Editorial

Crescimento, pacto e dificuldades


A euforia com a volta do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), já projetado para até 5% em 2004, segue estampada nas páginas dos jornais. Contudo, mesmo a cobertura mais otimista precisa levar em consideração os nós que travam a economia. Entre eles, está a falta de poder aquisitivo do brasileiro. Os anos de recessão achataram a renda real do trabalhador, que, segundo a Folha de S. Paulo de 12 de agosto, encolheu 12% desde 1996.

Por isso mesmo, a proposta de “pacto nacional” feita pelo presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Luiz Marinho, ao recém-eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, gerou mais ruído que adesões, muito embora o próprio Lula tenha dito que tal iniciativa “era tudo que devia acontecer”. Obrigados a apertar o cinto pelo desemprego e arrocho salarial, além de serem penalizados pelos cortes nos gastos sociais, os trabalhadores encontram-se hoje impossibilitados de dar a sua parte no tal acordo, se isso significar abrir mão de melhoria em seus ganhos.

A nota assinada conjuntamente pela Força Sindical, Confederação Geral dos Trabalhadores e Social Democracia Sindical, manifestando “estranheza” à sugestão de Marinho, traduz a reação imediata a tal idéia: “(...) Parece-nos absolutamente inadequado e inoportuno discutir acordos com perdas para trabalhadores neste momento em que a economia ensaia um aquecimento e as principais categorias profissionais do País estão em plena campanha salarial para recuperar as enormes perdas do passado.” Além do evidente tiro no pé de quem busca a sua justa parte na volta do crescimento, a empreitada tem ainda a marca do isolacionismo, o que foi detectado pelo movimento sindical. “Um pacto social para ajudar no combate à inflação e aos juros altos pode e deve ser buscado, no contexto de uma ampla negociação entre entidades representativas de toda a sociedade (...) Discutida neste momento, e envolvendo apenas Governo, parte dos trabalhadores e parte dos industriais de São Paulo, a proposta já nasce aleijada ou morta”, completa o documento.

A provavelmente bem-intencionada iniciativa de Marinho esquece-se que a sustentabilidade do crescimento depende de fatores que escapam às possibilidades de um pacto dessa natureza, ainda que ele lograsse controlar os preços ao seu alcance – o que exclui, por exemplo, a cotação internacional do petróleo e tarifas como energia e telefone. Os juros vêm sendo apresentados sobretudo como um meio de conter a inflação. Contudo, a política monetária está mais submetida aos caprichos do mercado financeiro internacional que aos preços internos. Sem controle do fluxo de capitais estrangeiros, dos quais é cada vez mais dependente, o País pode ser obrigado a subir abruptamente a sua taxa para impedir uma fuga violenta e a conseqüente crise cambial. Assim, se queremos de fato buscar um crescimento que se prolongue no tempo e se transforme em desenvolvimento e bem-estar à população, é preciso enfrentar os problemas reais e seguir na batalha pela mudança de uma política econômica que, apesar dos êxitos momentâneos, pode conduzir o País a um buraco ainda maior.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

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