A PERFEITA ENGENHARIA DA NATUREZA

As formas encontradas nos reinos animal, vegetal e mineral dão lições de engenhosidade e serviram de inspiração para muitas descobertas. Essa é a conclusão a que chegou Augusto Carlos de Vasconcelos, autor do livro “Estruturas da Natureza”, lançado no ano passado. Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP em 1948 e especialista em estruturas, ele tornou-se um entusiasmado pesquisador do tema.

O projeto nasceu em 1978, quando foi convidado a dar uma palestra aos alunos do curso de Arquitetura do Mackenzie sobre as estruturas criadas pelo homem. “Depois de muito pensar sobre o assunto, sem desejar ser repetitivo, julguei que seria mais interessante mostrar o que já existe na natureza. Nós só nos inspiramos naquilo que vemos e guardamos em nosso arquivo no cérebro. Quem nunca viajou ou leu não possui nada para manipular. Quem viu muita coisa tem mais em que se inspirar para seus projetos”, considera. A fórmula para despertar a atenção dos estudantes deu tão certo que se transformou em objeto de estudo constante. A partir dos anos 90, surgiu a idéia de organizar as pesquisas em uma obra, dividida em três capítulos. O primeiro trata das estruturas minerais: penhascos especiais, pontes naturais, arcos de arenito, grutas calcárias, cristais de neve, estruturas de gelo, cânions. “A mais notável ponte natural é o Arco Paisagem, no Parque Nacional dos Arcos, estado de Utah, nos Estados Unidos. São 90m de vão, flecha de 30m, com espessura de rocha de apenas 1,8m. Adotando a densidade de 2,5tf/m3, chega-se ao empuxo de 500tf. No entanto, a tensão de compressão na rocha é somente de 8 kgf/cm2, valor relativamente baixo”, exemplifica.

A segunda parte fala das construções feitas pelos animais, com diversas finalidades, como criação da prole, abrigo, proteção contra predadores e até para entretenimento. “Um engenheiro especialista em estruturas tensionadas tem muito a aprender ao acompanhar passo a passo o que as aranhas fazem. As obras dos castores, que constroem barragens para formar um lago onde eles possam sobreviver no inverno e se defender dos predadores deixam qualquer engenheiro hidráulico totalmente humilhado”, garante.  No último capítulo, entram as estruturas vegetais. “É atribuída ao engenheiro francês Eugênio Freyssinet a invenção do concreto protendido, com grande repercussão na execução de obras arrojadas. Entretanto, a protensão já existe na natureza, principalmente no tecido vegetal, em troncos de árvores, como as sequóias, que chegam a mais de 100m de altura e têm grande resistência.”

E os exemplos da imitação da natureza pela Engenharia são numerosos. Georges de Mestral inventou o velcro (“vel” de velours, ou veludo, e “cro” de crochet, ou gancho) ao tentar entender porque os carrapichos grudavam-se à sua roupa quando passeava pelos campos. A vitória-régia serviu de inspiração a Joseph Paxton no projeto do palácio de cristal em Londres (1851). “Basta alguém se deter no exame da natureza para ‘criar’ algo notável e se celebrizar como grande arquiteto ou fantástico inventor”, conclui o pesquisador.

Estruturas da Natureza – um estudo de 
interface entre Biologia e Engenharia
Carlos Augusto de Vasconcelos, São Paulo, 
Studio Nobel, 2000, 312 páginas, R$ 96,00.

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