Movimento dos ferroviários busca dignidade e justiça

As mazelas por trás das manobras que vêm acontecendo na Ferroban (Ferrovias Bandeirantes) desde janeiro de 1999, quando a nova gestão assumiu seu controle acionário, constam de documento elaborado por ferroviários. O objetivo é chamar a atenção das autoridades e da opinião pública, de modo a buscar solução aos impasses que vêm se impondo: nova cisão da companhia, afastamento de funcionários e um PDV (Plano de Demissão Voluntária) que contraria todos os direitos dos trabalhadores. Segundo os integrantes do movimento, em janeiro último, os controladores da Ferroban anunciaram nova composição de sua diretoria – que passou a ser comandada pelos dirigentes da Ferronorte (Ferrovias Norte Brasil) – e a reestruturação de pessoal. Para eles, trata-se de “intenção declarada de demitir aproximadamente 1.400 e ainda efetivar a terceira cisão da malha ferroviária, alterando novamente a Malha Paulista, ex-Fepasa, originalmente concedida no leilão ocorrido em 10 de novembro de 1998, no processo de privatização, mediante ‘acordo operacional’ firmado em dezembro de 2001 entre as concessionárias Ferroban, Ferronorte, Novoeste e FCA (Ferrovia Centro Atlântico), cujo acionista majoritário é a Companhia Vale do Rio Doce.”

Conforme os ferroviários, a cisão da Ferroban foi implementada a partir de 11 de janeiro, “sem autorização prévia do Ministério dos Transportes”, contrariando contrato de concessões. Além disso, a incorporação da FCA está sob análise no Ministério da Justiça. Um primeiro trecho da Ferroban, cindido a favor dessa em 2000, até hoje não foi autorizado pelos órgãos competentes, por haver obstáculos legais referentes à concentração acionária, ferindo o edital de privatização da Malha Paulista. Mesmo assim, a empresa promoveu alterações na operação ferroviária, a transferência de funcionários entre as companhias e colocou mais de mil em licença remunerada.  


PDV contraria direitos
No dia 20 de fevereiro, a Ferroban apresentou aos funcionários afastados um PDV, no qual reconhece, na teoria, o direito de cada empregado oriundo da extinta Fepasa às verbas indenizatórias, de acordo com a cláusula 4.49 – reconhecido pelo Tribunal Superior do Trabalho no julgamento do dissídio coletivo do exercício de 2000. Porém, na prática, essa não tem sido a postura da empresa. Aliás, desde o início de suas atividades, a companhia propõe a flexibilização da 4.49, sob pretexto de que atravanca seu progresso e a evolução profissional, o que não é verdade.

Nos estudos prévios para determinar o preço mínimo de venda da Fepasa, levou-se em conta o valor das indenizações dos empregados previstas na cláusula 4.49 em caso de demissões futuras pelo arrematante. O Conselho Nacional de Desestatização, através da Resolução nº 8, de 25 de junho de 1998, elegeu o grupo que fixou o preço mínimo em R$ 230,4 milhões — já descontados
R$ 244,8 milhões para ser usados em dispensas pelo grupo vencedor do leilão, conforme edital de licitação.

Os balanços publicados pela Ferroban nos exercícios de 1999 e 2000 tornam pública a disponibilidade de verba para indenização dos empregados. Mas a companhia optou por aplicar R$ 107 milhões no ajuste do quadro de funcionários e utilizar o restante para outros fins, ficando, portanto, uma diferença de R$ 138 milhões.

As evidências deixam claro: em caso de demissão, a empresa não pode alegar que é inviável pagar indenizações previstas ou que essa dívida é da União (Rede Ferroviária Federal). Isso constava no edital e ela só precisou pagar 5% de ágio. Além disso, o valor descontado na compra da estatal, aplicado no mercado financeiro por três anos, mais a perda da massa salarial em torno de 25% nesse período já renderam bônus aos acionistas. A Ferroban optou por lançar vários planos de acordos bilaterais incentivados. Se o resultado deles reduziu o quadro de pessoal de forma inversamente proporcional, sem levar em conta a qualidade do efetivo, foi por falta de planejamento da administração, não cabendo qualquer responsabilidade aos empregados remanescentes, como querem que pareça, tentando legalizar a retirada de direitos.


Políticos recebem documento
O SEESP, através de seu presidente, Murilo Celso de Campos Pinheiro, e os engenheiros ferroviários estão encaminhando documento às autoridades denunciando irregularidades cometidas pela Ferroban, na expectativa de reverter a situação atual. O primeiro a receber e manifestar apoio foi o deputado estadual Nivaldo Santana. No dia 16 de março, em São José do Rio Preto, o documento foi entregue ao ministro da Justiça, Aloysio Nunes, que se propôs, na presença de diretores do SEESP e do prefeito local Edinho Araújo, a analisar e buscar solução. No dia 21, a convite do prefeito de Rio Claro, professor Claudio de Mauro, a denúncia foi apresentada no 46º Congresso Estadual de Municípios, que contou com a presença Luiz Henrique Teixeira Baldez, secretário nacional de Transportes Terrestres, de diversos prefeitos, vereadores, secretários municipais e estadual e deputados.

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