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08/09/2021

As engenharias no setor de gás liquefeito e natural

Insumos têm uso extensivo na sociedade, do espaço doméstico ao industrial.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

As engenharias estão presentes em atividades ligadas a distribuição, instalações e comercialização de gás liquefeito de petróleo (GLP) – o popularmente conhecido “gás de cozinha” – e de gás natural (GN) em indústrias, edifícios e residências. O gerente de Instalações Industriais, da área de Engenharia da Copa Energia – grupo que reúne as marcas Copagaz e Liquigás, que respondem juntas por 25% da distribuição do insumo no Brasil –, Elcio Augusto Rocha Sarti, indica que muitas modalidades da área aparecem no desenvolvimento de atividades operacionais com o insumo. As duas marcas juntas, segundo ele, possuem operações em 24 estados e Distrito Federal e cerca de 90 mil colaboradores diretos e indiretos.

 

Especificamente com relação à engenharia de petróleo e gás, a professora de petrofísica de reservatório da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Mariléa Gomes dos Santos Ribeiro, explica que a formação dessa mão de obra é focada nas grandes áreas de conhecimento da cadeia de suprimentos de petróleo e gás, dividida em dois grandes segmentos: downstream e upstream. O primeiro relaciona-se, essencialmente, as atividades de transporte, comercialização e refino de petróleo e ainda transporte e comercialização de derivados de petróleo; já o upstream compreende as atividades de exploração e produção de petróleo, onshore ou offshore.

 

600 Mariana ArgenteA engenheira de petróleo Mariana Freitas Argente que trabalha em companhia de gás natural em São Paulo. Foto: Acervo pessoal.

 

Para atuar no setor, avalia a professora, esse profissional precisa ter habilidade de administrar e gerenciar a logística de trabalho, as diversas etapas de segurança, os diversos riscos existentes e ter amplo conhecimento do downstream. No caso da cadeia de suprimentos ser dividida em três, tem-se: upstream envolve a produção de petróleo, midstream envolve o processamento de petróleo e o downstream compreende a logística de vendas dos produtos acabados.

 

“O petróleo proveniente dos tanques de armazenamento é pré-aquecido e introduzido numa torre de destilação atmosférica”, ensina a docente. Os derivados deste fracionamento são, principalmente, gás, GLP, nafta, gasolina, querosene, óleo diesel e resíduo atmosférico. “O GLP é utilizado em larga escala em diversos tipos de indústrias, além do uso doméstico. Para tal, o insumo precisa ser transportado com segurança até que chegue aos distribuidores e lá ser devidamente envasado para serem comercializados, nos populares “botijões de cozinha”. Nesta rede existem várias etapas para atuação do engenheiro, como, por exemplo, a logística de produção e comercialização; análise de riscos envolvidos em cenários distintos”, relaciona Ribeiro.

 

Ramo diversificado
Copa EnergiaEngenheiro Elcio Augusto Rocha Sarti, há duas décadas na Copa Energia. Foto: Acervo pessoal.
O mercado de gás, atesta o gerente da Copa Energia, se apresenta muito diversificado demandando diversas modalidades da engenharia, como a mecânica e a civil. Ele mesmo é engenheiro mecânico e explica como a sua profissão se insere nessa atividade: “Ela está na elaboração e construção de centrais de GLP e sistemas associados desenvolvendo atividades de cálculos e dimensionamentos e de projetos conceituais e executivos”. O profissional, acrescenta Sarti, também é requisitado na “coordenação de montagens, controle de qualidade, operação de sistemas, gestão de implementação de centrais de GLP em clientes, e ainda no controle operacional de plantas de GLP engarrafado”.

 

De forma indireta, prossegue o gerente, os conhecimentos de engenharia são empregados no mercado de gás junto aos fabricantes de equipamentos, peças e materiais utilizados, que de forma específica ou genérica, são largamente utilizados, tais como: trocadores de calor, reguladores de pressão, conexões e tubos de aço e cobre, queimadores etc. Já a engenharia química está presente nas aplicações de desenvolvimento e controle de processo de produção, pesquisa e controle de qualidade associada ao produto gás, seja GLP ou GN, e sistemas de medição e desenvolvimento. “Um aspecto que é fundamental e de grande importância, independente da especialização, é o conceito de segurança de processo ligado a todas as aplicações, onde o engenheiro de segurança tem sua participação destacada”, salienta Sarti.

 

Há 27 anos na companhia, Sarti desenvolveu sua carreira sempre ligada a atividades em instalações industriais, o que possibilitou participar do desenvolvimento e transferências de tecnologias nos países Itália, Alemanha e Estados Unidos. Neste momento, declara o engenheiro mecânico, está comprometido com a aspiração de contribuir na concretização de fazer com que a empresa lidere “mudanças da matriz energética, do Brasil para o mundo, a partir de soluções sustentáveis, confiáveis e que tragam resultados sólidos. Vamos construir um amanhã melhor, energizando o Brasil inteiro a partir de uma matriz mais limpa”.


Gás natural
A engenheira de petróleo Mariana Freitas Argente, formada em 2019, tem 29 anos de idade e três de Companhia de Gás de São Paulo (Comgás), e já se mostra uma apaixonada pelo setor. “Entrei na companhia como estagiária, em 2018, e fui efetivada no final de 2019. Nesse ramo temos um universo enorme de aprendizado, conheciGás matéria 2 SET2021mento e campos de atuação”, garante. Ela aproveita para indicar aos estudantes e profissionais da área que conheçam a iniciativa de alguns engenheiros de petróleo que criaram o siteAté o último barril”, com muitas dicas e orientações sobre o setor. 

 

No ramo do gás natural, assevera ela, a engenharia também tem papel relevante e pode estar em diversas posições. Argente percebe uma aproximação maior da profissão na parte de infraestrutura que compreende desde a casa do cliente às tubulações subterrâneas nas vias públicas. Por isso, ela percebe uma demanda considerável por engenheiros civis, de produção, mecânico, químico e até físico.


Argente gosta de lembrar que sua trajetória foi e tem sido muito dinâmica: “Em tão pouco tempo, já passei por diversas áreas e isso tem me trazido um aprendizado consistente. Já estive em suprimentos de gás (compra e venda), depois tivemos um job rotation [rodízio de tarefas que consiste em agregar outras funções para o mesmo funcionário dentro de uma empresa] e fui para um setor vinculado à inovação de como ligar o gás numa residência com maior eficiência, rapidez e qualidade. Já efetivada, passei por outras áreas. Fui engenheira de ligação de casa responsável pela região sudoeste da cidade de São Paulo.”

 

Hoje, ela está à frente de uma equipe na área comercial chamada “Quero ser cliente”. “Realmente, passei, em pouco tempo, por mudanças de carreira e de planejamento. A formação na engenharia nos possibilita essa atuação diversificada, sempre levando nossos conhecimentos técnicos, o raciocínio analítico e aptos a enfrentar desafios e pensar soluções”, descreve, entusiasmada. Por isso, ela consegue prestar informação mais apurada e técnica para o consumidor final sobre o serviço, a qualidade, a eficácia e a segurança. Ela lembra inclusive que, em função anterior como engenheira de ligação, um cliente pediu para que ela explicasse o processo da produção do gás natural até a distribuição, “tenho certeza de que ali ele conseguiu ficar mais seguro quanto ao serviço que estava adquirindo”.

 

Argente diz que a venda é feita com uma vistoria prévia no imóvel, quando se define, junto ao cliente, toda a parte técnica. Ela descreve o processo de inovação, nesse caso: “Antes fazíamos apenas uma venda, hoje fazemos a venda com a parte técnica já incluída. Substituímos um processo de cinco etapas – venda/vistoria/execução de tubulação interna/tubulação externa (ramal)/ligação do cliente – pelo de duas fases, venda/vistoria e execução/ligação. A nova sistemática criou um fluxo mais rápido entre a venda e a ligação final, o que poderia levar até 90 dias, hoje não ultrapassa três dias.”


MGás matéria SET2021ercado e tecnologias

Sarti informa que o mercado do gás exige boa especificidade, mas com muitas possibilidades de desenvolvimento. “É um produto de larga aplicabilidade em todos os processos industriais, seja como elemento combustível de larga aplicação e baixo impacto ambiental para movimentações de veículos e geração de calor, ou como elemento de expansão na produção de poliestireno expandido e plástico, e ainda como propelente para sprays”, descreve o gerente da Copa Energia.

 

Além disso, ele observa que o maior mercado de GLP está no uso doméstico, desde a cocção (cozimento) à geração de conforto como aquecimento de água e ambientes. “A participação da engenharia é fundamental no desenvolvimento de plantas de engarrafamento, fabricação de reservatórios de estocagem, sistemas de transporte e outros”, aponta.

Por se tratar de um energético com largo espectro de utilização, mesmo sendo uma commodity, o GLP, observa Sarti, está associado a “novas tecnologias em equipamentos, materiais, sistemas de segurança e monitoramento”. Ou seja, é um setor em constante evolução, por isso o gerente indica aos profissionais de engenharia que se mantenham atentos aos conhecimentos e aprendizados. “Estar atualizado com novas ideias, regulamentações, tendências e tecnologias ajuda muito o profissional do gás a estar bem-posicionado para aproveitar adequadamente as oportunidades com relação às alternativas oferecidas”, aconselha.

 

É neste cenário que a atuação do engenheiro especializado em petróleo e gás, ou formado em outras modalidades, “se apresenta com importância, estudando e planejando cenários onde a distribuição energética das alternativas tenha suas aplicabilidades bem ajustadas de forma a se obter a maximização dos usos e eficiências, contribuindo assim para um desenvolvimento social futuro mais sustentável”.

 

GLP: uso e números

O GLP pode ser utilizado doméstica e industrialmente e responde por 3,1% da matriz energética nacional, menos que a lenha e o gás natural e muitíssimo menos que o óleo diesel e a eletricidade. As informações constam do panorama do mercado de GLP, organizado pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás) e divulgado em julho último: 91% das famílias brasileiras utilizam o gás de botijão para cozinhar; 100% dos municípios brasileiros estão atendidos; 53,1282 milhões de botijões de até 13 kg são vendidos mensalmente; 7,511 milhões de toneladas comercializadas (botijões e granel). Ainda segundo a mesma pesquisa, o setor, que congrega 20 distribuidoras autorizadas na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), é responsável por 380 mil empregos diretos e indiretos. 

 

Gás natural: crescimento
Conforme o Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 2020, divulgado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a produção de gás natural teve acréscimo de 9,5%, no seu décimo ano consecutivo de aumento, e atingiu 123 milhões de m3/dia. A produção de gás natural no pré-sal também segue aumentando sua participação e correspondeu a 57,9% do total nacional. A Comgás, informa a engenheira Argente, é uma concessão pública que vem criando uma estrutura de rede de tubulação e distribuição de gás natural em diversas regiões do Estado de São Paulo.

 

 

 

 

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