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Evento discute impactos da crise global no agronegócio brasileiro

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       Numa situação mais vantajosa em relação a países centrais, o Brasil pode sair dessa crise muito mais fortalecido. No agronegócio, responsável por 1/4 do PIB (Produto Interno Bruto) e por 1/3 dos empregos nacionais, pode assumir importante protagonismo mundial, a depender das estratégias que adote. A conclusão foi apresentada por Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, que hoje preside o Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), durante o seminário “A crise internacional e seu impacto na agropecuária e no agronegócio brasileiro”.
       Promovida pela Aeasp (Associação de Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo), com o apoio da FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) e do SEESP, a iniciativa foi realizada na sede desse sindicato, no dia 14 de maio.
        Estrela do evento, Rodrigues disse que, em função da situação favorável do País, está moderadamente otimista em relação ao momento. Menos vulnerável às turbulências externas, em setembro de 2008, quando a crise começou a ser sentida aqui, o Brasil mantinha reservas internacionais altas – em torno de US$ 200 bilhões. As vantagens comparativas, enfatizou ele, são excepcionais frente a outros países. Quanto à elevada taxa de juros, como complementou Rodrigues, “temos a chance de diminuí-la e, com isso, ajudar no combate à crise”. Ele acrescentou: “A condição é interessante, inclusive ao agronegócio.”
      Não significa que o segmento não tenha sentido o abalo. Tendo abarcado praticamente 30% do total de investimentos estrangeiros diretos em 2008, enfrentou dificuldades quando os recursos escassearam. “Em especial o setor sucroalcooleiro, que recebeu injeção de recursos, foi perturbado pela crise.” Diretor executivo da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), Eduardo Leão Sousa ressaltou: “Seguramente essa foi uma das atividades que mais vinha investindo no País, principalmente nos últimos quatro anos.” No período, conforme sua fala, foram aplicados cerca de US$ 20 bilhões em novas unidades produtivas, por fontes bastante heterogêneas. “A janela de oportunidades gerou um ganho de competitividade que não deve ocorrer neste ano. O setor foi pego por falta de liquidez.” Como ressaltou Rodrigues, a ausência de crédito foi um problema central; afetou as empresas que trabalham com exportação e, na ponta da cadeia, o agricultor, a quem foi repassado o prejuízo.
       Diretor-geral do Icone (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais), André Nassar apontou que a desaceleração global propiciada pela crise comprometeu a venda de produtos agrícolas aos destinos internacionais. “Pela primeira vez desde 1980, o PIB (Produto Interno Bruto) mundial deve ficar negativo.” O salto na exportação à Europa, por exemplo, não deve se repetir neste ano. “A crise mundial deve segurar a trajetória de expansão.”

Volatilidade
       A queda nas bolsas de valores – de mais de 50% no valor das ações, segundo Rodrigues – também teve impacto sobre o agronegócio, uma vez que as commodities agrícolas são negociadas nesses espaços. Sobre a ação dos chamados fundos de hedges, Ivan Wedekin, diretor de commodities da BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros), salientou: “A volatilidade está ligada aos fundamentos do mercado em que atuam os especuladores, que através de operações nos mercados futuros reforçam tendências.” Consequentemente, segmentos em que a influência dessas movimentações na composição de preços é elevada, como o de grãos, foram afetados de forma mais intensa pela turbulência. “O Banco Central estima a perda de US$ 30 bilhões em operações chamadas derivativos de balcão.” Entre os derivativos agropecuários estariam café, boi, soja e milho.
        Os bancos fecharam as torneiras aos investimentos, o que comprometeu seriamente o agronegócio brasileiro, dado o custo elevado da produção. “Plantamos uma safra de grãos no ano passado muito mais cara do que o normal, porque os insumos dobraram de valor. Tivemos que usar mais recursos próprios ou pouca tecnologia, o que levou a nova dificuldade. Esse era o cenário em outubro e novembro de 2008”, explicitou Rodrigues. Como resultado, disse ele, a produtividade caiu. “Estamos colhendo uma safra um pouco menor e a área plantada também diminuiu.” A salvação tem sido, ainda de acordo com o expositor, a valorização do dólar, “que nos deu uma chance positiva”. Passados mais de seis meses do início da crise, a possibilidade de que volte a haver crédito abre oportunidade ao agronegócio brasileiro. “O sistema financeiro já começa a apostar no setor, uma absoluta diferença em relação aos países desenvolvidos.”

Vantagens competitivas
        Isso não bastaria caso a Nação não tivesse condições competitivas. Enquanto nos destinos eminentemente agrícolas a participação maior é dentro da porteira (do plantio à colheita), o Brasil encontra-se numa situação mais avançada. Na composição do PIB (Produto Interno Bruto) do setor, o processo final (depois da porteira) representa 65%, ante 29% do intermediário (dentro) e 6% do inicial (antes da porteira, que seriam insumos e serviços). O que mais pesa é a armazenagem, industrialização, embalagem e distribuição interna e externa. Portanto, concluiu Rodrigues, o agronegócio brasileiro já se situa no patamar de país desenvolvido. Responde por 36% do que o País comercializa no mercado externo – o que totalizou US$ 71 bilhões em 2008.
      A redução da área plantada em função da crise não é dramática. Conforme sua preleção, esta cresceu, nos últimos 20 anos, 26% e a produção aumentou 136%. “Nenhum país fez essa revolução, é um espetáculo. Mostra que a tecnologia levou a produtividade agrícola por hectare extraordinária. Isso do ponto de vista da sustentabilidade é muito interessante. Se não tivéssemos investido em tecnologia, precisaríamos ter 2,5 vezes a área plantada atual”, destacou o ex-ministro.
      Outra vantagem do Brasil é a capacidade de produzir combustível a partir do álcool da cana--de-açúcar – setor que, como elucidou o diretor--geral da Unica, não passou ileso pela crise, mas mantém seus fundamentos sólidos e tem perspectivas promissoras. “No futuro, o petróleo não terá condição de atender a demanda mundial por energia, pelo menos a preços compatíveis com a renda dos países em desenvolvimento”, observou Rodrigues. Assim, surge no globo uma grande área de pesquisa em termos de energia renovável. E o País está de alguma forma à frente desse processo, complementou o ex-ministro. Com espaço para ampliar a produção, pode conquistar papel destacado na geopolítica mundial. “Tem 72 milhões de hectares cultivados, dos quais pouco menos de 8 milhões com cana, ou seja, 11% da área agricultável, metade para produção de açúcar.” Além disso, tem cerca de 200 milhões para pastagens, 172 milhões cultivados e o restante passível de ser transformado em agricultura, sendo que 21 milhões podem ser usados para plantar cana. Com recursos naturais abundantes, para ele, a Nação tem condição de liderar um programa mundial de energia. “Nossa competitividade é excepcional e se o Brasil investir, poderá ocupar mercados definitivos.”
       Mas não basta a natureza ser pródiga. É preciso que o agricultor faça sua parte. “Tem que ser um bom gestor e se organizar.” É crucial ainda articulação política, propaganda das potencialidades nacionais e a busca de acordo com os ambientalistas, ponderou Rodrigues. Além disso, mão de obra qualificada e inversão em ciência e tecnologia são importantes no processo. Inserido nesse contexto, o engenheiro agrônomo, como concluiu Arlei Arnaldo Madeira, presidente da Aeasp, pode contribuir sobremaneira para a superação da crise.
      Para o SEESP, sair fortalecido da turbulência passa pela continuidade dos investimentos em prol do desenvolvimento nacional sustentável e com inclusão social, como propugna o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – lançado pela FNE em 2006 e que conta com a adesão das entidades a ela filiadas, entre as quais o sindicato da categoria no Estado de São Paulo.


Soraya Misleh

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