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07/02/2018

Crescimento desordenado das cidades traz de volta febre amarela, alerta engenheiro

Deborah Moreira
Comunicação SEESP

Muito se tem especulado sobre o retorno da febre amarela nos centros urbanos do Estado de São Paulo. Para especialista, é consequência da ausência total de planejamento na expansão das cidades, que atende a uma única lógica: interesse econômico.

 
Ilustração: Divulgação do Residencial Terras de Jundiaí
condominio Residencial Terras de Jundiai homeCondomínios fechados construídos cada vez mais próximos das Zonas de Amortecimento que protegem as florestas e as cidades.

 

O engenheiro agrícola Admilson Irio Ribeiro, professor de Recuperação de Áreas Degradadas e Estudos de Impacto Ambiental da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) de Sorocaba, faz o alerta: “O nosso planejamento das cidades não está bom. Em termos de instrumentos, temos os estatutos e o plano diretor das cidades. Mas observamos que sempre há um grupo de interesse econômico forte que distorce aquela condição de ocupação. Cidades como Sorocaba, Campinas e Jundiaí, por exemplo, ergueram condomínios distantes do centro urbano e muito próximos às zonas de amortecimento, fundamentais para proteger as unidades de conservação e a cidades”, explica.


A Zona de Amortecimento (ZA, também chamada de "Zona Tampão") é uma área estabelecida no entorno de uma unidade de conservação e tem como objetivo filtrar os impactos negativos das atividades que ocorrem fora dela, como ruídos, poluição, espécies invasoras e avanço da ocupação humana, especialmente nas unidades próximas a áreas intensamente ocupadas. As ZAs são previstas no artigo 2º, inciso XVIII da Lei nº 9.985/2000, que cria o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Essas zonas não apenas visam preservar as unidades de conservação das atividades humanas, como também previnem a fragmentação dessas áreas e o controle da espécies, como os mosquitos.

“Passamos a ocupar a condição natural de maneira distorcida. Quer dizer, o solo se torna impermeável, as florestas que ajudavam nas trocas e melhoria da qualidade do ar e das condições dos rios estão sendo eliminadas. Também o fluxo dos rios é alterado. Com isso, todo o ecossistema está sendo alterado. Então, vemos a natureza buscando um reequilíbrio." Diante disso, o especialista é categórico: preservar o ambiente e reflorestar é muito importante quando se fala em combater a febre amarela.

Causa e efeito
Alguns telejornais têm divulgado informações que contrariam essa constatação, como atribuir a febre amarela ao reflorestamento do Estado, que aumentou 16% nos últimos anos. Segundo notícias veiculadas pela mídia, a criação de corredores ecológicos entre São Paulo e Minas Gerais, onde começou o foco, seria responsável pela chegada dos mosquitos aos centros urbanos paulistas. Ribeiro ressalta: “O Estado de São Paulo hoje necessita reflorestar porque chegamos ao caos; grande parte do sistema produtivo está fora da exigência da legislação. Ele precisa aumentar a área ciliar, as reservas legais.” Ele explica que quanto maior a área verde, melhor é o controle vetorial e menores são as chances de o transmissor alcançar a área urbana. O primeiro registro de ocorrência da febre amarela no Brasil foi no final do século XVII e ocorreu de forma bem pontual, porque naquele período não havia meios de transporte próximos às florestas. Então foi possível fazer um controle local. “Nas matas, o mosquito tem um predador natural e ele pode achar um nicho de sobrevivência melhor do que no ambiente humano”, detalha o professor.

Os chamados corredores ecológicos são corredores de fluxo gene, por onde passa uma maior variação genética, contribuindo para garantir a diversidade biológica das florestas: “Muitos distorcem sua função, achando que o mosquito vai transitar por eles”, completa.

Estradas, aeroportos e tudo o mais que promove a celeridade de matéria e energia contribui para uma maior disseminação. Estudos epidemiológicos demonstram que a doença surge na Europa, em questão de dias chega no continente americano. “A intervenção urbana muito próxima a esses corredores é que causa a difusão. Por isso é importante preservar as zonas de amortecimento”, conclui.

Soluções
A preservação das zonas de amortecimento é o caminho para o equilíbrio, já que é nessas áreas que ocorre o contato humano com a condição natural das matas, onde estão os mosquitos. Para ele, uma vez que o setor mobiliário está muito forte e a tendência é o surgimento de novos condomínios nessas zonas tampão, é preciso investir em educação ambiental, o que auxilia no controle da difusão desses vetores. 

Assim, é possível reduzir ou eliminar o descarte inadequado de resíduos sólidos em como calhas, caixas e pneus, que acumulam água. “Infelizmente isso é muito comum, até mesmo em matas ciliares, as pessoas deixam entulhos de construção”, lamenta.

Ele destaca que é possível criar condições mais favoráveis, que impeçam a reprodução natural dos transmissores da febre amarela. E alerta: “É preciso pensar e planejar a ocupação, até mesmo para ter melhor gestão nas campanhas de vacinação, direcionando para áreas de maior risco.”





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