Mercado

Logística: uma área à espera de profissionais qualificados

Lourdes Silva

Nesses tempos bicudos, em que o desemprego atinge 12,8% da PEA (População Economicamente Ativa) e os engenheiros não estão livres dos apuros causados pela recessão, um nicho de mercado anuncia-se promissor à categoria: a logística, fundamental em diversos setores.

Anualmente, entre 10% e 15% dos engenheiros que se formam na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) ingressam no mercado de trabalho nessa área. A informação é de Orlando Fontes de Lima Júnior, professor do Departamento de Geotecnia e Transportes da Faculdade de Engenharia Civil e coordenador do Lalt (Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes). Ainda sem um curso de graduação que “enfatize questões necessárias a essa área”, a Unicamp lançará no segundo semestre um curso de especialização, conta o professor, que propõe a discussão sobre a habilitação do engenheiro logístico.

“É certo que a carreira é promissora e tem aumentado a procura por profissionais, mas o problema é que ainda há poucos disponíveis no mercado com formação apropriada”, concorda o professor Hugo Yoshizaki, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Para atuar nesse segmento, ensina ele, é preciso conhecer movimentação e armazenagem de materiais, equipamentos e gestão de transportes, pesquisa operacional, produtividade, gerenciamento da qualidade, estatística, administração de recursos humanos, engenharia econômica, finanças, tecnologia de informação, layout, planejamento, programação e controle de produção.  Na falta da graduação específica, Yoshizaki acredita que os mais adequados para atuar nesse ramo são os engenheiros de produção que, para conseguir a qualificação necessária, devem optar por uma especialização em administração industrial ou logística ou ainda pelo mestrado em sistemas logísticos, oferecido pela Poli.

 

Oportunidades – Quem consegue adquirir tal capacitação é recompensado. De acordo com o professor da Poli, os engenheiros acabam ocupando a maioria dos cargos em logística no Brasil. “Estão em indústrias como a Votorantim, Unilever, Coca-Cola, Ambev, Procter & Gamble, Alpargatas, Bunge Alimentos e Petrobrás, por exemplo. Ou em grandes redes varejistas e atacadistas como Pão de Açúcar e C&A. E ainda nos fornecedores de serviço logístico, como ferrovias, transportadoras, armadores e portos. Muitos também estão nas grandes empresas de exportação como a Companhia Vale do Rio Doce, a Empresa Brasileira de Aeronáutica, Aracruz, Cargill e Citrosuco”, listou.

Na avaliação de José Vicente Caixeta Filho, professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), atualmente o mercado de agronegócios é o que mais contrata profissionais qualificados na área de logística. Por isso, garante ele, as escolas que formam engenheiros agrônomos têm propiciado ensino e pesquisa envolvendo também atividades pós-colheita, como transporte, armazenamento e distribuição.

 

Eficiência – Tamanho arco de conhecimentos visa uma meta bastante clara: economia de recursos e conseqüente maior rentabilidade. O diretor executivo da Aslog (Associação Brasileira de Logística), Alfredo Netto, é taxativo: “Temos despesas desnecessárias por falta de racionalização.” Ele informa que enquanto no Brasil se gasta em torno de 15% a 20% com custos operacionais, na Europa, Estados Unidos e Japão dificilmente se ultrapassam os 5%. Para obter resultados semelhantes aos do Primeiro Mundo, ele acredita que os engenheiros poderiam atuar na simulação de rotas e oferecer a melhor opção entre os modais disponíveis.

Gerente do setor de logística do Carrefour desde 2002, André Ricardo Guidotti atesta que o mercado está em franca expansão. Para ele, a área é a coluna cervical do relacionamento transparente e da colaboração entre as empresas e tende a se desenvolver com o aprimoramento do gerenciamento da cadeia de abastecimento. Atuando diretamente nesse ponto, Guidotti acredita que o maior desafio seja “criar uma nova cultura e assegurar a comunicação clara, simples e uniforme entre os elos”.

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