Memória

Decisões políticas marcam história da siderurgia no Brasil

Os primórdios da indústria nacional de aço remontam ao primeiro século da colonização portuguesa. Em 1587, Afonso Sardinha instalou uma fábrica com torno de refino à margem do Ribeirão Jaribatuba, próximo à cidade de São Paulo. Três anos mais tarde estabeleceu uma forja catalã e dois fornos para produção de ferro a partir de minério, no Morro de Araçoiaba, na atual região de Sorocaba. Em 1795, desafiando a determinação da mãe, Dona Maria, a louca, D. João VI autorizou a construção de fábricas e manufaturas de ferro. Já no século XIX, surgiram, entre outras, em São Paulo, a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, próxima a Sorocaba; em Minas Gerais, a Real Usina de Ferro do Morro Pilar, a Usina Patriótica, em Congonhas do Campo, e a Fábrica de São Miguel de Piracicaba, em Caetés;  e em Niterói, a Fábrica de Ponta d’Areia. Contudo, o desenvolvimento era prejudicado pelos altos preços dos equipamentos importados. Assim, a siderurgia só teria impulso significativo no começo do século XX, com o início da industrialização.


Desenvolvimento
À época, o ferro à indústria nascente saiu dos altos-fornos das usinas Esperança e Miguel Burnier, ambas em Minas Gerais, e de fundições, forjarias e oficinas. A primeira corrida do aço no Brasil data de 1918, na Usina da Companhia Mecânica e Importadora, em São Caetano do Sul. Em 1919, em São Paulo, a Fábrica de Aço Paulista instalava um forno elétrico para fundir peças de aço. Em 1922, a Companhia Metalúrgica Brasileira começava a produzir. A inauguração do primeiro forno Siemens-Martin ocorreu na Belgo-Mineira, em 1937.

O grande salto para a siderurgia no Brasil só se daria em 1941, quando Getúlio Vargas conseguiu o financiamento de US$ 20 milhões junto ao Eximbank para construir a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), na cidade fluminense de Volta Redonda. O feito foi fruto do acordo com os Estados Unidos, que desejavam instalar bases militares no Nordeste. Em troca, o presidente brasileiro exigiu o empréstimo e a participação na guerra, o que se deu com a FEB (Força Expedicionária Brasileira). A fábrica produziu coque metalúrgico, pela primeira vez, em abril de 1946, e, no mês de junho, ativou os altos-fornos e a aciaria. As laminações passaram a produzir em 1948, consolidando o início da autonomia brasileira na produção de ferro e aço – essa indústria foi privatizada em 1993.

Desde os tempos da origem da CSN, “carro-chefe para o desenvolvimento industrial no País”, na opinião do engenheiro metalurgista Horacídio Leal Barbosa Filho, diretor-executivo da ABM (Associação Brasileira de Metalurgia e Minério), a tecnologia avançou muito. Segundo ele, continuam em uso os altos-fornos, com melhorias, mas “a corrida do aço (tempo de fabricação), que demorava 16 horas até a década de 60, já foi reduzida a 30 minutos”. Outra inovação, nos anos 50, foi a implantação do lingotamento contínuo para solidificação do aço. Em 1953, nascia a Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), em Cubatão – leiloada em 1993, passando ao controle do Grupo Usiminas, fundado em 1956 e privatizado em 1991. Na opinião de Barbosa, a engenharia foi essencial no desenvolvimento da siderurgia, “mas a tecnologia infelizmente ainda vem de fora”.

Texto anterior
Próximo texto

JE 217