Mercado

Finalmente, ampliam-se oportunidades a engenheiros

Soraya Misleh

Apesar das elevadas taxas de juros e dos baixos investimentos, 2004 fechou como o ano em que a economia brasileira voltou a crescer. A recuperação no PIB – cuja expansão é estimada em cerca de 5% – impulsionou a abertura de vagas em diversos setores. Depois de anos à míngua, os engenheiros estão entre os que se viram diante de maiores oportunidades de trabalho, sobretudo a partir do segundo semestre de 2004.

Para Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), isso reflete o resultado positivo observado em segmentos altamente empregadores, como a construção civil. “Em outubro, a alta na taxa de ocupação foi de 5,8% e em novembro, de 4,3%, em relação a iguais períodos de 2003”, salienta. Na ótica de Luiz Parreiras, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), tal setor será um dos pilares da recuperação no mercado de trabalho em 2005.

Além desse segmento, a indústria também obteve desempenho favorável e contratou mais. “Na comparação anual, todos os meses foram de alta no nível de emprego, que variou entre 4% e 6%”, enfatiza Pereira. À categoria, esses números se traduziram em oportunidades diversas. “As empresas industriais contrataram bastante executivos da área técnica, de produção, que em grande número são engenheiros e chamam para suas equipes profissionais com tal formação”, constata Laerte Cordeiro, diretor-presidente da Laerte Cordeiro Consultores e Recursos Humanos. Dado o resultado negativo nos últimos dois anos, ele declara: “Não é nenhuma maravilha, mas em 2004 cresceu em 42% a procura por executivos de todas as áreas sobre os números de 2003. E para 2005, a previsão é de elevação de 25%. Aí temos um número que vai fazer muito mais efeito”, acredita. Quanto à procura especificamente por pessoal em cargos técnicos, segundo Frederico de Mello Eigenheer, sócio-gerente da Eigenheer & Associados, empresa de recrutamento e seleção de executivos, no ano passado aumentou em 50%. E neste ano deve crescer ainda mais, “porque o mercado está mais ativo”.

Emprego à vista
Cordeiro conclui que aumentou a demanda por engenheiros em empresas da área de produtos de consumo de massa e de telecomunicações, nas indústrias química, farmacêutica, automobilística, de autopeças e nas metalúrgicas. Eigenheer revela que em sua companhia a busca maior é por engenheiros ligados à área de produção, incluindo os de processos e projetos. Consultora de recrutamento e seleção da Manager Assessoria em Recursos Humanos, Ana Paula de Oliveira destaca que há muita procura por profissionais das áreas de mecânica e elétrica/eletrônica. E constata que cresceu a demanda por engenheiros de segurança do trabalho. Outra área com grande oferta de vagas à categoria, segundo ela, é a técnico-comercial.

Esses dados se confirmam quando se observa a captação de vagas na Bolsa de Empregos do SEESP, serviço gratuito de intermediação de mão-de-obra oferecido pelo sindicato aos engenheiros em convênio com o Sine (Sistema Nacional de Emprego). Além das modalidades que Oliveira citou, hoje são cobiçados pelas empresas os engenheiros civis e ambientais. Na disputa por uma vaga, têm mais chance aqueles profissionais com especialização, que conheçam softwares de engenharia como Autocad e MS Project e dominem outro idioma, preferencialmente o inglês. Além disso, junto à Bolsa de Empregos é exigido que o candidato tenha não só habilidades técnicas, mas um bom relacionamento interpessoal.

As expectativas otimistas apontam que profissionais com esse conhecimento não devem ser ignorados pelo mercado em 2005 e ao menos terão a chance de competir por um lugar ao sol. Mas o fato é que muito mais vagas poderiam surgir se houvesse mudanças importantes na política econômica do Governo Lula. Estudo do Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil) e Fundação Getúlio Vargas comprova, entre outros pontos, que os efeitos do aumento dos juros desde setembro ainda não foram sentidos e que taxas elevadas limitam o crescimento da atividade econômica. Além disso, investimentos em infra-estrutura para superar gargalos até agora não foram feitos.

Embora ainda sem projeções para 2005, o gerente do IBGE reconhece que os anúncios de alta na taxa de juros no segundo semestre do ano passado devem inibir as contratações. Independentemente disso, para o economista do Ipea, a perspectiva é positiva. “A expectativa em termos de crescimento do PIB para este ano é de 4%. A expansão vai continuar, com maiores oportunidades para todos.” Na sua análise, esse quadro só não vai se confirmar se houver uma catástrofe na economia mundial.


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