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Entrevista – Batalha tecnológica do pré-sal será vencida

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Rita Casaro


A notícia é dada em entrevista ao Jornal do Engenheiro pelo geólogo Juarez Fontana, coordenador do curso de Engenharia de Petróleo e Gás da Unimonte (Universidade Monte Serrat), localizada na cidade de Santos, um dos centros de exploração da Petrobras. Segundo ele, a empresa, pioneira na atuação em águas ultraprofundas, vem vencendo os inúmeros desafios tecnológicos representados pela camada do pré-sal, cujas reservas de petróleo podem elevar o estoque nacional significativamente, colocando o Brasil entre os principais produtores do mundo. Com isso, em 2020, o País já terá escala regular e crescente.


Quais as perspectivas de se ter produção do petróleo do pré-sal?

Até o final da década, já deveremos ter campos produzindo em escala comercial regular e, a partir daí, a curva começa a crescer significativamente. A primeira fase, que é de exploração e de identificação de reservas, está em estágio bastante avançado.


A batalha tecnológica, portanto, já foi vencida?

Hoje, os grandes desafios do futuro seriam mais econômicos que tecnológicos. A tendência na virada da década é qual seria o patamar de exportação de petróleo que o Brasil teria que alcançar, porque a autossuficiência certamente terá sido atingida. É claro que isso tem um elemento de inconstância que é dado pelo valor do petróleo no mercado internacional. Temos um custo de produção muito elevado. Esse é um segredo a sete chaves, mas eu diria que deve ficar entre US$ 25 e US$ 30 por barril. No Oriente Médio, é de US$ 2,5. Se o preço de venda cair a US$ 40, a Arábia Saudita continua no mercado. E nós? Esse é o risco calculado, porque existem projeções. Provavelmente, até o fim da década, o preço vai ascender progressivamente acima de US$ 100.


Apesar desses riscos, o pré-sal traz uma oportunidade real ao Brasil nesse mercado?

Estamos apostando numa realidade. Em tese, o que se pode projetar é que a humanidade ficará por várias décadas dependente dos hidrocarbonetos. No final do século, provavelmente teremos alternativas, mas ainda assim haverá a economia do petróleo. Isso é uma segurança para o fornecedor que está entrando no mercado. Que espaço será esse? Existe, por exemplo, uma condição geopolítica complicadíssima no Oriente Médio. Alguns países prefeririam fazer contratos de longo prazo, pagando até um bônus, contanto que tivessem tranquilidade. É uma oportunidade ao Brasil. O País será um importante exportador de petróleo e, claro, os benefícios se reverterão à sociedade.


Como fica o aspecto ambiental, já que as reservas ampliarão o consumo de um combustível poluente?

É uma questão de ponto de vista e temos que ser pragmáticos. Vamos deixar de vender petróleo? Isso não tem sentido. Vamos cuidar na nossa casa, reduzir o consumo interno. A questão mais crítica não diz respeito ao consumo, mas à prevenção de acidentes e à prontidão em situações em que eles ocorram. Nosso risco é alto e tende a crescer, porque tudo vai demandar conexões com petroleiros que vão fazer o desabastecimento das plataformas. Temos que estar preventivamente preparados para minimizar os riscos e em prontidão para atuar em caso de acidentes. Como profissional, eu me preocupo com isso, porque não vejo estrutura que se prepare, no mesmo ritmo da produção, para a prevenção e a prontidão.


No que diz respeito à mão de obra, o Brasil está preparado?

Infelizmente, não. Houve uma série de circunstâncias históricas que levaram ao que estamos chamando de o “apagão da engenharia”. Até o final da década de 1970, houve grandes projetos e depois tivemos um período em que as empresas de engenharia foram desestruturadas. Agora temos novamente demanda, mas o setor está desorganizado. Nós passamos por um período de mais de 50 anos de monopólio pela Petrobras, que era a única empresa que tinha condições de operar. A providência que ela tomou foi equipar para formar o seu corpo técnico. Não sobrou espaço para as universidades oferecerem cursos, porque não tinha sentido para fazer concurso na Petrobras. Quando mudou a lei, chegaram todas as petroleiras ao Brasil procurando engenheiros. Houve aumento de 37% na importação de mão de obra no setor. Os cursos ainda estão em amadurecimento. E com uma dificuldade: quem são os professores que atuarão? Existe uma perspectiva fantástica para aplicação dos profissionais afetos à área, engenheiros particularmente de todas as modalidades. Mas é preciso ter uma formação focada, eleger o setor como o de preferência de atuação.


Quais foram as dificuldades encontradas para se chegar ao pré-sal?

Dou um exemplo. O petróleo produzido no pré-sal vem com alto nível de aquecimento por causa do grau geotérmico, que beira os 200 graus centígrados. Porém, quando chega ao fundo do mar, está a zero ou abaixo disso. Se esse choque térmico não for minimizado através de um processo tecnológico, leva à deposição imediata da parafina nos risers, que são a tubulação de ascensão. Com isso, imediatamente perderia vazão, reduzindo o fluxo. A Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), em parceria com a Petrobras, teve que desenvolver uma cerâmica refratária flexível que é encapsulada nos risers para evitar o choque térmico. Se não houvesse esse avanço, que tem a ver com engenharia de materiais, aparentemente não relacionada a petróleo e gás, poderia impedir-se que houvesse a efetiva exploração de petróleo numa profundidade como essa. Existem milhares de exemplos correlatos a esse.

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