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COMUNICAÇÕES - Regulamentar para democratizar

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Rita Casaro

        A necessidade de estabelecer regras de participação e controle social no setor de comunicações no Brasil foi colocada em pauta durante debate promovido em 11 de janeiro pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, na sede do Sindicato dos Jornalistas, na Capital.
        A atividade contou com a participação do presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann, que apresentou o trabalho “Panorama brasileiro da comunicação e das telecomunicações” – lançado no mesmo dia por essa fundação pública e pela SociCom (Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação) –, do jurista Fábio Konder Comparato e do jornalista Paulo Henrique Amorim.
         “Estamos diante de duas estradas a percorrer”, pontuou este último. “A primeira é lutar pela lei de meios, a qual tenho medo que tenha o mesmo destino que as quatro propostas de Fernando Henrique Cardoso: a cesta de lixo”, afirmou, ao defender a instituição do marco regulatório que havia sido anunciado no apagar das luzes do Governo Lula pelo ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins. Para justificar o receio, o jornalista criticou as recentes entrevistas dadas pelo atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, nas quais esse aparentou recuar na proposta diante das críticas dos veículos. “Bernardo está com medo da Globo”, resumiu.
        A segunda frente nessa batalha, defendeu Amorim, é fazer pressão para que o STF (Supremo Tribunal Federal) julgue as ADOs (Ações Diretas por Omissão) que visam obrigar o Congresso a regulamentar os capítulos da Constituição que dizem respeito à comunicação. “Para tanto, o primeiro passo é que a AGU (Advocacia-Geral da União) dê um parecer favorável às ações”, apontou.
        Tais medidas, de autoria de Fábio Comparato, visam regulamentar o artigo 5º da Carta Magna, em seu parágrafo 5º, que trata do direito de resposta, eliminado da legislação brasileira juntamente com a Lei de Imprensa, considerada inconstitucional pelo STF. Também o artigo 220, nos parágrafos 3º, inciso II, e 5º, que dizem respeito ao direito de defesa de programação ofensiva à pessoa ou publicidade de produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente. Por fim, o artigo 221, que trata dos princípios que o conteúdo veiculado em rádio e TV deve atender, como por exemplo dar preferência a finalidades educativas, artísticas e culturais e promover a cultura nacional e regional, estimulando a produção independente. “Tais dispositivos sem regulamentação são nada”, sentenciou o jurista.
         Fazer valer tais regras, que hoje são meras intenções, é fundamental, lembrou ele, para “desprivatizar a comunicação social, que deve se desenvolver no espaço público”. Um das graves consequências à falta de regulamentação é o oligopólio observado dos veículos de comunicação, embora seja proibido pela Constituição. “No Brasil há quatro grandes conglomerados, supera os Estados Unidos, onde são cinco”, criticou.

Trabalho imaterial
        Esse cenário foi justamente um dos estímulos à pesquisa desenvolvida pelo Ipea, informou Pochmann. “Esses países baleias, de dimensões continentais, enormes população e mercado interno têm uma oportunidade singular do ponto de vista histórico”, salientou. No entanto, ponderou, tal potencial enfrenta dificuldades de se viabilizar devido à concentração no setor privado, notadamente nas comunicações, no qual há um processo de hipermonopolização. “Essas empresas são tão grandes que não podem quebrar, sob o risco de arrasar a economia, e o Estado passa a ser sócio nos empreendimentos.” Para ele, é preciso entender e mudar essa realidade para que as possibilidades abertas a nações como o Brasil, a partir da crise financeira internacional de 2008, sejam aproveitadas.
         A segunda motivação, informou, foi a transição na sustentação da economia do trabalho material para o imaterial. Há, conforme o presidente do Ipea, um processo de intensificação e extensão da jornada graças às novas tecnologias. “Levamos o trabalho para casa e ficamos conectados a ele 24 horas por dia. É o fim do descanso semanal remunerado. Isso vem ocorrendo de forma alienada, sem qualquer crítica.”

A pesquisa do Ipea
         De acordo com a divulgação feita pelo Ipea, o trabalho “Panorama brasileiro da comunicação e das telecomunicações”, publicado em três volumes, traça um quadro do setor considerado estratégico para o País. Foram reunidas diferentes dimensões que se complementam e ajudam na elaboração de futuras políticas públicas. O estudo conta com a participação de pesquisadores renomados da comunicação no Brasil, além de mestres e doutores selecionados por meio de chamada pública.

Acesse:
• Volume 1 – Colaborações para o debate sobre telecomunicações e comunicação: http://migreme.net/10g5
• Volume 2 – Memória das associações científicas e acadêmicas de comunicação no Brasil: http://migreme.net/10g7
• Volume 3 – Tendências na comunicação: http://migreme.net/10g6

 

 

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