Opinião

O SEESP no século XXI e os ensinamentos da década de 80

Rutênio Gurgel Bastos

 

A partir da década de 70, em conseqüência do chamado “milagre econômico”, as camadas médias despertaram para o seu papel de grande responsabilidade junto à sociedade civil e a importância de sua atuação na área tecnológica. A responsabilidade desses profissionais cresceu, acompanhando a forte demanda do setor tecnológico.

A renovação veio no início dos anos 80, com a proposta de não só defender os interesses da categoria, mas principalmente ter um papel de articulação junto aos movimentos sindical e social, que se desencadeavam a partir de bandeiras como a valorização profissional, a luta por melhores condições de salários e do meio ambiente de trabalho, bem como o compromisso com a democratização do País.

A vida profissional nos ensina que, somente a partir de projetos consistentes e realistas, conseguimos obras de melhor qualidade, mais econômicas e socialmente sustentáveis. E o que isso tem a ver com as lutas e conquistas do SEESP, que em setembro próximo completa 70 anos? Tudo! Senão vejamos: os anos 80 – a chamada “década perdida” – foram para o SEESP uma “década de conquistas”, cuja consolidação serviu para impulsionar o sindicato. Resumidamente, os principais ensinamentos obtidos no período foram os seguintes:

1) Concepção, elaboração e desenvolvimento de um projeto sindical que aliasse a unidade na ação e luta pela organização dos engenheiros, através da criação dos conselhos de Representantes e Tecnológico do SEESP;

2) Despartidarização das ações do sindicato em todas as suas campanhas, desde as mais simples até as mais complexas, tais como “Movimento Nacional de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social”, em 1988;

3) Defesa intransigente dos interesses da tecnologia e engenharia nacionais, com premissa básica para o estabelecimento de políticas voltadas ao desenvolvimento socioeconômico para o Brasil, tais como a concepção das “Bases para um Projeto Nacional de Desenvolvimento”, documento elaborado no final da década de 80 e publicado em 1991;

4) Inclusão das questões tecnológicas nas pautas de reivindicações, como por exemplo a que culminou com a conquista de 12 dias úteis por ano para a reciclagem tecnológica, através do julgamento do memorável Dissídio Coletivo de 1989/90.

Enfim, com o advento de novos processos tecnológicos no setor produtivo, cabe a nós, da área tecnológica, auxiliarmos o movimento sindical no aprofundamento das discussões a respeito do tema, visando o interesse maior de todos os trabalhadores. Ou seja, buscarmos a verdadeira unidade de que tanto precisa o movimento sindical, respeitando, evidentemente, as peculiaridades de cada categoria e agindo de forma não meramente corporativa.

Por último, não devemos permitir que aconteça outra ofensiva neoliberal, que quase dizimou a engenharia brasileira, especialmente a consultiva. Essa perda conduz a uma reflexão: sem conhecimento não existe tecnologia, não existe nada.

 

Rutênio Gurgel Bastos foi presidente do SEESP na gestão 1989/92. Este artigo integra uma série em comemoração aos 70 anos do sindicato, que se completam em 21 de setembro próximo.

 

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