Ferrovia ascende com café, mas não acompanha indústria

A primeira estrada de ferro no Brasil, ligando o Porto de Mauá (interior da Bahia da Guanabara) à Raiz da Serra (Petrópolis), data de 1854. O avanço deu-se por iniciativa de  Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. Ele também seria o responsável pelo nas­cimento da Estrada de Ferro Santos a Jun­diaí, mais tarde São Paulo Railway Company Limited, conhecida como a Inglesa – até 1947, quando foi nacionalizada.

A linha foi inaugurada em 1867, após inú­meras dificuldades técnicas. “O trecho construí­do na Serra do Mar foi um prodígio de enge­nharia. Para vencer 800m de altura e 8km de extensão, utilizou-se o sistema funicular – em planos inclinados, os trens eram puxados por cabos de aço tracionados por máquinas a vapor fixas e ligados a um carro especial denominado Serra-Breque, com freios que ‘morderiam’ os trilhos em caso de emergência. Esse veículo não tinha força motriz. Mais tarde, era construí­da uma outra via para o trecho. Máquinas fixas em cinco patamares, com maior capacidade de carga, começavam a ser empregadas. Serra-Breques foram substituídos por pequenas loco­motivas a vapor, com força de tração própria e com a mesma finalidade de acoplamento aos cabos. São as chama­das loco-breques”, conta a “História da Ferrovia”, no site da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

A Inglesa não se interessou em explorar novos ramais além de Jundiaí, o que foi feito por cafeicultores e comerciantes paulistas, que fundaram, em 1868, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Essas ferrovias acompa­nharam a expansão do plantio do café: Campinas (1872), Itu (1873), Mogi Mirim e Amparo (1875), Rio Claro (1876), Casa Branca (1878) e Ri­beirão Preto (1883). Nesse período, foram criadas outras empresas, destacando-se Ituana e Sorocabana (1870), Mogiana (1872), Melhoramentos de São Simão (1890), posteriormente chamada São Paulo e Minas (1906), e Araraquara (1895).


Declínio
O período áureo dos empreendi­mentos privados na ferrovia, no entanto, não ultrapassou o início do século XX. A partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Paulista começou a per­der a condição de empresa ferroviária modelo. Em 1961, o Estado tornou-se o seu maior acionista. Em 10 de novembro de 1971, a Companhia Paulista de Estra­das de Ferro incorporou as demais ferro­vias do Estado para formar a Fepasa (Ferrovia Paulista S/A).

A industrialização do País não foi acompanhada do desenvolvimento da ferrovia, que perdeu espaço para o trans­porte rodoviário. As décadas de 40 a 60 marcaram o abandono quase total das fer­rovias de São Paulo. Pelo Brasil, a preca­riedade das estradas de ferro pertencentes à União levou à criação da Lei 3.115, de 16/3/1957. Assim surgiu a RFFSA (Re­de Ferroviária Federal) para unir 18 estra­das de ferro. Em 1992, ela foi incluída no Plano Nacio­nal de Desestatização, abrangendo a Fepasa como Malha Pau­lista, que, no leilão rea­lizado em 1998, passou ao controle da Ferroban (Ferrovias Bandeirantes S/A). 

O processo de volta à iniciativa privada    recebeu críticas dos ferroviários, que denunciaram  a “partilha de sua malha e equipamentos, desrespeitando regras estabelecidas para subconcessão no edital de privatização”, além da desativação do transporte de passageiros.

A situação melancólica da ferrovia no Brasil, avalia o engenheiro eletricista Álvaro Orlando Merli, que atua no setor desde 1972, deve-se à não-integração entre ferrovia e rodovia. Apesar da situação, ele aposta numa receita para a recuperação: “No Brasil, o potencial de crescimento é grande, mas exige investimento de longo prazo.”

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JE 202