Inspeção técnica veicular integrada trará inúmeros benefícios

O Ministério da Justiça anunciou na imprensa, como prioridade, regulamentar, através do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), órgão a ele atrelado, o programa de ITV (Inspeção Técnica Veicular) no País. A atitude pode mudar a triste realidade nacional: cerca de 50 mil mortos e 350 mil feridos a cada ano em acidentes de trânsito. Esse número seria reduzido substancialmente – especialistas falam em 10% a 15% – se houvesse ITV periódica no Brasil. Ou seja, avaliação dos itens de segurança e de emissões de poluentes dos veículos da frota nacional circulante – estimada em 29,5 milhões, segundo dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) relativos ao ano 2000 –, por ocasião do licenciamento. Após a vistoria, somente seriam autorizados a circular os carros em condições seguras. Os demais necessariamente teriam que fazer os devidos reparos e passar por nova análise para receber o certificado de aprovação.

Além da redução dos acidentes propiciada por essa medida, Jurij Solski, coordenador do Comitê de ITV no Conselho Tecnológico do SEESP e diretor da Delegacia do Sindicato no Grande ABC, enumera outros benefícios: diminuição anual drástica dos custos sociais decorrentes da poluição, dos congestionamentos e dos acidentes; geração de aproximadamente 22 mil empregos diretos, entre inspetores de linha, instrutores, gerentes e engenheiros, e mais de 60 mil indiretos, nas oficinas mecânicas e nas indústrias de autopeças; prolongamento da vida útil dos veículos e valorização e segurança na comercialização de usados; diminuição de roubo, furto e clonagem de veículos em função de análise de sua identificação nas estações de inspeção; inibição da venda de peças de baixa qualidade; convergência com o programa de renovação da frota; capacitação tecnológica nacional no campo das inspeções veiculares; redução das emissões de ruídos e poluentes, inclusive dos gases de efeito estufa.

O serviço será cobrado dos proprietários de veículos, porém, na análise de Adauto Martinez Filho, presidente da Comissão da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para Elaboração de Normas de Inspeção Veicular, não representa ônus real à população. Isso porque, além de todas as vantagens que propiciará, o programa de inspeção pode reduzir entre 5 a 7% o consumo de combustível, por exigir melhor regulagem dos veículos. “Obviamente esse é um percentual médio, mas somente tal economia paga a tarifa”, explica.


INOCOERÊNCIA
Apesar das inúmeras vantagens, a implantação da ITV, prevista no Código de Trânsito Brasileiro – Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 –, vem sendo sistematicamente adiada no Brasil há anos. O prazo ao Contran regulamentar a inspeção venceu em 22 de maio de 1998. “Não há nenhum impedimento técnico para justificar esse atraso”, assegura Martinez. Os mecanismos normativos e tecnológicos, segundo ressalta Solski, já existem em nível nacional desde 1997.

“Muita gente pensa que é um assunto novo, mas o antigo Código de Trânsito, de 1966, já previa inspeção obrigatória em todos os anos no licenciamento. Todavia, na prática, isso nunca aconteceu. As primeiras iniciativas concretas surgiram com a publicação de resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), em 1993, à inspeção ambiental e regulamentação pelo Contran, dois anos depois, da parte de segurança, com a Resolução 809/95. Essa foi revogada e brecou os processos de licitação em andamento. Se isso não tivesse acontecido, já teríamos inspeção no Brasil inteiro desde 1998”, garante Martinez. Na sua visão, existe uma falta de sintonia entre as áreas envolvidas e uma disputa entre os poderes. “Alguns defendem que a inspeção seja municipal (caso de São Paulo), outros estadual e há quem queira que seja federal. O Código de Trânsito define bem os papéis de cada nível de governo. Cabe à União regulamentar e controlar, aos estados executar e os municípios não têm participação na inspeção.”


RESPONSABILIDADE
O SEESP, através de seu Comitê de ITV, elaborou um trabalho básico, com a participação de 25 entidades técnicas nacionais representativas do setor automobilístico, e enviou-o ao Denatran em setembro de 1999. Denominado “Aspectos Relevantes para a Regulamentação do Programa de Inspeção Técnica de Veículos no Brasil”, defende a inspeção integrada (de segurança e ambiental), realizada em um único local, sob a responsabilidade de engenheiros.

Segundo Solski, a elaboração do laudo final da vistoria deve ser atribuição desse profissional, por se tratar de serviço que envolve responsabilidade civil e criminal. “É recomendável que, para um melhor funcionamento e atendimento aos usuários, cada estação possua um engenheiro responsável em tempo integral, seguindo os bons exemplos internacionais. Os inspetores-operadores precisam ter formação técnica de segundo grau, especialização nessa área e ser registrados no Crea. As empresas devem manter rígidos sistemas de garantia da qualidade do serviço, em função das severas penalidades por falhas de performance que devem ser previstas pelos órgãos governamentais nos contratos de concessão.”

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