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OPINIÃO - Cabral estava certo: a Índia é aqui

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Jairo Martins da Silva

      Nos últimos tempos, temos sido impactados com afirmações de que “China e Índia lideram a produção mundial de equipamentos e serviços de tecnologia da informação e comunicação”. Tal idéia foi reforçada pelo Relatório da Economia da Informação 2007-2008, publicado pela Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento), que coloca a China como o principal exportador de produtos de tecnologia, enquanto a Índia lidera as vendas internacionais de serviços de TIC.
      Não desmerecendo a imbatível vantagem competitiva desses países, no que se refere a custos do capital humano e a elevada taxa de crescimento, não se pode tomar o resultado do relatório como uma verdade nua e crua sem uma análise mais profunda. Embora os objetivos de uma empresa fornecedora de produtos sejam os mesmos que os de uma prestadora de serviços, a forma de gestão dos recursos humanos e materiais difere substancialmente. Na produção de equipamentos, não há dúvidas de que a transferência das operações para países de baixo custo com pessoal resulta em maiores rentabilidade financeira e vantagens competitivas. Assim, a realização de atividades produtivas em ambientes de baixo custo é um processo mais simples em comparação com as de alto conteúdo intelectual e interação pessoal, como vendas, serviços e desenvolvimento.
      Por conta disso, muitas companhias que se precipitaram em direção ao modismo China-Índia estão atualmente revendo as suas estratégias. No ramo de prestação de serviços, o processo se reveste de uma maior complexidade, uma vez que depende muito mais de recursos humanos capacitados e aptos para interagir com culturas diferentes. A escolha de um país ou região para a centralização de atividades de serviços deve passar por uma análise minuciosa de diversos atributos que podem interferir, no curto, médio e longo prazos. Itens como o cenário político e econômico, situação geográfica, estrutura educacional, conhecimento de línguas, relações trabalhistas, capacidade gerencial, rotatividade de pessoal e adaptabilidade cultural devem ser considerados em adição aos custos da força de trabalho. Não se pode afirmar que se um determinado país tem competência para centralizar serviços de atendimento ao consumidor, através de um call center, ele teria o mesmo sucesso em abrigar atividades de desenvolvimento de aplicativos de software ou mesmo de um centro de operações ou help desk.
      Por outro lado, não se pode negar que desde a década de 90 o Brasil tem se destacado como um excelente pólo de tecnologia de desenvolvimento de hardware e software e suporte técnico a distância, por meio dos chamados APLs (Arranjos Produtivos Locais), espalhados por todo o território brasileiro. Entre os hoje ativos, podemos citar pelo menos dez que apresentam características de nível internacional: Blumenau/SC, Campinas/SP, Campina Grande/PB, Recife/PE, Ilheus/BA, Salvador/BA, Manaus/AM, Curitiba/PR, Porto Alegre/RS e Santa Rita do Sapucaí/MG. Em todos eles, fatores relacionados a infra-estrutura, saneamento, telecomunicações e qualidade de vida apresentam excelentes indicadores. Tais arranjos congregam, de maneira bastante ativa, a presença de mecanismos promotores do espírito empreendedor e flexibilidade cultural, que, por sua vez, são fortemente influenciados pelas infra-estruturas de apoio locais, bem como pelo desenvolvimento em ensino e pesquisa.
       Assim, sem tirar os méritos da China e da Índia, devemos incluir o Brasil entre os principais pólos de tecnologia da informação e comunicação, que apresenta vantagens competitivas em formação técnica, flexibilidade cultural, capacitação gerencial, orientação a processos e domínio do espanhol e do inglês, além das principais características do brasileiro, que são a inovação, a criatividade e a ousadia.
       Portanto, não foi por acaso que Pedro Álvares Cabral desviou a rota das suas naus do caminho para as Índias e aportou no Brasil.


Jairo Martins da Silva é engenheiro eletrônico pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), foi vice-presidente de Tecnologia da Informação e Comunicação da Siemens, no Brasil e na Alemanha, e é atualmente professor do Curso de Tecnologia de Bebidas, com ênfase em Cachaça, na Universidade Anhembi Morumbi

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