Engenharia

Estudantes criam carros supereconômicos

Soraya Misleh

 

Com a proposta de percorrer a maior distância com o menor consumo de combustível, equipes de alunos de seis escolas de engenharia do País desenvolveram protótipos especialmente para a 1ª Maratona Danatureza. Realizada nos dias 30 e 31 de julho, no Campo de Provas da Cruz Alta, da General Motors, em Indaiatuba, interior de São Paulo, a competição foi patrocinada pela Dana, fabricante de sistemas e componentes automotivos, com o apoio da GM e Confederação Brasileira de Automobilismo. A iniciativa reuniu seis faculdades, cujos docentes viram na disputa uma oportunidade de formar engenheiros com uma nova visão, preocupados com o meio ambiente e a economia de recursos naturais não-renováveis.

É o que atesta Caio Glauco Sanchez, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp (Universidade de Campinas). A instituição participou da prova com dois modelos e um deles lhe assegurou o vice-campeonato: percorreu aproximadamente 133km com um litro de combustível. “O ensino foi um dos objetivos, mas tem um outro que é o desenvolvimento, para tornar os motores tradicionais, de combustão interna a gasolina, mais econômicos, de modo que não se esgotem tão rapidamente as nossas reservas de petróleo.” Porém, o professor não espera, pelo menos a curto prazo, que os veículos que circulam nas ruas do Brasil tornem-se tão mais econômicos a ponto de fazerem 750 quilômetros com um litro, possibilidade apresentada antes da competição pela FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) com um de seus quatro protótipos, tampouco 250km – a proposta inicial da maioria dos competidores. Isso porque Sanchez lembra que, no desenvolvimento dos protótipos, sacrificaram-se conforto e desempenho de modo a se alcançar a máxima economia. E desacredita que um usuário comum queira abrir mão desses itens em prol de um menor consumo de combustível.

Outro problema dos modelos que disputaram a Danatureza é que comportam apenas um passageiro. E, de preferência, tipo mignon, pois em todos havia relação direta entre a potência e o peso tanto dos veículos – em média com 45kg, desenvolvidos com materiais leves, como fibras de vidro e/ou alumínio –, quanto dos pilotos – que também não ultrapassavam 50kg e eram todas mulheres, dada a estrutura física menor.

Terceiro lugar nessa disputa, com o modelo X-10, que fez cerca de 121km/l, a FEI não alcançou o rendimento esperado, segundo o professor e idealizador da prova, Ricardo Bock, por um problema que surgiu durante a prova: o grande consumo de energia elétrica, favorecido pela pista muito extensa, de 4,3km. Ele afirma que isso deverá ser corrigido para a próxima disputa, daqui a um ano (a intenção é tornar o evento permanente). Quanto ao desenvolvimento pelo setor automobilístico de veículos supereconômicos como os apresentados na Danatureza, Bock é cético. “Se você analisar o projeto, os carros não podem ter rádio, ar-condicionado, luz e a velocidade média é muito baixa. Não há milagre.” Para ele, iniciativas do gênero são importantes na formação do engenheiro com um novo conceito, mais consciente e atento a projetos alternativos que representem economia.

 

Experimentos – Se chegar a 750km/l é impossível, diminuir sensivelmente o consumo a longo prazo é plausível. A perspectiva é de Sanchez e baseia-se em dados históricos. De 1910 até hoje, o consumo de combustível foi reduzido, de acordo com o professor da Unicamp, em dez vezes, fruto da tecnologia. Atualmente, os carros populares chegam a fazer até 18km com um litro. “Sendo muito otimista, daqui a 20 ou 30 anos podemos chegar no patamar de 100km/l.” Para o professor da Fadim (Faculdade de Desenho Industrial Mauá), Marcos Miralha Rodrigues, nesse contexto, eventos do tipo funcionam como um laboratório. “São um embrião para fomentar o processo de pesquisa.”

Assim, preocupação durante a prova foi não se limitar a conhecimentos de mecânica clássica, mas utilizar a criatividade nos protótipos. A ousadia, na opinião de Gustavo Lehto Gomes, estudante do nono semestre de engenharia mecânica do Mackenzie, rendeu a essa faculdade o título de campeã na disputa de menor consumo de combustível – a marca aproximada foi de 151km/l. “Desenvolvemos o carro mais leve, com a maior aerodinâmica possível, em tempo recorde: apenas um mês”, destacou.

Além de ser verificada a economia, também houve avaliação de projeto. A FEI inovou em seus carros e conquistou as três primeiras colocações nessa prova específica. Levou veículos com embreagem centrífuga (sem necessidade de troca de marcha), motor estacionário e central eletrônica inteligente – o motor desligava e ligava automaticamente conforme a velocidade. O relato foi feito pelo quartanista de engenharia mecânica automobilística, Gustavo Aldegheri.

Já a Fadim deu ênfase ao design em seus dois modelos – Zip e Kalango. Isso não lhe garantiu vaga entre os primeiros lugares, mas os alunos expuseram orgulhosos seus protótipos. “São os únicos com banco confortável e ergonomicamente corretos”, assegurou Tércio Hering, terceiranista do curso de desenho industrial dessa instituição. Rodrigues acrescentou: “No processo de desenvolvimento, os alunos utilizaram ferramentas computadorizadas que auxiliaram nas simulações.” Além dessas instituições, também participaram a gaúcha Ulbra (Universidade Luterana Brasileira), que ficou em quinto lugar na disputa de economia, tendo feito cerca de 80km/l, atrás da FEI, quarta colocada, com pouco mais de 83km/l.

 

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