada por esse profissional no seu cotidiano é fazer cálculos de caminhamento, para assegurar a colocação dos equipamentos a uma distância correta – segundo Vieira, cada um tem que estar, no máximo, a 15 metros de distância do hidrante ou extintor. “Desenvolvemos também projetos de líquidos geradores de espuma, agentes extintores especiais para indústrias que tenham tanques com produtos inflamáveis.” E ainda de escadas pressurizadas, as quais contam com uma ventilação reforçada que isola tais rotas de fuga da fumaça em um incêndio.


Salva-vidas – A planta isométrica elaborada pelo engenheiro – que contém todas as informações sobre redes de hidrantes, extintores necessários por área construída, equipamentos, chuveiros automáticos e alarmes para detectar a fumaça ou calor – é apresentada ao Corpo de Bombeiros. De acordo com Vieira, quando essa instituição vai inspecionar o local, para fornecer o auto de vistoria que permitirá seu funcionamento, o responsável pelo projeto a acompanha. E o seu trabalho não pára por aí. É sua responsabilidade treinar a brigada de incêndio e, depois, fazer simulados para ver se essa está realmente preparada para enfrentar uma situação em que o fogo é real.

Ao garantir que todas as normas e instruções técnicas do Corpo de Bombeiros sejam seguidas em um estabelecimento, esse profissional assegura que vidas sejam salvas em um incêndio. Com um projeto bem feito, Vieira assevera que não haverá conseqüências graves. “O objetivo principal é que não haja nenhuma vítima. Digamos que, no caso, as pessoas estejam devidamente orientadas e evacuem o local sem pânico, que as escadas estejam bem projetadas e haja a proteção de portas corta-fogo e fumaça, a sinalização funcione e ninguém desça por elevador e fique preso. É o que a gente espera.”


Dificuldades – Para obter esse resultado, contudo, seria imprescindível que o trabalho do “engenheiro de incêndio” fosse executado em sintonia com o do responsável pelo projeto civil de uma obra – inclusive podendo intervir na sua realização. Contudo, não é o que acontece na maioria das vezes. “Hoje, poucas empresas contratam uma consultoria ou engenharia de segurança do trabalho para orientar e interferir no projeto. Essa é a grande falha. A gente encontra muitas irregularidades que vão ser apontadas na hora da inspeção do Corpo de Bombeiros”, lamenta. E complementa: “Depois que foi feito o projeto é que vão verificar que há coisas erradas e vários itens foram esquecidos ou não foram colocados por economia. Daí, procuram por nós porque o projeto não foi aprovado. O gasto é maior e é mais tempo perdido.”

Para ele, essa dificuldade deve ser vencida com a regulamentação da profissão de engenheiro de incêndio e sua participação no projeto civil. Isso abriria um mercado fantástico aos profissionais da categoria, acredita Vieira. Atualmente, podem atuar nesse segmento aqueles pós-graduados em engenharia de segurança do trabalho.

 

Texto anterior

Próximo texto

JE 246