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02/08/2021

Artigo - Sobre os desafios do transporte público

Márcia Carreiro*

Transporte publico Rovena Rosa AgBR internaA falta de planejamento e investimento contínuo na mobilidade coletiva brasileira acentuou as incertezas sobre o futuro da área. Um país desenvolvido depende de transporte público ao contrário de que muitos podem pensar. Deixar de investir em melhorias de infraestrutura é nos colocar na contramão da evolução.

Nos países mais desenvolvidos, independente da classe social, todos usam o transporte público, porque oferecem qualidade, eficiência e segurança.


Chave do sucesso: Qualidade, Eficiência e Segurança.

Fácil falar, difícil é gerir e agir.


A crise do Transporte público é um problema estrutural e vem se acumulando ao longo dos anos e se agravou com a pandemia


Por alguns motivos:


- Perda de demanda
-️Transporte com má qualidade
-️ Congestionamento no trânsito devido o aumento de transporte individual
-️Tarifa alta paga pelo usuário, sendo basicamente o que sustenta o sistema
-️ Perda das receitas e aumento dos custos (destaque também para o combustível)
-️ Custo de transporte alta x Má qualidade ️ Não atende mais as necessidades do usuário
-️ Ausência de políticas públicas de transporte atualizadas, com base na realidade.


Modelos estes que precisa ser revisto com urgência.


Os países do primeiro mundo podem servir de inspiração, desde que adaptado para nossa realidade brasileira.

Atualmente, tivemos uma perda de aprox. 80% da demanda com a pandemia, por não oferecer condições de oferta dentro dos padrões de segurança sanitária, pela necessidade de não aglomerar.

 

Um setor que vem pedindo ajuda

 

Houve um pedido de ajuda emergencial do governo que foi vetada. Um pena! É triste os órgãos governamentais ciente da situação, negar auxílio para uma área duramente atingida pela pandemia.

Precisamos urgente equalizar essa equação:

Qualidade X Produtividade


Financiamento X Investimento

 

Um setor não se renovou como deveria e as empresas também não mudaram. É necessário dar vazão para ideias inovadoras para o setor.

 

As condições contratuais atuais não atraem novos investidores para o setor, ficando assim estagnadas as possibilidades de evoluções. As condições impostas, não incentivam essas mudanças.

Permanecem as mesmas operadoras, que teoricamente são as únicas que "se enquadram", aí fica difícil mudar.


Fica o dilema: "Quem tá dentro não sai e quem tá fora perde o interesse em investir".

 

A área de Transporte é um setor que sempre se modernizou a passos lentos.

 

A Direção, na maioria, é composta por pessoas que viraram grandes empresários dentro do setor. As empresas são compostas por uma Direção que subiu de posição dentro da próprio setor, sem a necessidade de investir em aprendizado e formação acadêmica. Nada contra, pois estes tem o conhecimento na prática, o que é valioso, mas para inovar é necessário investimento de mão de obra especializada e com nova visão de negócio.

 

Em 2013 tivemos um marco crítico do setor, período de licitação. Ocasião que deveria ter ocorrido um acordo com contratos atraentes que propiciasse essa virada no setor. Tivemos a grande oportunidade de rever os antigos contratos e propor soluções que pudesse beneficiar, inovar e trazer melhorias tanto para os empresários, quanto para usuários (a população) que se utiliza dos serviços.

 

O transporte público como um direito básico do cidadão deveria ser subsidiado total, ou em grande parte, pelo poder público, o que não acontece na prática. A situação atual deve-se justamente por manter-se basicamente por tarifas pagas, que com a redução drástica da demanda viu-se ruir ladeira a baixo.

 

É fato que, não haverá interesse de grandes investidores se houver risco no investimento. Se não tiver sustentabilidade para o setor, não atrairá novos investimentos.

 

É um setor em decadência e que há grande risco de entrar em colapso.

 

Segundo o presidente da NTU, Otávio Cunha: "5% do orçamento municipal já bancaria 50% do Transporte Público".

 

Outras ideias apresentada pelo Sr. Cunha é sobre destinação de parte do IPVA para financiar o transporte coletivo, imposto sobre os combustíveis ou até mesmo taxação extra sobre os estacionamentos de carros públicos e privados. Segundo ele : “Toda a sociedade, quem usa e quem não usa, tem que pagar pela manutenção do transporte coletivo. Não estamos inventando nada, isso existe em outros lugares do mundo. É uma decisão que a sociedade precisa tomar. Esses recursos seriam destinados a um fundo nacional de infraestrutura do transporte coletivo e redistribuídos entre as empresas. Dessa forma, as empresas poderiam cobrar uma tarifa acessível do usuário e a prestação do serviço seria remunerada adequadamente”

 

A remuneração é paga por produção de quantidade de viagens, de acordo com os serviços prestados e dentro das responsabilidades do cumprimento do contrato (indicadores pré-estabelecidos de índices aceitáveis de qualidade, eficiência, produtividade, regularidade e de satisfação do cliente).

 

Atuei na área por um bom tempo, e sinceramente não vi empenho em qualificar adequadamente, nem operadores, nem em manter uma com constância de serviços dentro dos padrões pré-estabelecidos.

Como uma profissional de planejamento, via falta de planos de metas e incentivos por parte das operadoras para uma operação de qualidade. Tentei muitas vezes implantar internamente, mas sem sucesso por falta de investimento. Uma andorinha sozinha não faz verão, é verdade! Sou uma sonhadora.


Por outro lado, o gestor público não consegue muitas vezes entender a dificuldade na operação, que posso garantir são muitas. É preciso pessoas qualificadas para ouvir as operadoras e juntos encontrar boas soluções.

 

O pessoal de operação é ótima fonte de inspiração, não tem preparação para criar planos de ação, mas ajuda entender o cenário e elucidar questões desafiadoras, além de colaborar para que novos planejamentos saia do papel. Muitas das benfeitorias e planos que fiz foram baseadas em informações obtidas pelo próprio pessoal do sistema (operadores, fiscais, coordenadores de linhas e até mesmo usuários).

 

Ouvi muitas queixas de operadores, que eles não tinham voz no setor. Por esse motivo criei treinamentos periódicos para ouvi-los e anotar todas dificuldades e sugestões para posteriormente ver a viabilidade e encontrar soluções. Importante, ao analisar, que temos problemas diferentes e peculiares de cada região.

 

Segundo o Presidente da NTU, precisamos quebrar paradigmas e "se nada for feito urgentemente poderá ter uma drástica redução no setor, de empresas que não conseguirem se manter devido a crise."

 

Cenário atual

 

Hoje temos o seguinte cenário:

- Crise pandemia
- Redução da frota
- Endividamento dos empresários do setor
- Possível redução de empresas no setor

 

Fica as questões:

- Qual a perspectiva de "normalização" no setor?

- O que pode ser feito de imediato para minimizar o impacto enfrentado no setor?

 

Algumas medidas já estão sendo tomadas e outras estão em andamento:

- Redução dos cobradores, reduziu 12% dos custos
- Ajuda emergencial, já em andamento, ajudará nos custos operacionais.
- Existe uma medida provisória, em andamento, para o governo bancar a gratuidade dos idosos e estudantes.
- Mapeamento das regiões com agravamento da crise.
- Escalonamento das empresas por atividade ajudará muito, pois dilui a demanda por faixa horária de pico, o que mesmo com uma frota reduzida atenderia a demanda.

 

A respeito do escalonamento de horários para cada setor de atividades a secretaria estadual de transportes e especialistas concordam: “Quebrando o horário de pico, reduz-se as aglomerações”. Não entendo porque ainda não foi implantado.

 

Sobre novas tecnologias para o setor

 

Existe grande mobilização em torno da modernização do transporte feito pelo ônibus urbanos em grande parte dos países que realmente estão preocupados com o deslocamento sustentável das pessoas e que já há algum tempo vem fazendo a transição ambiental no sentido de qualificação nos serviços do modal.

 

Além da questões econômicas, temos a responsabilidade de pensar na redução de emissão de poluentes, com uma frota mais moderna e menos poluente. É necessário inovar a frota de combustível, com utilização de tecnologias mais limpas, assim como outros países vem se preocupando. Isso trará resultados benéficos, não só com a redução de poluentes, bem como para aspectos econômicos.

 

Várias são os modelos de combustível apresentados como inovação para a a área de Transporte Coletivo de passageiros: Eletricidade, Biometano, Diesel verde e Hidrogênio. Todas visam ambientes mais limpos, de baixo carbono.

 

Pouca tem sido a iniciativa brasileira em aproveitar essa chance de se destacar quanto sustentabilidade ambiental. As mudanças vem sendo feita em passos lentos aqui no Brasil.

 

Essas variedades de tração tem sido bem recebidas na maior parte do mundo e com maior atenção pelos programas governamentais de países desenvolvidos, preocupados com a renovação dos modelos de transporte que impactam negativamente na vida das pessoas.

 

Considerações finais

 

O transporte coletivo tem que deixar de ser encarado como um negócio regido por leis de mercado e passar a ser, de fato, um serviço público, de total responsabilidade do Estado.

 

Meu sonho é que o Transporte Público seja visto como direito do cidadão e que se cumpra a lei de direitos sociais, dando de fato ao cidadão um transporte de qualidade. Espero que essas novas mudanças estruturais, necessárias, sejam feitas brevemente, mas que não recaia em custos adicionais para o usuário.

 

Vejo a necessidade de mudanças estruturais sim, mas que juntamente se cumpra os diretos básico do cidadão previsto em constituição.

 

O setor de Transporte Público assim como de Saúde é um serviço público essencial e que deve ser tratado como tal. Temos atualmente o SUS (Sistema Único de Saúde) que tem um financiamento que garante o atendimento em tempos “normais” mas também em situações emergenciais, porque não ter um SUM (Sistema Único de Mobilidade). Uma ideia que surgiu de algumas entidades da área como proposta para solução do sistema em situações como a que enfrentamos.

 

Muitos são os exemplos internacionais que poderia citar de tratamento do transporte público como serviço essencial, com estratégias interessantes e viáveis (mas, esse tema vou deixar para um outro artigo).

 

Não temos alternativas, ou redesenhamos urgentemente nossos Sistema de Transporte para que se torne de fato público ou acentuaremos nossa desigualdade urbana e social, gerando grave crise econômica e sem precedentes para o setor.

 

Muito se fala e pouco se faz, sem metas não teremos futuro. Hora de agir!

 

O artigo baseado em algumas informações obtidas do Canal "Agentes da Mobilidade", pesquisas sobre o setor e Folha de SP

Crédito especial para live: "Agentes da Mobilidade" com participação do Presidente da NTU - Sr, Otávio Cunha


Meu nome é Márcia Carreiro, especialista em Planejamento Estratégico com foco em Mobilidade Urbana e Transporte Público, Sou Bacharel em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda), Tecnóloga em Proc.de Dados e recente Especialização em Marketing Digital.

Meu objetivo é ajudar empresas e empreendedores explorar todo seu potencial por meio de análise e estratégias confiáveis. Ajudo também empresas desenvolverem todo seu potencial através das redes sociais.


* especialista em Planejamento Estratégico com foco em Mobilidade Urbana e Transporte Público, bacharel em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda), Tecnóloga em Proc.de Dados e recente Especialização em Marketing Digital.


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