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31/05/2017

Demanda pela engenharia precisa ser acompanhada pelo número de formados

Roberto Leal Lobo e Silva Filho* 

A segunda década do século 21 teve como maior característica acadêmica no ensino superior brasileiro o enorme crescimento da demanda pelos cursos de Engenharia.

Em 2009 escrevi um artigo na Folha de S. Paulo em que defendia iniciativas do governo brasileiro para incentivar a procura dos cursos de Engenharia, uma vez que a formação de novos engenheiros em nosso país estava quase estacionada há anos e com o crescimento do PIB, na época de mais de 3% ao ano, a probabilidade de haver uma escassez de engenheiros para sustentar nosso crescimento parecia uma real possibilidade.

Essa preocupação compartilhada com muitos colegas gerou um grupo de trabalho na Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), do qual fiz parte, chamado Pró-Engenharia, cujo objetivo era propor políticas que incentivassem a formação de novos engenheiros e sugerir ações para melhorar a qualidade dos formandos. A mobilização pela Engenharia teve consequências, como mostram os números.

Entretanto, outra marca da segunda década deste século no Brasil foi um crescimento muito expressivo do financiamento estudantil, ao qual se seguiu uma queda, também vertiginosa, que criou um grave problema para os estudantes e as instituições.

Cursos de Engenharia presenciais no setor privado passaram de 125.173 ingressantes em 2010 para 259.811 em 2015, um crescimento de mais de 100%, sendo o crescimento bem mais modesto no setor público, de 55.614 para 71.514 (28%).

Grande parte desse crescimento se deveu, é claro, ao aumento da oferta de vagas no setor privado, refletindo as prioridades da Engenharia no Fies e no programa Ciência sem Fronteira.

Por isso, e também com a crise econômica, o crescimento da oferta de novas vagas em Engenharia perdeu o pé e apresentou a maior redução no número de novos ingressantes no ensino superior em 2015, caindo no setor privado cerca de 12% em relação a 2014, o dobro do que caiu o número total de ingressantes no segmento privado, que foi de 6%.

Assim como há a incerteza no futuro em razão de tudo o que se passa com o Brasil, é muito difícil prever o comportamento da demanda pela Engenharia nos próximos anos, mas não é difícil antever que ela não voltará a atingir os altos níveis de crescimento dos primeiros anos da década atual.

[…] Outra marca da segunda década deste século no Brasil foi um crescimento muito expressivo do financiamento estudantil, ao qual se seguiu uma queda, também vertiginosa, que criou um grave problema para os estudantes e as instituições.

Até a década passada não havia muita diferença entre as matrículas de Engenharia no setor público e no privado. Agora, não. O setor privado está absorvendo mais de 75% dos novos candidatos a engenheiros.

O curso de Engenharia é caro e difícil, tanto em conteúdo quanto na exigência do tempo de estudo e de horas curriculares com aulas laboratórios e estágios. Em muitos países, mas não em todos, a evasão nas Engenharias é alta e maior do que a média observada nos demais cursos superiores e, por isso, agora devemos ter uma preocupação ainda maior, que é a possibilidade de uma evasão gigantesca, que poderá pôr em risco a saúde de vários cursos no setor privado e significar um forte desperdício de recursos em todos os sentidos, especialmente dos estudantes que financiaram seus cursos e que, por uma série de razões, não poderão concluí-los.

A partir dos dados existentes, podemos encontrar fortes indícios de que a tendência de baixa nas Engenharias deve permanecer por algum tempo.

Até 2015, o crescimento dos ingressantes no início da década vinha sendo razoavelmente bem acompanhada pelo crescimento do número de concluintes cinco anos depois.

No setor privado os ingressantes cresceram 33% de 2010 para 2011, enquanto os concluintes cresceram 27% de 2014 para 2015, como reflexo do crescimento anterior no número de novos alunos. Ou seja, essa titulação maior é reflexo do aumento de ingressos que não está mais acontecendo.

Com a provável estagnação, ou diminuição até, dos ingressantes, caberá ao setor privado, responsável atualmente pela maior parte das matrículas em Engenharia, rever sua oferta e seu planejamento em relação ao número de novos alunos e buscar obsessivamente evitar a deserção dos estudantes que já estão matriculados em seus cursos, evitando maiores prejuízos para si e para eles. Isso, é claro, sem introduzir facilidades academicamente espúrias.

As taxas de titulação dos cursos de Engenharia no setor privado ainda se mantêm abaixo de 40%, isto é, para cada cem estudantes que ingressam no primeiro ano, somente menos de 40 se formam ao final, sendo este um problema que, apesar de antigo, terá que ser enfrentado com ações planejadas e de forma institucionalizada, agora mais do que nunca.

Por outro lado, a resposta dos estudantes aos incentivos criados no início desta década aos cursos de Engenharia recebeu uma demanda impressionante, invertendo a inferioridade que os cursos de Engenharia tinham em relação aos demais cursos superiores no Brasil, sendo que os ingressantes passaram de 6% em 2010 para 15% em 2015, atingindo os patamares tão elevados quanto os dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Precisamos fazer com que esses engenheiros tenham uma formação adequada para ajudarem na retomada do crescimento nacional e isso será responsabilidade de professores e das instituições que assumiram o compromisso de oferecerem vagas nessa importante profissão para nossos jovens egressos do ensino médio e aos profissionais que já atuam no mercado de trabalho e desejam abraçar a nova profissão.



Roberto Leal Lobo e Silva Filho é ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP)

 

 

 

 

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