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23/08/2017

Opinião - Haverá Brasil em 2022?

Paulo Cannabrava Filho, nos Diálogos do Sul *

O chamamento a esse evento, "Emprego e desenvolvimento rumo ao Brasil 2022", me deu um susto e logo riso. Estarei vivo? Haverá Brasil em 2022? O assunto é sério e merece muita reflexão, mesmo porque 22 é emblemático: dever-se-ia comemorar 200 anos da Independência e 100 anos do movimento modernista. Nada a comemorar. Dois fracassos.

Longe dos sonhos dos patriarcas pela Independência, hoje voltamos ao tempo de D. João VI, prisioneiros da dívida, tutelados pelo império da vez, exportadores de produtos primários. Longe dos sonhos dos modernistas e das gerações que continuaram a pensar o País, estamos condenados a ser o país do atraso, incapazes de olhar crítica e criativamente a realidade.

A conjuntura atual impede qualquer projeção racional sobre trabalho, empregabilidade e mesmo desenvolvimento, seja de curto, médio ou longo prazo. Os dados e fatos da crise estão estampados nos jornais e na face desse nosso sofrido povo. Pior das crises, porque é econômica, política e moral, ou crise civilizatória, como diria o mestre Darcy Ribeiro.

A pergunta que se coloca é: como chegar a 2022?

Dizem que sou pessimista, mas o que sou é realista, pé no chão, depois de 60 anos a observar o andar do processo brasileiro e latino-americano. Se conduzido pela plutocracia que usurpou o poder, nos próximo cinco anos não haverá desenvolvimento, serão péssimas as condições de empregabilidade, e bem maior a exclusão social.

Em cinco anos o País será o maior exportador de grãos do mundo - terá ultrapassado os Estados Unidos -; será o maior exportador de minerais, como o ferro, cobalto, níquel, lítio, ouro, sem esquecer do petróleo.

A engenharia terá virado suco, literalmente, outro produto de exportação. O País já é exportador de cérebros. É o fim da picada, investem-se décadas na formação de um quadro e ele vai embora, usar seu conhecimento para o desenvolvimento de outros países. Éramos um país de imigrantes, por séculos, e agora são alguns milhões que estão lá fora e não entram na conta dos 14 milhões de desempregados.

Desconfiem dessa cifra, pois só computa os que estavam com carteira assinada. Não estão computados os milhões que não entraram no mercado formal de trabalho, os que saíram e viraram PJ ou criaram estratégias de sobrevivência. Somando tudo, deve dar uns 20 milhões, pelo menos. E os 40 milhões que diziam ter tirado da pobreza, em que conta entram?

Gente: não é só a ocupação predatória e genocida do território, é a capacidade produtiva do País que estão destruindo. E, o que é o mais grave, porque pouca gente está se dando conta disso, é a soberania do País que está sendo estuprada. Se não se recupera a soberania, nenhuma outra mudança será possível.

Será pior em 2022, a não ser que se mude esse modelo. Vejo tão enraizada essa ditadura do pensamento único imposta pelo capital financeiro, ou se preferem, a ditadura do capital financeiro imposta pelo pensamento único, que nada mudará a não ser com uma ruptura institucional. Nada mudará se não se libertar o País da pior das servidões, a servidão intelectual, fazer com que as escolas e as universidades voltem a pensar o País.

É muito bom o que vocês estão fazendo, chamando a inteligência a debater a realidade do País. Esse é o caminho. Esse é o caminho, mas não basta. Para chegar a algum lugar, é preciso acumular muita força. Isso só se consegue com intenso trabalho de ação cultural em cada sala de aula, em cada local de trabalho, principalmente nos bairros populares.

É preciso acumular forças em torno de uma ideia concreta de projeto nacional de desenvolvimento sustentável, inclusivo, democrático. Temos dito com insistência que já estamos fartos de diagnósticos e choramingas sobre os espaços perdidos. A hora é de prognósticos e de recuperação de espaços, de construção de novos espaços, de formulação de propostas.

Acredito que só uma grande campanha, como foi a das Diretas já nos anos 1980, chamando para uma grande frente de salvação nacional, pode recolocar o País nos trilhos. Salvação nacional porque é a soberania que está em jogo. Um enorme movimento que empolgue o País e culmine com uma Constituinte com soberania popular, que aprove um novo modelo de desenvolvimento, uma nova maneira de se fazer política, uma democracia a ser exercida pelo povo, diretamente.

Qualquer movimento que contrarie a plutocracia, os poderosos que saqueiam o País, será fortemente combatido pelos meios de comunicação, há tempos transformados em porta-vozes do pensamento único.

Não basta vituperar o Partido Mídia. É preciso denunciar, explicar ao povo que não existe futuro sob a ditadura do capital financeiro, e, mais que tudo, apoiar a mídia alternativa, os jornalistas que com sacrifício estão publicando o que a grande mídia esconde, estão instigando a crítica, abrindo janelas de reflexão.

Aproveito para pedir o apoio de todos vocês à Diálogos do Sul, revista virtual bilíngue, sucessora de Cadernos do Terceiro Mundo, projeto que busca dar voz aos que lutam pela independência, integração entre os povos, a diversidade, a multicultura.


Foto: Beatriz Arruda
* Jornalista e editor de Diálogos do Sul. Texto apresentado à 11ª Plenária do Conselho Consultivo da Confederação Nacional dos
Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), no dia 18 de agosto de 2017.

 

 

 

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