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30/07/2021

A tragédia na Cinemateca e a perda da memória

 


Nestor Tupinambá

 


Dizem que sem o registro do passado, perdem-se as referências de percepção do presente e projeção do futuro. A Cinemateca Brasileira sofreu por várias vezes esse "apagamento". Houve o incêndio no edifício da Vila Mariana, o alagamento no galpão da Vila Leopoldina e, no me mesmo local, na zona oeste da Capital, um novo incêndio devastador nesta quinta-feira (29/7).

 

A dotação orçamentária para a entidade, que era de R$ 8 milhões, em 2018, e R$ 7 milhões, em 2019, foi a zero em 2020. Alguns ex-funcionários e cinéfilos se cotizavam para pagar a conta de energia, especialmente para manter o funcionamento do ar-condicionado, vital para a boa conservação dos filmes. Lamentavelmente, esse abnegados foram expulsos de lá várias vezes por agentes policiais.

 

cinemateca fogo RBACinemateca em chamas. Foto: Reprodução/Rede Brasil Atual

 

A situação precária já era conhecida e, em 2018, o Ministério Público advertiu o Governo Federal sobre o descaso com esse importante e volumoso patrimônio artístico nacional. Em seguida, ainda com o prefeito João Dória, a Prefeitura de São Paulo pediu a transferência da cinemateca para a Secretaria Municipal de Cultura.

Todas essas interpelações foram ignoradas, nem sequer respondidas. Como resultado, tem-se a destruição de quatro toneladas de documentos, cerca de 200 mil filmes. Alguns rolos eram cópias usadas para demonstrações, aulas e exibições; talvez seus originais estejam no edifício da Vila Mariana. Mas muitos são insubstituíveis. Também se foram aparelhos antigos de gravação, edição e projeção. Esses seriam alocados no Museu do Cinema, um sonho que não chegou a ser realizado por falta de suporte financeiro.

 

O teto do galpão da Vila Leopoldina desabou sobre esse patrimônio e os bombeiros consideram difícil que algo fique intacto, já que as películas dos filmes têm nitrato de prata, uma substância altamente inflamável. Foram elas, provavelmente, que elevaram a seis metros de altura as chamas do incêndio.

O curioso é que hoje (30/7) foi publicado um Edital de Chamamento para a manutenção da Cinemateca. Estava então pronto e sai um dia após o incêndio? Trata-se de esforço para se tentar desfazer a impressão de completo descaso, não só com a Cinemateca, mas com tudo que guarda nossa memória, como Museu Nacional do Rio de Janeiro, Museu do Ipiranga, Museu da Língua Portuguesa?

 

Em 2011, Federação Internacional de Arquivos Fílmicos (Fiaf) considerou a Cinemateca Brasileira como uma das três melhores depositadoras de registros cinematográficos do planeta. Perdemos essa memória e com ela um pouco da identidade nacional.

 

Nestor Tupinambá é diretor do SEESP

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