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ENERGIA - Chegar ao pré-sal exigirá salto tecnológico

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       A grande discussão nacional hoje diz respeito a como se dará a exploração do petróleo na camada do pré-sal e como será distribuída essa riqueza. Enquanto isso, é preciso buscar meios de chegar efetivamente até essas reservas e garantir a sua extração, o que significa um enorme desafio à tecnologia nacional. De acordo com a área de Exploração e Produção da Petrobras, o plano de negócios vigente prevê investimentos da ordem de US$ 111,4 bilhões entre 2009 e 2020.
       Segundo a companhia, a experiência adquirida na Bacia de Campos durante 30 anos será a base da primeira fase de operação prevista para o período de 2010 a 2017. Os principais gargalos estão na recuperação do petróleo nos reservatórios, na engenharia de poços, na presença de CO2 nas rochas, no escoamento do óleo e na distância da costa.
       Para resolver esses obstáculos, o professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) e consultor do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” para C&T, Marco Aurélio Cabral Pinto, propõe que os projetos sejam desenvolvidos simultaneamente, o que exigirá um sistema de gestão eficiente. “A Petrobras tem plena condição de exercer esse papel de coordenadora, mas vamos precisar do estabelecimento de algo novo, um complexo petrolífero que reúna as pequenas e médias empresas brasileiras e atribua a elas desafios tecnológicos e gestão.”
       Ele explica que o problema é que os pacotes tecnológicos no Brasil são negociados de maneira ampla, quando o ideal é fazer projetos específicos, distribuídos por competências. Assim, a Petrobras teria a tarefa fundamental de repassar o conjunto de demandas às empresas nacionais e na transferência da tecnologia aos estrangeiros. “É preciso mobilizar todas as competências tecnológicas do País para garantirmos ao máximo a nossa participação nesse processo. Temos que escolher muito bem o que não vamos dar conta e de que maneira será negociada essa transferência”, alerta o professor da UFF.

Os nós a serem desatados
       Conforme o diretor do Cepetro (Centro de Estudos de Petróleo) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Osvair Trevisan, a perfuração dos poços é um dos problemas. “Atravessar essa longa camada de sal, cuja espessura chega a 2km, é bastante instável do ponto de vista mecânico e traz muita dificuldade para cavar. É uma operação delicada e pouco comum na indústria do petróleo.”
       Na área de reservatórios, existem problemas relacionados à caracterização interna. Formado por um tipo de rocha feita de carbonatos e sem precedentes nas operações da Petrobras, traz bastante dificuldade na recuperação do óleo. Na mesma região, o bom escoamento do petróleo é, também, mais um projeto a desenvolver. De acordo com o engenheiro e consultor Newton Reis Monteiro, devido ao conteúdo parafínico presente no óleo, a tendência é que se cristalizem e se incrustem nas paredes internas das tubulações, entupindo as vias de escoamento. Da mesma forma, o controle de hidratos, que são cristais congelados formados por água e gás, merece atenção especial, porque também compromete o fluxo.
       Há ainda a logística a ser planejada, já que sistemas de ancoragem e operação em poços ficarão a 300km da costa brasileira. Será necessário não só realizar o transporte do óleo e do gás, mas de materiais, equipamentos e equipes. “Precisamos desenvolver soluções engenhosas para a otimização dos projetos. O processo parece ser simples, mas exigirá muita engenharia”, menciona Trevisan.
       De acordo com a Petrobras, mais uma dificuldade é o alto teor de CO2 extraído juntamente com o óleo. Em contato com a água, o gás forma o ácido carbônico que se torna extremamente corrosivo, exigindo o desenvolvimento de equipamentos especiais mais resistentes. Além disso, há grande preocupação ambiental, pois, liberado no meio, o gás também contribuirá ao aumento do efeito estufa.
       Para superar tais obstáculos, a Petrobras trabalha em conjunto com universidades, empresas e entidades nacionais. Participante ativo desse grupo, o Cepetro desenvolve atualmente sete linhas de pesquisa voltadas à retirada do petróleo e à caracterização das rochas. “Ao invés de esperar que outros países façam o trabalho para depois nos vender, é melhor começarmos. Essa é uma grande oportunidade de colocar o Brasil na ponta do desenvolvimento de tecnologia”, opina Trevisan.
       Para Cabral Pinto, educar o povo brasileiro rapidamente é outra necessidade. “Essa formação tem que ser tecnológica, voltada aos desafios que temos pela frente”, enfatiza.
       Protagonista do desenvolvimento tecnológico, a engenharia brasileira demandará ainda mais novos profissionais. “Os alunos da graduação da Unicamp são contratados antes mesmo de se formarem. Com tanto trabalho, a busca por engenheiros continuará no mínimo pelos próximos dez anos”, estima Trevisan.


Lucélia Barbosa

 

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