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Sustentabilidade, pré-sal e energias alternativas dominam II EcoSP

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       Em sua segunda versão na Capital, o II EcoSP (Encontro de Meio Ambiente de São Paulo) realizou-se de 5 a 7 de novembro no Novotel São Paulo Center Norte. Promovido pelo SEESP e pela FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), reuniu mais de mil participantes nos três dias, incluindo diversas autoridades.
       Além de discutir boas práticas com vistas à preservação do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, uma das questões prementes na atualidade e de grande interesse nacional esteve na pauta: a nova fronteira de exploração do petróleo no Brasil, com as reservas encontradas na camada do pré-sal. Esse foi o tema da palestra do professor do IEE/USP (Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo), Ildo Luís Sauer, que foi taxativo: diante do novo cenário, que pode tornar o País uma nova Arábia Saudita, a se confirmarem os 350 milhões de barris potenciais da Bacia de Santos, é preciso rever as regras para a exploração do combustível fóssil em território nacional. O objetivo seria garantir a apropriação dessa riqueza pelo povo brasileiro e não pelas empresas estrangeiras que aqui atuam. Segundo Sauer, tendo em vista que a Petrobras já confirmou a existência do gás e do óleo, assim como a sua qualidade, após investimentos de R$ 250 milhões, não há sentido em premiar as companhias que simplesmente retirariam o petróleo.
        Na sua opinião, as questões cruciais agora são delimitar a área em que está o petróleo, ter conhecimento do volume real existente e garantir eficiência industrial. Para tanto, ele propõe o fim da licitação de blocos para exploração, a operação liderada pela Petrobras e a criação do fundo constitucional do futuro do Brasil. “Se tivermos 350 milhões de barris, são US$ 300 milhões por dia, não podemos hipotecar isso”, concluiu.
       Se por um lado o petróleo é estratégico e tem que ser nosso, por outro, é crucial pensar em fontes alternativas de energia. “Precisamos de outras referências”, defendeu o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP), acrescentando que o maior desafio da humanidade hoje é a alteração das condições climáticas para evitar o aumento do aquecimento global.

Novas fontes
       O Brasil, elogiou o parlamentar, tem contribuído para o debate sobre as energias alternativas. “Em 1992, o mundo se reuniu na Rio-92. E evoluímos de uma posição ecológica que achava que deveria se manter a natureza intocada para o conceito atual de sustentabilidade.” Ele observou que a energia fotovoltaica, a solar, tende a ter um papel crescente na matriz nacional de energia elétrica. “Aqui em São Paulo os conjuntos habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) já estão sendo construídos com aquecedor solar.” Incremento na sua utilização é a expectativa de Rodolf Daniels, da Escola Argos, que defendeu seu uso para garantir a empregabilidade e a inclusão social dos brasileiros.
        Jardim propugnou também o uso da energia eólica. “Temos duas regiões bem favoráveis para esse tipo de energia: o Nordeste, principalmente os estados mais em direção ao mar, como Rio Grande do Norte e Sergipe; e o Sul.” O parlamentar disse ainda que está revendo sua posição, antes contrária, quanto à utilização da energia nuclear. Ele lembrou que, quando se fala no assunto, lembra-se de Chernobyl, na Rússia. “Mas foi uma coisa muito localizada e houve uma sucessão de irresponsabilidades na execução do projeto”, observou, apresentando os índices de países como a França e a Alemanha que, respectivamente, utilizam 28% e 65% da energia nuclear. “Ela é limpa. Há decisão do governo (brasileiro) de ampliar sua utilização.” O único “porém” a essa alternativa é o seu resíduo final, que ainda está sem solução. “É um desafio enorme seu armazenamento”, reconheceu, para em seguida apontar uma luz no fim do túnel: “Há pesquisas que indicam sua reutilização plena.”
       Na seara das energias alternativas, ao transporte público, o que está em teste na cidade de São Paulo é o ônibus movido a células de hidrogênio, com emissão zero de poluentes. Quem informou foi o gerente de Desenvolvimento da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), Carlos Zundt. O projeto está sendo desenvolvido com recursos vindos do exterior, do Ministério de Minas e Energia e da própria EMTU. Zundt explicou que, no final da década de 90, o Banco Mundial escolheu o município de São Paulo, porque abriga a maior frota de ônibus do mundo, para integrar um projeto em que tais veículos seriam movidos a hidrogênio, juntamente com mais oito cidades de outros países (México, Portugal, Alemanha, África do Sul, Índia). O experimento é desenvolvido em parceria com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o GEF (Global Environmental Facility) e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Já foram investidos no projeto, entre recursos de governos, da iniciativa privada e do Banco Mundial, cerca de R$ 38 milhões. Segundo Zundt, o Brasil trabalha para se tornar um grande produtor e exportador desse tipo de ônibus. “Estamos obtendo conhecimento tecnológico, quebrando o paradigma de que país de terceiro mundo não tem pesquisa científica e desenvolvimento de tecnologia. Podemos comprar lá fora todos os outros componentes, mas o sistema de gerenciamento de energia é nosso. Essa tecnologia foi desenvolvida pelo Brasil”, orgulha-se.
       Contudo, o grande vilão nesse segmento não é o transporte coletivo, mas o individual, principalmente as motocicletas. “Elas poluem 35 vezes mais que um ônibus”, confirmou Laurindo Martins Junqueira Filho, superintendente de planejamento estratégico de transportes da SPTrans (São Paulo Transporte). Em São Paulo, em razão dos grandes congestionamentos, o ônibus, que é projetado para desenvolver 70 quilômetros por hora, perfaz apenas de dois a 12 quilômetros em média. Para reverter esse quadro, de acordo com Junqueira, está sendo discutido entre as três esferas de governo (municipal, estadual e federal) um plano de desenvolvimento, que inclui entre as metas aumentar a mobilidade e acessibilidade ao território; privilegiar o coletivo sobre o individual; estimular as ligações anelares; e oferecer malhas alternativas de circulação.

Recursos hídricos e empresas
        A importância de se adotarem medidas que preservem as águas superficiais e subterrâneas também não ficou de fora no II EcoSP. A engenheira Lourdes Cristina Pena Peloggia, da Quimbiol, apontou que o controle e a fiscalização de aqüíferos ainda são deficitários. Sua colega Martha Faria Bernils Maganha, da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), apresentou o conceito “P+L” (produção mais limpa) e destacou que devem ser adotadas medidas urgentes, como eliminação do desperdício, redução do consumo de água e na geração de efluentes. O superintendente do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), Ubirajara Tannuri Felix, deu a receita para se garantir água e ar saudáveis: bons projetos, legislação adequada e trabalhar numa maior fiscalização e na conscientização.
       Fazer a lição de casa é papel tanto do poder público quanto da iniciativa privada. Como parte desse último grupo, empresas apresentaram no II EcoSP as tecnologias e projetos para minimizar os impactos ambientais decorrentes de suas atividades. De um universo pesquisado de 527 das maiores indústrias, solução para os resíduos sólidos é buscada por 75%. O dado corresponde a uma pesquisa da Revista Análise e foi apresentado por Diógenes Del Bel, presidente da Abetre (Associação Brasileira das Empresas de Tratamento de Resíduos). Para ele, o grande objetivo é conter os passivos, os quais exigiram gasto em correção no ano de 2005 da ordem de R$ 400 milhões. Uma forma de evitá-los, ensinou, é promover a gestão ambiental. Modelo de gerenciamento total denominado TWM foi abordado por Antonio Otavio Neves Januzzi, gerente de tecnologias da Cavo Serviços e Meio Ambiente.
       Nesse sentido, Del Bel apontou que tem crescido o número de aterros privados para esses resíduos no País. “Estão atendendo quase 100 municípios e uma população aproximada de 24 milhões de habitantes. Eram cinco unidades em 1997, dez anos depois passaram a 25 em operação, que estão recebendo cerca de 20 mil toneladas por dia. São em torno de 100 lixões extintos no Estado.”
       Ainda no âmbito das boas práticas empresariais, foi apresentada a primeira dragagem com controle ambiental no canal de Piaçagüera, na região da Baixada Santista. Tal projeto, com o objetivo de restabelecer a navegabilidade no local, vem sendo executado em etapas pela Fosfertil e pela Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista). Esse foi o tema da preleção do superintendente de meio ambiente dessa última empresa, Ricardo Salgado e Silva.
        Uma das grandes preocupações da atualidade, a gestão ambiental em empreendimentos hidrelétricos foi outro tema abordado do II EcoSP. Fernando Celso Sedeh Padilha, da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), destacou que a única garantia de redução de impactos ao empreendedor é um estudo do processo bem feito. E que, no planejamento econômico e técnico da obra, é preciso incorporar as questões socioambientais. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo) também está preocupada com a gestão ambiental, como explanou o superintendente do departamento responsável por essa área, Wanderley da Silva Paganini.
       No setor agrícola, os engenheiros Gabriela Burian e Eugênio César Ullian, da Monsanto, abordaram o que essa empresa vem fazendo para garantir sustentabilidade em sua atividade. Burian salientou que é compromisso da Monsanto até 2030 aumentar a produtividade sem incrementar a utilização de recursos naturais e com redução do uso de insumos.
       Não obstante essas ações sejam importantes, para a especialista em psicologia ambiental, Eda Terezinha de Oliveira Tassara, professora da USP (Universidade de São Paulo), não há como enfrentar a problemática ambiental sem entender os processos psicossociais de expansão do consumo global e intervir tanto no nível do consciente quanto do imaginário das pessoas.


Soraya Misleh -  
Colaboraram Rita Casaro e Rosângela Gil

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