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EDITORIAL - Valorizar a ciência e a tecnologia

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      Na ordem do dia, a escassez de engenheiros no mercado é já uma clara preocupação para o Governo e para empresas que temem não dispor da mão de obra necessária a seus empreendimentos. A FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) vem, desde 2006, quando foi lançado o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, advertindo sobre o risco da falta de profissionais qualificados diante de um quadro de crescimento. Entre as origens do problema, os anos de estagnação que afastaram os engenheiros de suas carreiras e desestimularam estudantes a fazerem uma opção que significava desemprego.
        Com a volta da expansão econômica, a categoria volta a ser valorizada, mas há outros nós as serem desatados. Um deles, a enorme evasão nas engenharias: em 2008, cerca de 140 mil estudantes iniciaram o curso, mas apenas 30 mil o concluíram. A falta de foco em ciência e tecnologia nos ensinos fundamental e médio é provavelmente uma das principais razões para a preocupante estatística.
       Para combater o problema, a FNE tem defendido melhorias na educação básica para que os jovens cheguem à universidade com conhecimento necessário de física, química e matemática. Também produziu um vídeo que visa mostrar a esse público o que é a engenharia, quais são seus atrativos e desafios e o que esperar quando estiverem na faculdade. Porém, ainda é preciso muito mais.
       A boa notícia é que o tema tem merecido a atenção da sociedade e não só de professores e militantes da área. Em ensaio publicado no jornal Folha de São Paulo de 6 de junho, o cineasta João Moreira Salles aborda o assunto de forma brilhante e toca em pontos fundamentais. O principal deles sendo a total falta de comunicação entre as ciências exatas e as humanidades, como se as últimas pudessem prescindir das primeiras num mundo em que pesquisa e tecnologia são imperativas.
       Salles confirma ainda alguns dados alarmantes em relação ao desequilíbrio no número de formandos, já que sobram jornalistas, publicitários e estilistas, enquanto faltam engenheiros, matemáticos ou físicos. “No ano passado, a PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica) formou três físicos, dois matemáticos e 27 bacharéis em cinema. Existem 128 cursos superiores de moda no Brasil. Em 2008, segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o País formou 1.114 físicos, 1.972 matemáticos e 2.066 modistas. Alimento o pesadelo de que, em alguns anos, os aviões não decolarão, mas todos nós seremos muito elegantes”, afirma em seu artigo.
      O cineasta chama a atenção para a necessidade de se promover não só as expressões artísticas, mas também ciência e tecnologia. “A valorização das ciências entre nós é pífia. Sempre me espanto com a presença cada vez maior de projetos sociais que levam dança, música, teatro e cinema a lugares onde falta quase tudo. Nenhuma objeção, mas é o caso de perguntar por que somente a arte teria poderes civilizatórios. Ninguém pensa em levar a esses jovens um telescópio ou um laboratório de química ou biologia? Centenas de estudantes universitários gostariam de participar de iniciativas assim. Com entusiasmo – e um pró-labore –, mostrariam que a ciência também é legal e despertariam talentos”, pondera.
        Se a situação é grave e é fato que podemos ter nosso desenvolvimento travado pela falta de cérebros para levá-lo a cabo, é ainda verdade que o País toma cada vez mais consciência disso. É um primeiro passo para mudar esse quadro.

 

 

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