NÃO À ALCA: ACORDO DESIGUAL 
TRARÁ IMPACTOS DESASTROSOS

Maior degradação do meio ambiente, dos direitos trabalhistas e democráticos, aprofundamento das privatizações, desindustrialização e desemprego  estão entre as conseqüências previstas caso o Brasil resolva integrar-se à Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

De acordo com o embaixador do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, o acordo será uma espécie de extensão do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) piorada. “Vai consolidar por tratado o compromisso de os países não terem tarifa nem barreiras. Isso significa não poder ter uma política comercial, essencial a um País com a vulnerabilidade externa do Brasil. É preciso gerar um superávit, e, para tanto, ter políticas muito ativas de promoção das exportações, de financiamento, de crédito e, ao mesmo tempo, de controle de importações. E a Alca impossibilitaria isso,  impediria a atuação do Estado no sentido de disciplinar o capital estrangeiro.” Conforme ele, qualquer regra sobre fluxos especulativos não seria possível. “As empresas  vão dizer o que o Governo pode ou não fazer. É algo extraordinário, que ocorre no Nafta.”


Ameaça à América Latina
Com o objetivo de eliminar as barreiras alfandegárias entre os 34 países das Américas (exceto Cuba), que representam uma população aproximada de 800 milhões de pessoas e um PIB de cerca de US$ 10 trilhões, as negociações para a formação do maior bloco comercial do mundo vêm sendo conduzidas sob sigilo desde 1994 e devem se encerrar em 1º de janeiro de 2005. O prazo final foi definido em reunião entre ministros dessas nações, realizada em abril último em Buenos Aires, bem como a data ao início da sua implementação: 1º de janeiro de 2006.

Pelo que se conhece da minuta de acordo referendado em Quebec também no mês de abril por 33 dos possíveis integrantes da Alca, sem ressalvas – apenas a Venezuela não assinou –, dá para prever que o tratado  “significará grave piora das condições de vida nos países em desenvolvimento no Continente”. A constatação foi feita pelo presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, em palestra proferida durante o evento “O Brasil e a Alca”, promovido pela Câmara dos Deputados nos dias 23 e 24 de outubro último. “Embora oferecida na bela embalagem da modernidade, claro está que, da forma como se apresenta, trata-se de um ótimo negócio para os Estados Unidos e uma grande ameaça ao povo latino-americano.”

Antônio Othon Pires Rolim, membro da Attac-SP (Associação pela Taxação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos), alerta para a “assimetria” existente entre as diversas nações. “Há diferença grande de custos e alíquotas e, em produtos como aço e couro, que temos preço excelente por sermos detentores de tecnologia, há uma superproteção nos EUA e disso eles não abrem mão. Não há condição de concorrência.” O embaixador Guimarães dá uma idéia da desigualdade vigente: “Na organização mundial de propriedade intelectual, as empresas americanas em 2000 apresentaram 39 mil pedidos de patentes, enquanto as brasileiras 180.”


Plebiscito e mobilização
Para o embaixador, que não acredita na possibilidade de acordo equilibrado, porque os EUA já declararam que não vão negociar direitos compensatórios, o caminho para se impedir o ingresso do Brasil na Alca é mobilização. Murilo concorda: “Se a globalização é um fato, a inexistência de regras para o convívio civilizado no Planeta não o é. A Alca não é uma fatalidade e é preciso que nos organizemos e nos mobilizemos contra a proposta tal como está.” E lembrou os princípios estabelecidos na “Carta de São Pedro”, documento síntese do I Congresso Estadual do SEESP, “Trabalho–Integração–Compromisso”, realizado em São Pedro, em agosto último. “Defendemos os interesses nacionais dentro do processo dinâmico da globalização.  Apoiamos a proposta de um plebiscito e ressaltamos o vital respeito aos princípios fundamentais da Constituição Federal, que defende que o Brasil busque a integração dos povos da América Latina.”

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