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TECNOLOGIA - Engenharia biomédica para emagrecer

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Lucélia Barbosa

       Pesquisadores da UnB (Universidade de Brasília) estão desenvolvendo um dispositivo para auxiliar no controle da obesidade e da diabetes tipo 2. Feito do látex extraído da seringueira amazônica Hevea brasiliensis, o módulo tem a função de controlar a ingestão alimentar pela redução do diâmetro do esôfago, órgão que funciona como um tubo condutor do estômago.
       Considerado biocompatível e flexível, o CFE (Controlador de Fluxo Esofagiano), como é chamado, tem formato de um balão cilíndrico de oito centímetros de comprimento e a sua aplicação é feita por endoscopia com o balão vazio. Depois de posicionado na parte superior do esôfago, é inflado com oxigênio preservando a função de todo o sistema digestivo. “O objetivo do tratamento é que o paciente aprenda a mastigar e a comer corretamente, e consequentemente emagreça”, informa Suélia Rodrigues Fleury Rosa, do Laboratório de Engenharia e Inovação da UnB e coordenadora do projeto.
       Segundo ela, a prótese de látex é indicada para um tratamento de dez dias e ao ser inserida no esôfago causa resistência à passagem dos alimentos, tornando a ingestão mais lenta devido à necessidade de mastigação prolongada. Tal efeito exerce influência nos mecanismos desencadeadores da saciedade e ajuda na reeducação alimentar de pacientes obesos e diabéticos. “É como se fosse um grampeador interno. A pessoa não vai conseguir engolir mais do que está disposto dentro do esôfago e terá que mastigar bem mais. A perda de peso esperada é de cerca de um quilo por dia e sem desnutrição, como em outras técnicas”, explica.
       De acordo com a pesquisadora, testes experimentais foram feitos em cães que ficaram com o dispositivo no organismo entre sete e 15 dias. Foram realizadas endoscopias comparativas antes da colocação do módulo no esôfago e após a retirada. E o resultado mostrou que toda a área do órgão se manteve íntegra, sem nenhuma alteração. “Além disso, os animais tiveram perda de peso média de 8% e permaneceram saudáveis. Através dessa experiência, verificamos que o método era realmente válido”, diz Rosa. Para evitar alergias ao material, o látex é aquecido e fica livre das proteínas.

Vantagens
       O CFE pode ainda ser utilizado para fins estéticos. “O módulo pode ter várias aplicações, seja após uma gravidez ou mesmo antes de uma cirurgia plástica ajudando o indivíduo a emagrecer”, acrescenta. Outra vantagem da tecnologia é o baixo custo da matéria-prima utilizada, R$ 17,00 o litro, quantidade suficiente para mais de duas próteses. O que pode encarecer o processo é o procedimento endoscópico e o honorário dos profissionais de nutrição, endocrinologia, psicologia e educação física, que devem fazer o acompanhamento do paciente dentro do hospital. “É preciso entender que não é só colocar o módulo e pronto. Há todo um trabalho conjunto, que inclui dieta, exercícios, entre outros quesitos”, menciona Rosa.
       Entre os métodos atuais similares ao módulo criado na UnB, existem as chamadas técnicas restritivas, como a banda gástrica ajustável e o balão intragástrico, formas de tratamento classificadas como cirúrgicas, porém menos radicais que a cirurgia bariátrica, mais conhecida como redução do estômago. “A diferença é que esses outros dispositivos atuam na compressão do estômago e possuem aspectos desfavoráveis ao paciente, como dilatação do esôfago pela dificuldade de esvaziamento do órgão, obstrução total do estômago, infecção por contato com líquido digestivo e ainda não coibem a ingestão de líquidos, o que pode causar o insucesso da técnica para perder peso. Por outro lado, o CFE atua somente no esôfago, que apenas conduz o alimento, e não tem contraindicação”, argumenta Rosa.

Próxima etapa
       A meta dos pesquisadores é testar a prótese em cinco pessoas durante o período de dez dias. Conforme Rosa, o pedido já foi feito e a equipe aguarda a resposta do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, onde os testes serão realizados, e da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), vinculada ao Ministério da Saúde. “Nessa fase, queremos analisar também a retenção de bactérias no módulo, o tempo de retenção de alimentos, se teremos que banhar esse látex com algum material específico para matar as bactérias, enfim muitas avaliações deverão ser feitas visando a tolerabilidade no ser humano”, complementa.
       Cumprida essa etapa, o próximo passo é encontrar uma empresa disposta a fabricar o produto. “Quem comprar a ideia terá que fazer uma parceria com o SUS (Sistema Único de Saúde) para que a sociedade possa usufruir de uma ferramenta saudável para o combate ao problema crescente da obesidade e da diabetes. O projeto do CFE teve início em 2006, durante o doutorado de Rosa, e recebeu os prêmios Santander de Empreendedorismo e de Ciência e Inovação em 2008 e Jovem Inventor da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal em 2009.

 

 

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