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21/10/2019

Manifesto – Uma outra realidade

Antonio Ferro*

 

Depois de 24 edições realizadas na cidade de Kortrijk, o maior salão mundial de ônibus mudou de casa. Em 2019, a mostra Busworld continua na Bélgica, mas agora em Bruxelas, a capital recebeu-a sem perder o glamour e o tom de modernidade que sempre acompanharam sua organização. O reforço à evolução do veículo mantém-se intacto nos ideais do evento, trazendo o melhor em produtos, equipamentos e serviços. A sustentabilidade ambiental também segue firme nos propósitos das fabricantes, cada qual com seus conceitos e desenvolvimentos objetivando um futuro totalmente livre do carbono para o modal.

 

Em um caminho sem volta, a eletromobilidade foi o principal assunto quanto ao transporte urbano. Diversos foram os projetos e veículos expostos, produzidos por consagrados nomes da indústria mundial do ônibus. Da Europa à Ásia, ninguém quer perder a oportunidade de disponibilizar ao mercado suas concepções voltadas ao transporte sem emissões poluentes. Configurados com baterias, células a combustível e na versão trólebus, os modelos urbanos brindam pela qualidade, desenho externo e pelo acabamento. Em dois anos, período compreendido entre a última edição e a atual, o avanço da tecnologia foi representado pela eficiência e maior capacidade energética das baterias, além de alguns protótipos de veículos daquela época se tornarem versões comerciais a partir da mostra de 2019.

 

No tocante ao transporte rodoviário, as marcas europeias afirmaram suas posições de oferecer o melhor nesse segmento, sempre com configurações caprichadas, primorosas e idealizadas para o conforto e a segurança nas viagens estradeiras. Não há como não notar o foco das empresas em disponibilizar uma gama de veículos idealizados para linhas regulares, serviços de turismo e receptivos. Apesar de ainda serem equipados com motorização a diesel, os modelos trazem as últimas gerações de propulsores, em atendimento à rígida norma que limita ao máximo a emissão de poluição. Claro que há outras alternativas, como algumas versões elétricas, outras que usam os biocombustíveis e o gás natural liquefeito, uma opção que vem se tornando viável no mercado.

 

Sem querer fazer uma analogia, mas a Europa vive outra realidade diante do que nós mortais latino-americanos presenciamos. É incontestável que o modelo de transporte feito pelo ônibus urbano em nossa região ainda carece de muita evolução, sendo baseado no faturamento da catraca, não contando com estímulos, nem com investimentos por parte da gestão pública como forma de melhorar uma imagem que anda capengando desde há um bom tempo. Tais justificativas acompanham o modal neste momento, porém não devem servir de lamúria sempre debatida em ocasiões especiais que procuram chamar a atenção para o melhoramento da atual situação.

 

O ônibus urbano europeu está em um estágio que vem sendo moldado há um bom tempo, coisa de 50 anos, no mínimo. Nesse período conta com o suporte das autoridades públicas, em conjunto com associações de transporte e da indústria, que veem nele um agente de grande valor no desenvolvimento das cidades. Portanto, não será possível dizer que em pouco tempo o desafio brasileiro de reconstruir ou repensar a forma de operação do modal será solucionado para que ele alcance eficiência na mobilidade.

 

Ainda, no entendimento da realidade brasileira, muitas são as vertentes condicionais em seus serviços, fato que ainda demandará maiores atenções na aplicação desse que ainda é o principal meio de transporte de massa aqui e na América Latina.

 

Cabe lembrar que modernizar o ônibus não se trata de apenas lhe conceder uma configuração veicular que permita o favorecimento em sua acessibilidade, ao conforto e ao uso de trações limpas. Precisamos vê-lo como um todo, do momento que sai da garagem e retorno, dando-lhe fluxo operacional em conjunto com o bom atendimento.

 

É preciso união por parte das diversas esferas envolvidas com o setor. Sem um trabalho em conjunto fica difícil. Não será possível alcançar a retomada da competitividade do segmento, nem suas consequências positivas, se não houver compromissos multilaterais que podem ser resumidos na formação de um grupo que defenda os interesses do modal e sua lógica sobrevivência. Competência para isso temos. É preciso vontade. Ou lideramos a luta para renovar sua posição ou o veremos bater lata cada vez mais.

 

 

 

*Editor da revista AutoBus. 

 

 

 

 

 

 

 

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