Ambiente

I Ecopira põe em debate os biocombustíveis

 

Diesel a partir de amendoim, girassol, mamona ou soja; energia elétrica gerada com bagaço ou palha de cana e gás produzido de resíduos urbanos, além de, evidentemente, o álcool de cana. Essas são algumas das fontes alternativas ao caro, escasso e poluente petróleo, apresentadas no I Encontro Técnico Ambiental da Bacia do Rio Piracicaba. Realizado pela Delegacia Sindical do SEESP no município, o evento aconteceu em 11 de novembro na Escola de Engenharia de Piracicaba, juntamente com a Semana da Engenharia Mecânica.

O professor Walter Francisco Molina Júnior, do Departamento de Engenharia Rural da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”) apresentou a palestra “Queimada de cana: implicações energéticas e ambientais”. Ele chamou a atenção para o desperdício energético que representa a queima feita antes da colheita para facilitar esse processo executado manualmente – isso além dos problemas ambientais, como a agressão à flora vizinha e a poluição atmosférica. “O palhiço (ponteiro, folha e palha seca) descartado em cada safra equivale a 110 milhões de barris de petróleo, mesmo potencial do álcool e do bagaço”, afirmou.

“Biodigestão: uso energético do biogás da vinhaça” foi o tema do engenheiro André Elia Neto, do Centro de Tecnologia Canavieira e vice-presidente da Delegacia Sindical do SEESP em Piracicaba. Ele lembrou que a opção pelo resíduo da destilação do álcool havia surgido para uso automotivo como substituto do diesel. “Hoje, a discussão retorna motivada pela escassez e preocupações ambientais”, informou. Para vingar desta vez, afirmou ele, espera-se que esse combustível possa contar com tarifa privilegiada, acima dos R$ 158,00 por MWh, pagos ao biogás de aterro sanitário.

Florenal Zarpelon, do Grupo Cosan S.A., falou sobre “Co-geração no setor sucroalcooleiro”. Basicamente, o bagaço resultante da moagem é utilizado como combustível nas caldeiras para produção de vapor. Parte disso é utilizada nos equipamentos da usina, o restante é destinado à geração da energia elétrica consumida internamente ou comercializada para empresas distribuidoras de energia. De acordo com a companhia, em 2003 foram vendidos 13 mil MWh. Segundo Zarpelon, por safra, tem-se 350 milhões de toneladas de bagaço e cada tonelada pode produzir, em média, 210KW.

O representante da Brasmetano, José Marcos Gryschek, apontou o lixo urbano como fonte de energia em forma de biogás. “Pequenas comunidades, de até 5 mil habitantes, que não dispõem de eletricidade, podem usar o seu próprio resíduo para abastecimento”, defendeu. A idéia é transformar o lixo doméstico em gás metano. Segundo ele, é possível obter o produto por até 40 anos em cada aterro, que continua gerando mesmo após deixar de receber resíduos, embora de forma decrescente.

Último palestrante da mesa-redonda sobre biocombustíveis, Edmar Lopes Faleiros, da Dedini Indústrias de Base, apresentou o tema que mais concentrou as atenções: “Produção de biodiesel: o caminho brasileiro”. A proposta é produzir óleo que substitua o derivado de petróleo, seja misturado a ele ou funcione como aditivo, a partir de vegetais, gordura animal ou mesmo óleo de cozinha usado. Conforme Faleiros, há duas grandes motivações favoráveis a essa alternativa. A primeira seria ambiental, já que, afirmou, uma tonelada de biodiesel evita a produção de 2,5 toneladas de CO2, o grande vilão do efeito estufa. A segunda seria de ordem econômica e social, com fortalecimento do agronegócio e redução de gasto com importação de petróleo.

 

Questões prementes – Integraram ainda a programação do I Ecopira dois temas cruciais ao bem-estar da população, que têm sido objeto constante de lutas e debates promovidos pelo SEESP. A mesa-redonda “Saneamento ambiental” contou com a participação de Laudinor da Silva, da Tema Laboratório e Assessoria; de Fernando Ariane Mangabeira Albernaz, da Águas de Limeira; e de José Guilherme de Freitas, da CPFL. A discussão sobre “resíduos” teve como palestrantes Ricardo Isaac, da Unicamp; Katia Goldschmidt Beltrame, da Bioland Indústria e Comércio de Composto Orgânico; e Juan Rodrigo Gonzáles, da Consultoria Emdhap.

 

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