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10/07/2012

Descompasso na graduação

O aumento de brasileiros com título de bacharel não coloca o país em uma posição vantajosa quando se trata de contratar profissionais. Muito pelo contrário. Áreas como engenharia e tecnologia da informação mostram que o número de graduados que saem das instituições de ensino superior do país não consegue atender à demanda do mercado de trabalho. E o problema não se restringe à quantidade: no caso de contabilidade e administração, por exemplo, a qualidade das novas levas de graduados preocupa os empregadores, que têm pressa para contratar (leia Saiba mais).

De acordo com dados do Censo do Ensino Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 5.449.120 de brasileiros estavam matriculados nas universidades em 2010. Para o doutor em administração e pesquisador da Fundação Instituto de Administração (FIA) Carlos Honorato, ainda é um exagero falar que há excesso de bacharéis no Brasil. De acordo com ele, o que aconteceu ao longo dos anos foi a valorização dessa formação em detrimento de outras, como a tecnológica — que hoje apresenta um cenário de empregabilidade muito favorável. Mesmo assim, o especialista afirma que o caminho da graduação não pode ser, de forma alguma, desconsiderado. "Educação nunca é demais. Apesar de hoje haver uma grande demanda por técnicos, não se pode abandonar a importância de uma graduação. É ela que dá embasamento para um próximo passo em relação aos estudos, um mestrado ou um doutorado."

Na visão do professor, programas que visam aumentar o acesso às universidades funcionam, mas é preciso que as instituições zelem pelos profissionais que estão formando. "É ilusão acreditar que basta entregar o ensino nas mãos de terceiros que o problema da educação está resolvido." Para ele, a solução é que os estudantes procurem cursos de qualidade. "As empresas reclamam muito que os profissionais, quando vêm, chegam mal formados, sem foco e sem domínio de uma língua estrangeira", explica o pesquisador.

Professor da Faculdade de Economia e Ciências Aplicadas da Universidade de São Paulo (USP), Roy Martelanc diz que o problema da qualificação atinge praticamente todos os setores, mas a escassez de profissionais tem endereço certo. Ele explica que quanto mais científica a área, mais dificuldade as empresas têm para encontrar profissionais. "O aquecimento da economia que ocorreu há alguns anos nos levou a precisar, mais do que nunca, de trabalhadores de áreas relacionadas às ciências exatas e financeiras." No entanto, essas carreiras continuam tendo um nível de atração mediano. "Apesar de reconhecerem que são campos onde há empregabilidade, muitos jovens preferem não passar pelas dificuldades que um curso difícil como engenharia traz", afirma.

Engenharia
Durante a década de 1980, pela falta de empregos, muitos engenheiros migraram para as áreas de finanças e negócios. Hoje, graças à necessidade que o mercado tem de profissionais com essa formação, existe o movimento contrário. "Muitos engenheiros que partiram para outros ramos e até aqueles que entraram no serviço público estão retornando às origens, pois a engenharia se tornou atrativa novamente", afirma o presidente da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), Murilo Pinheiro.

Para o presidente do Conselho Federal de Engenharia (Confea), José Tadeu da Silva, é fácil entender a fórmula da carência de profissionais: demanda elevada versus alto índice de engenheiros desviados de sua função e baixo número de formados. As engenharias civil e elétrica lideram o ranking da falta de profissionais qualificados. O presidente da FNE acredita que não se pode falar em apagão de mão de obra, mas considera que a quantidade desses engenheiros ainda é insuficiente para o ritmo de crescimento de alguns setores do país.

No entanto, estudo elaborado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), que faz parte do Sistema Indústria, estima que, até 2014, a demanda por engenheiros exercendo a profissão será de 92 mil. O país poderia, portanto, sofrer um deficit na oferta desses profissionais. De acordo com essas projeções, o número médio de 50.675 graduados na área — tomando como base o índice de concluintes em engenharias revelado pelo Censo do Ensino Superior de 2010 — seria insuficiente para suprir tal demanda. Isso porque, segundo explica o analista da diretoria de inovação do IEL Luís Gustavo Delmont, apenas 2 em cada 7 engenheiros formados desenvolvem atividades típicas de engenharia. "Considerando esse desvio de função, 321 mil engenheiros teriam que ser formados para suprir a demanda", ressalta Delmont.

Recém-formado, o engenheiro eletricista brasiliense João Paulo de Oliveira, 23 anos, é coordenador de linhas de transmissão de um parque eólico em Macau (RN). Efetivado na empresa desde março, quando se graduou pela Universidade de Brasília (UnB), o engenheiro conta que recebeu outras propostas de emprego, mas a experiência de atuar numa obra de grande porte e os benefícios oferecidos pela empresa contribuíram para que ele optasse por seu atual local de trabalho. Segundo ele, a maior parte de seus colegas engenheiros é de jovens recém-formados vindos de vários lugares do país.

Contabilidade
No ramo da contabilidade, o que conta é a qualificação. "A quantidade de profissionais formados é grande, mas o mercado demanda contadores com formação humanista, ampla, menos técnica", afirma Enory Spinelli, vice-presidente operacional do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Segundo ele, o ramo das ciências contábeis passou por muitas mudanças nos últimos anos, como a aplicação de padrões internacionais de contabilidade no Brasil. "Ainda é perceptível um descompasso entre aquilo que é ensinado nas instituições de ensino superior e o que é realidade. O contador de hoje tem de saber interpretar e estar muito atualizado." Por isso, segundo ele, há uma tendência das empresas à contratação de jovens profissionais que, mesmo não tendo experiência, têm disposição para entrar em contato com o que há de mais recente.

Quando escolheu a carreira de contadora, Milena Lima, 19 anos, não imaginava que o acesso à vida profissional aconteceria tão rápido. Logo no primeiro semestre do curso de ciências contábeis, ela foi contratada pela empresa onde trabalhava como aprendiz. A jovem cuida da parte fiscal e auxilia na área tributária de uma empresa de distribuição de combustíveis. "Existe muita oferta de estágio e emprego na área, mas é difícil se manter sem estar disposto a estudar e a ter uma boa formação", diz Milena.

Administração
A situação é semelhante em administração, a graduação com maior número de estudantes no Brasil, segundo o Censo do Inep. No referido ano, 112.678 estudantes concluíram a graduação na área. Isso corresponde a cerca de 14% do total de formandos no país. Apesar da grande quantidade de bacharéis que entra no mercado de trabalho, a qualidade da formação de muitos deles é questionável. O conhecimento é apenas generalista e, por vezes, não condiz com o praticado pelo mercado.

O administrador Rafael Lima, 28 anos, é sócio de uma empresa de consultoria administrativa e afirma que a grande dificuldade em contratar é por causa da falta de pessoas interessadas em ampliar os conhecimentos. "Os profissionais ficam muito superficiais, não se especializam em nenhuma área. Para tarefas operacionais, não falta gente, mas se preciso de alguém com capacidade gerencial, não encontro", diz.

Segundo o presidente do Conselho Federal de Administração, Sebastião Mello, a proliferação de cursos pelo país sem a fiscalização atenta do Ministério da Educação (MEC) faz com que parte dos profissionais não seja contratada ou desempenhe funções secundárias. "Muitas faculdades não têm laboratórios, incubadoras ou empresas juniores e isso faz com que a formação seja incompleta", explica.

Para Filipe Guimarães, 21 anos, o trabalho na AD&M, empresa júnior de administração da Universidade de Brasília (UnB), se mostrou fundamental. Lá, Guimarães começou como trainee e chegou ao cargo de presidente organizacional. Formou-se em dezembro de 2011 e a estreia da Carteira de Trabalho ocorreu logo em janeiro. Desde então, ele faz parte da equipe administrativa de uma empresa de engenharia. "Contou muito para que me escolhessem o fato de eu já ter liderado uma corporação", diz.

Mais que o dobro
Dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre 2000 e 2010, o número de pessoas que concluíram pelo menos uma graduação aumentou mais de 109%. Passou de 6,1 milhões para 12,8 milhões.

Nação sem engenheiros
Se comparado a outros países, o Brasil ainda apresenta números baixos relativos à formação de engenheiros. Do total de graduados, apenas 6% são engenheiros. Na Coreia do Sul, esse número chega a 25%. O Japão fica um pouco atrás, com 18%.

Saiba mais
A discrepância entre os números de graduados é apontada pelo Censo do Ensino Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), realizado em 2010. Veja esses exemplos:

Administração    112.678

Ciências contábeis    34.215

Engenharias    50.675*

Tecnologia da informação    14.274

*Considerando todas as habilitações de engenharia e formações correlatas, excluindo arquitetura

 

Imprensa – SEESP
* Notícia do Correio Braziliense, de 08/JUL/2012



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