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08/04/2019

Artigo – Por que o Brasil está caindo aos pedaços?

Artur Araújo*

 

Não só o noticiário mais recente – viadutos e pontes que “se movem”, Brumadinho soterrando multidão, incêndios em prédios abandonados e ocupados – mas o dia a dia das construções e equipamentos no Brasil é um rol de problemas em curso ou por ocorrer.

 

Escolas com telhados prestes a cair, infiltrações e vazamentos em hospitais e postos de saúde, estradas e ruas esburacadas, semáforos que apagam na chuva como se fossem lamparinas, a relação é infinda e angustiante. E não é só fruto de alguma incúria exclusivamente estatal, porque Mariana e as demais barragens de rejeitos de mineração são bem privadas e boa parte das rodovias está concessionada a empresários, para nos atermos a dois casos mais conhecidos.

 

 

Ilustração: Maringoni.
Brasil afundando Maringoni

 

 

Também não vivemos um caso de “macunaimismo”; o País cai aos pedaços sem “viralatismo”, pois o quadro se repete no tal “primeiro mundo”. Recente estudo da Comissão Europeia traçou um panorama de alta gravidade no estado de manutenção, conservação e deterioração das malhas de transporte da UE, ressaltando que os investimentos no setor estavam significativamente abaixo até da taxa de depreciação contábil dos ativos. Nas justificativas da administração Trump para retomada de um ciclo de construção de autoestradas, nos moldes do programa de highways executado no pós-guerra pelo governo Eisenhower, ressalta-se que há superutilização em relação à demanda originalmente projetada e que há décadas os Estados Unidos subinvestem no setor.

 

Esse cenário é resultante, em todo o mundo, de duas orientações econômicas que têm se mostrado desastrosas.

 

Na gestão estatal, o “austericídio” – a falsa teoria econômica que vê na minimização sem limites das despesas e investimentos públicos a “estrada para o progresso”, via uma mágica a que chamam “contração expansionista” – elimina os recursos destinados a garantir a vida útil dos bens comuns, acelerando sua entrada em estado crítico.

 

A dominação financista se recusa a fazer a conta básica, que cotejaria as despesas de monitoramento, manutenção e reparos com os custos da reposição antecipada e dos colapsos críticos (sem nem levar em consideração o valor inquantificável dos ferimentos, mortes e prejuízos materiais que resultam de acidentes plenamente evitáveis).

 

Nas empresas privadas imperam a ditadura do lucro trimestral e a obsessão com o “valor para o acionista”, caminho que leva –  pelo corte sem critérios de quaisquer despesas “não essenciais”, com ênfase em redução de quadro técnico, eliminação de programas de manutenção preventiva e corretiva e “curtoprazismo” na gestão – a bruscas perdas de valor de marcado e a colapso dos lucros a cada acidente que ocorre, perdas certamente maiores do que os ganhos da  economia míope. Assim como o Estado, o mundo dos negócios vive à sombra de mortes, feridas e pessoas desaparecidas, com potencial destrutivo de marcas e imagem corporativa

 

Tais orientações econômicas trazem consigo uma “repulsa à engenharia” e resultam na redução acelerada do quadro dos profissionais mais preparados para evitar desastres e para otimizar custos. Submetidos a políticas de coerção interna, assistindo o desmonte de equipes capacitadas e a desvalorização de suas orientações, os profissionais de Engenharia se veem como “primeiros culpados” quando acontece o que eles – se realmente respeitados e com recursos adequados à mão – teriam avisado quando e como aconteceria, evitando que as tragédias previsíveis se transformassem em realidade cruel.

 

Se queremos um país inteiro – e certamente todos os brasileiros o querem – passa da hora de trazer a engenharia também ao posto de comando.

 

Basta investir em predição, em monitoramento, em manutenção e conservação, em reposição programada aderente às curvas de obsolescência, para que se economize, não haja colapso de serviços nem se velem cadáveres ou só reste a memória das vítimas não localizadas.

 

Basta ter engenheiros e deixá-los trabalhar seriamente.

 

Esse é um desafio nacional mais do que grave e urgente e para cujo enfrentamento e solução o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), em ótima iniciativa, realizará um seminário de grande importância no dia 16 de abril. Vamos todos lá.

 

 

 

 

 

ArturAraujoArtigo 

 *consultor da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) no projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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