LINGUAGEM DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O melhor termo para identificar os GEE (Gases de Efeito Estufa) nos meios de comunicação é mesmo poluição. Essa foi minha divergente opinião na lista da internet do “Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas” (Forumclima) sobre um suposto erro muito cometido por jornalistas, conforme reclama vigorosamente um colega acadêmico.

Em carta ao “O Globo”, sua recomendação foi: “...abolir o uso do termo poluição ao se tratar de efeito estufa, aquecimento global e mudanças climáticas, em substituição ao qual pode-se utilizar emissão de gases de efeito estufa ou ainda emissão de GEE.”

Divergi primeiro porque, ultrapassada certa concentração na atmosfera, os GEE  alteram o equilíbrio da biosfera à semelhança de outras substâncias popularmente conhecidas como poluentes, presentes na água, solo ou ar. Ajustam-se esses gases, portanto,  à definição de poluição quando suas concentrações escalam acima dos 280ppmv da era pré-industrial.

Em segundo lugar – desprezando-se filigranas do restrito mundo acadêmico –  porque os GEE são, em  grande parte, emitidos simultaneamente com poluentes que causam sérios danos à saúde, como os hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio, particulados, monóxido de carbono e óxidos de enxofre. Emissor de GEE é, portanto, poluidor, no sentido mais estrito da palavra. Controlar GEE significa reduzir a poluição local. Controlar a poluição do ar reduz emissões de GEE.

Em razão disso, os fóruns estratégicos de discussão e ação, relacionados com esses dois fenômenos individuais, como a mídia,  o Forumclima, os PCPVs (Planos Estaduais de Controle da Poluição por Veículos – exigência das resoluções Conama 18/95 e 256/99), o Comitê Consultivo de Controle da Poluição do Ar da Região Metropolitana de São Paulo (criado por decreto em 1996) e o Clean Air Initiative for Latin American Cities do  Banco Mundial, ao analisarem um desses temas, não podem, jamais, deixar de considerar o outro, pois trata-se de dois lados da mesma moeda.

Veja-se o artigo da Revista “Science”, “Hidden Health Benefits of Greenhouse Gas Mitigation”; os autores poderiam  escrever também o artigo “Hidden Global Climate Benefits of Local Air Pollution Mitigation”. Aliás, os órgãos de meio ambiente, por decisão própria ou por futura exigência do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), deveriam fazer estudos sistemáticos de avaliação de seus programas de controle de poluição e preservação ambiental, quanto à quantidade de emissões de GEE evitada com sua implementação. Esse indicador poderá dar o que falar e o que fazer no futuro!

Por último, discordei do colega da academia porque os jornais, rádio e TV são dirigidos para as massas e terão o exclusivo condão de engrossar o clamor popular (traduzido pelos políticos como votos) pela adesão das autoridades aos compromissos internacionais de combate aos GEE. Imagine-se esse bate-papo entre um grupo de taxistas “antenados”: “Caramba, vocês viram nos jornais a caradura do Bush de virar as costas para o mundo no caso do combate à poluição? É, o homem não é brinquedo não! Eles vão continuar a poluir adoidado, e o mundo que se lasque!” ....ou então, a mesma conversa segundo a linguagem acadêmica: “Viram a atitude unilateral do Bush em relação aos compromissos internacionais de redução das emissões de GEE, as substâncias supostamente responsáveis pelas alterações climáticas globais?” Arrrrrgghhhh ??!!... (arrepios)

Tenho observado nesses vinte e tantos anos de bigorna que o discurso simplificado, quando honesto, é bem-vindo na comunicação técnica – inclusive no meio acadêmico! Simplifique-se, então, a linguagem jornalística das mudanças climáticas globais... ooops, da poluição do planeta.

Eng. Olimpio de Melo Álvares Jr.
Gerente na Cetesb (Companhia de Tecnologia 
de Saneamento Ambiental)

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