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Memória – Trilhos no Anhangabaú revelam história dos transportes na cidade

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Desde julho, quem passa pelo Vale do Anhangabaú, altura do cruzamento com a Avenida São João, centro da Capital, se depara com uma área coberta por tapumes. Eles escondem um tesouro arqueológico encontrado durante as obras de revitalização da região: trilhos dos bondes elétricos soterrados por camadas de areia, asfalto e pedras portuguesas.

 

O transporte coletivo da cidade na passagem do século XIX para o XX se desenvolveu com tamanha rapidez que mal houve tempo de registrá-lo em mapa, quando lampiões a gás deram lugar aos postes da canadense Light and Power, que também levou eletricidade aos bondes que antes funcionavam com tração animal, desde 1872.

 

Em 1900, foi inaugurada a primeira linha, entre Barra Funda e Santa Efigênia. No auge, a circulação ia desde os altos da Igreja da Penha, estendia-se por toda a região central e de planalto, como Mooca, Pacaembu, Santana, até a antiga Avenida Santo Amaro, atual Vereador José Diniz. No mundo, o bonde nasceu em 1831, em Nova York, nos Estados Unidos. O Brasil os trazia de lá e adaptava – foi o segundo país a adotá-lo como transporte público, no Rio de Janeiro. Um dos mais populares foi o bonde camarão, por sua cor vermelha, que já possuía portas e janelas fechadas para controlar a entrada de passageiros, com cobrança na saída. Existiam pelo menos 75 unidades desse tipo em circulação nos anos 1940, fazendo trajetos como Praça da Sé ao Largo 13 de Maio.

 

Antes dele, circulou um modelo aberto nas laterais e nas duas cabines (nas extremidades), onde ficava o motorneiro, como era chamado o motorista de bonde. Como o carro só andava em linha reta, ao chegar ao final da linha, os bancos eram virados para o lado contrário e o motorneiro ia para a outra ponta do veículo para fazer o caminho de volta. Nessa época, muitos ficaram doentes, ou mesmo morreram com tuberculose, por ficarem expostos ao mau tempo, mesmo usando um resistente uniforme. Nas laterais, ficavam os estribos, piso estreito onde o condutor, nome do cobrador de bonde, transitava para cobrar as passagens, que podiam ser pagas em dinheiro ou já em bilhetes. Aliás, o nome bonde vem dos bilhetes vendidos originalmente nos EUA com a palavra bond impresso, que significava título de dívida, mantida nos bilhetes quando começaram a circular no Rio e em São Paulo.

 

 

Preservação da história

São Paulo foi a 11º cidade no mundo a tê-los circulando pelas ruas e chegou a ter uma rede com cerca de 700km de trilhos, tornando-se o principal meio de transporte. De acordo com Henrique Di Santoro Júnior, administrador do Museu dos Transportes Públicos Gaetano Ferolla, muito pouco foi retirado do chão. Cobrir com asfalto era mais prático e barato. “Não existe um mapa dessa rede. Somente informações parciais como as do livro ‘História dos Transportes Coletivos em São Paulo’”, revelou ele, que é diretor do SEESP.

 

Santoro se refere à publicação que reúne as linhas implantadas, com trechos e extensões de cada uma, do pesquisador Waldemar Correa Stiel, uma das principais fontes até hoje sobre o tema. Stiel morreu aos 90 anos, em 2011, e até o final da vida visitou semanalmente o museu, onde foram gestadas, no auditório, ideias como o Bilhete Único, o Expresso Tiradentes, o monotrilho e as ciclovias.

 

Outro personagem importante, que dá nome ao lugar, trabalhou na Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC). Desde que os bondes saíram de circulação, em 1968, Ferolla guardou e restaurou móveis, objetos e os carros no mesmo espaço, que era da CMTC, posteriormente adaptado para receber o museu. “À medida que iam sendo extintos, os bondes eram desmanchados. Suas peças eram retiradas e serviam para os novos meios de transportes. O Gaetano Ferolla teve a visão de guardar essa parte da história”, contou Santoro.

 

Ao falar da recente descoberta, seu olhar vai longe: “Se for realizada uma arqueologia urbana séria, o que levará um tempo, vão encontrar pequenas subestações de energia de alimentação da rede, porque naquela parte em especial era bem extensa, eram ramais que se formavam, subindo e descendo ladeiras, até chegar ao Anhangabaú.”

 

Ele lembra que esse tipo de transporte funciona em cidades europeias como Viena e Praga. “Só nós que tivemos a infelicidade de extinguir prematuramente os bondes. Quem sabe, agora com essa descoberta, se pense na ideia de ter trechos em circulação”, sugeriu.

 

A partir do início dos anos 1950 a cidade recebeu os primeiros ônibus elétricos, importados, bem como algumas unidades a gasolina, chegando a andar simultaneamente com os bondes. A decisão de retirá-los foi do prefeito da época, Faria Lima.

 

 

Para visitar

Museus dos Transportes Públicos Gaetano Ferolla

Av. Cruzeiro do Sul, 780 – Canindé – SP

Entrada gratuita, de terça a domingo, das 9h às 17h. Agendamento de
visitas monitoradas para escolas pelo telefone (11) 3315-8884.

 

 

 

 

Por Deborah Moreira

 

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