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OPINIÃO - As origens da crise no mundo árabe

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Mohamed Habib

        É bem provável que a socie­dade brasileira imagine que os árabes sejam governados por tiranos e dita­dores por serem ignorantes e selva­gens, sem o mínimo preparo à democracia. Em parte, pode até ser verdade. Após séculos de glória, esses povos caíram em desgraça, sob domínio sucessivo de impérios diversos. Primeiro foi o turco-otomano, em especial na sua fase final. Em seguida, vieram os britânicos. E, agora, vivem sob o jugo norte-americano.

        A fase mais crítica na história teve início na iminência da Primeira Guerra Mundial, quando os ingleses prometeram independência em troca de apoio contra os turco-otomanos. Os aliados conseguiram tal respaldo e venceram, mas não honraram o acordo. Em vez disso, o mundo árabe foi ocupado militarmente por ingleses e franceses. Havia três fortes motivos para a colonização: a localização geográfica, incluindo a do Canal de Suez, como via marítima importantíssima para os navios mercantis e de guerra navegarem entre o Ocidente e o Oriente; o petróleo, essencial para sustentar toda a era tecnológica e industrial dos países centrais; e o projeto de criação do Estado de Israel na Palestina, aceito pelos ingleses a partir da Declaração Balfour em 1917.

        Essa agenda estratégica para os países centrais foi trabalhada com bastante eficácia por meio de departamentos e órgãos criados especificamente para tal. Por exemplo, em 1956 o Egito foi invadido como resposta à nacionalização do Canal de Suez pelo então presidente Gamal Abdel Nasser, após 98 anos de exclusiva exploração binacional inglesa e francesa. Vale ainda lembrar o mapa dos países do Golfo, criado pelos aliados e aprovado pela Liga das Nações, a invasão do Iraque em 2003 e a presença das bases militares dos Estados Unidos na região até a presente data, atos motivados pelo interesse em controlar as reservas de petróleo da região. Por fim, a criação de Israel foi possível a partir da aprovação pela Liga das Nações da colonização da Palestina pelos ingleses até 1948, quando esses se retiraram deixando a população local à mercê do processo de expulsão e massacres pelas forças armadas do país recém-criado.

        As forças imperialistas sempre entenderam que os seus interesses no Oriente Médio só poderiam ser assegurados a partir de regimes tiranos e não democráticos. Com o apoio dos serviços de inteligência de todos os países interessados, dentro e fora do mundo árabe, o ditador Hosni Mubarak, por exemplo, foi capaz de ocupar o poder no Egito por 30 anos, até que foi obrigado a renunciar em 11 de fevereiro último. Muammar Gaddafi mantém-se na Líbia há 42 anos. Na Tunísia, Ben Ali per­maneceu por 24 anos. Ali Abdullah Saleh governa o Iêmen há 32 anos e ainda luta para continuar no cargo.

        A situação atual e as perspectivas no Oriente Médio, o significado para o Oci­dente e como esses dois blocos devem inte­ragir no presente e no futuro serão analisados num próximo artigo.

 

Mohamed Habib é engenheiro agrônomo, vice-presidente do Instituto da Cultura Árabe e
pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)

 

 

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