Oportunidade

Aqüicultura é novo mercado para engenheiros

O cultivo de organismos aquáticos, atividade ainda nova no Brasil, desperta a atenção pelo crescimento anual gigantesco: aproximadamente 40%, segundo o professor Luis Vinatea.

Coordenador do primeiro curso nacional de graduação de engenharia de aqüicultura, implantado em 1999 na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) para atender à demanda por esse profissional na região Sul do País, ele revela: “Os primeiros engenheiros de aqüicultura, num total de 26, se formaram em 30 de agosto e já estão todos empregados.” Até o final de 2003, mais 30 devem concluir o curso, que tem duração de quatro anos e meio. Conforme sua informação, tais profissionais têm como opções atuar em pesquisa científica e tecnológica, docência e administração. São ainda absorvidos pelas fazendas de camarão de Santa Catarina e por empreendimentos particulares de cultivo de moluscos, como ostras e mexilhões. A criação desses organismos naquele estado chega a 10 mil toneladas/ano, de acordo com Newton Castagnolli, professor de pós-graduação do Caunesp (Centro de Aqüicultura da Universidade Estadual de São Paulo).

No Nordeste, onde a atividade teve grande desenvolvimento, principalmente com o cultivo de camarões, os números também empolgam. “Há dois anos a produção anual era de 10 a 15 mil toneladas. Em 2002, pulou para 60 mil e neste ano a expectativa é que possa chegar a 100 mil”, aponta Castagnolli, que é um dos pioneiros em piscicultura no Brasil, atuando na área desde 1968. Segundo ele, na localidade, observa-se ainda incremento da produção de tilapias, inclusive para atender o mercado estadunidense. O diretor da Abracoa (Associação Brasileira dos Criadores de Organismos Aquáticos), Jorge Menezes, ilustra: “Na Bahia, investiu-se R$ 60 milhões à exportação de filés para os EUA.” Com crescimento tão espantoso, a região tem gerado emprego e renda especialmente a engenheiros de pesca. Também os agrônomos são beneficiados, desde que tenham alguma especialização, como constata o engenheiro Carlos Alberto Arfelli, pesquisador do Instituto de Pesca em São Paulo.

Na ótica de Castagnolli, apesar dos números ascendentes particularmente no Sul e Nordeste do País e de esforços isolados em outras regiões, para deslanchar e absorver efetivamente tal mão-de-obra, o setor carece de um programa nacional de incentivo. “Temos 200km de costa exclusiva e somos um dos países com maior potencial para desenvolver os peixes via aqüicultura marinha. É preciso mais seriedade na montagem da cadeia produtiva.”

Em São Paulo, por exemplo, conforme ele, há boas iniciativas pontuais, inclusive em sistema de cooperativismo, porém existem processadoras de peixes ainda funcionando de forma amadora. Na sua concepção, a engenharia é fundamental para a prática da aqüicultura sustentável, que implica a construção bem-feita de viveiros de camarões, tanques-rede no mar ou rio (gaiolas colocadas na água onde são cultivadas as espécies) e sistemas que preservam o meio ambiente. “É preciso ter um responsável técnico.” Conforme o engenheiro agrônomo e consultor técnico Fábio Mori, embora outros profissionais, como biólogos, oceanógrafos e zoólogos, estejam habilitados para exercer a função, mesmo eles não dispensam a contratação de um da categoria à implantação das instalações físicas da criação. Somente o engenheiro pode fazer o projeto completo, tanto civil, quanto na parte de manejo e alimentação.


Potencial ocioso
Como o setor não está organizado, quase não se encontra peixe cultivado no mercado. A maioria destina-se aos pesque-pagues. Assim, muito desse potencial não é aproveitado e vários empregos deixam de ser gerados. Menezes acredita que a situação vai mudar. “Fatalmente acontecerá com o peixe o que ocorreu com o frango, em que massificou-se a produção, o preço barateou e o consumo aumentou.” A aqüicultura será a opção no médio prazo para levar esse alimento à mesa de todos. Até porque, conforme Castagnolli, “o mar não está muito para peixe” para a pesca tradicional. O diretor da Abracoa confirma: “Cada vez os barcos têm que ir mais longe e ser mais bem equipados. O esforço é muito grande e os estoques não estão se repondo. Há dez anos, no mundo inteiro, não se pesca mais que 100 milhões de toneladas/ano.”

Na análise de Mori, o desenvolvimento desse setor significará mais oportunidades aos engenheiros já nos próximos dois anos. De olho no mercado incipiente, vários profissionais da categoria vêm abrindo seu negócio na área. Um deles é o agrônomo Paulo Martins. Proprietário da Piscicultura Santa Cecília, em Euclides da Cunha Paulista, oeste do Estado de São Paulo, ele está há dois anos no mercado, quando iniciou o processamento de tilapia tailandesa. Com um projeto de tanques-rede, sua produção média anual é de 250 toneladas de pescado. O sucesso da iniciativa deve-se ao planejamento correto do empreendimento,  que detectou o mercado a ser atingido: bares, restaurantes e hotéis. Apesar de sua formação, ele contrata assessoria especializada. “Profissional com amplo conhecimento na área é indispensável. A produção é complicada e melindrosa”, justifica.

Proprietário do Sítio Eleonor, localizado em Conchal, o engenheiro Ricardo Luiz Coser é outro que investiu em aqüicultura. “Ingressei nesse setor há uns cinco anos, aproveitando áreas disponíveis na propriedade.” Sua pequena produção – 20 toneladas/ano – de tilapias, pacus e matrinxãs é destinada aos pesque-pagues. Para ele, esse segmento já não é tão atrativo. “O futuro é o sistema de tanque-rede. É preparar melhor o peixe, filetá-lo, para atender tanto exportação, quanto supermercados. Mas não tenho condições de fazer isso. Só se eu me associasse a outros pequenos produtores.”

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