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Indústria nacional precisa de doutores

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       Aumentar a competitividade das empresas e, por consequência, o crescimento econômico do País é um desafio que depende fortemente da inovação tecnológica. Essa, por sua vez, demanda mão de obra altamente qualificada e pronta a atuar no setor produtivo.
        A dificuldade, conforme diagnosticou o manifesto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, lançado pela FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) em 2006, é que o Brasil forma apenas cerca de 10 mil doutores por ano, que, em sua grande maioria, dedicam-se à vida acadêmica. “São 4,4 doutores para cada 100 mil habitantes e 80% deles ficam nas universidades. O ideal é que esse número fosse no mínimo três vezes maior, principalmente nas áreas da engenharia, que titulam apenas 10% do total”, afirma o vice-diretor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador do Conselho Tecnológico Estadual do SEESP, José Roberto Cardoso. Para se ter uma ideia, ilustra ele, nos Estados Unidos, a proporção é de 25,7 para cada 100 mil e 75% desse contingente vai para a indústria.
       Na opinião do professor, entre os principais obstáculos à mudança da situação brasileira está a formação estritamente acadêmica. “A solução é criar uma nova pós-graduação direcionada à indústria. Assim, manteríamos a especialização atual focada na academia, que é de sucesso, mas teríamos uma segunda opção”, pondera. Conforme ele, o ideal é que, nesse novo modelo, cada tese desenvolvida fosse vinculada a uma aplicação industrial e que a empresa participasse do trabalho para garantir que a inovação fosse de fato transferida ao setor produtivo. “A academia produz ótimos trabalhos, que colocaram o Brasil em posição de destaque na comunidade científica, como é o caso dos biocombustíveis, mas poucos são revertidos em desenvolvimento nacional”, analisa.
       Para João Sergio Cordeiro, professor adjunto da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e presidente da Abenge (Associação Brasileira de Ensino de Engenharia), o principal gargalo para a ampliação do quadro de doutores nas companhias é a visão do empresário. “É uma questão cultural, eles consideram gasto e não investimento os anos que o doutor dedica a P&D”, afirma. Por outro lado, destaca ele, as empresas que apoiam a capacitação do profissional nesse nível têm um diferencial muito grande e com certeza competem de igual para igual com os países desenvolvidos.
        Seguindo o mesmo raciocínio, o engenheiro químico Gerhard Ett, diretor da Eletrocell, acredita que para se distinguir no mercado é preciso investir em alta tecnologia juntamente com recursos humanos. “O doutor dispõe de amplo conhecimento e ferramentas primordiais para desenvolver inovação não só de trabalhos futuros, mas também em aplicações imediatas que garantam melhorias no produto já existente.” Ett conta que a contratação de doutores na Eletrocell acelerou o desenvolvimento dos produtos, aumentando a qualidade e reduzindo o custo.
       Conforme Cordeiro, algumas empresas brasileiras que necessitam de alta tecnologia e desenvolveram seus próprios centros de pesquisa intensiva, investindo também na formação, caso da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) e da Petrobras, estão num patamar de desenvolvimento muito elevado em relação à indústria internacional. Como nem todas dispõem de recursos para tamanho investimento, uma saída seria a parceria com as escolas, como propõe o “Cresce Brasil”. Outra solução seria criar um programa de Estado que incentivasse a educação continuada, aponta Cordeiro.


Lucélia Barbosa

 

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