ENGENHEIRO ABRAÇA PSICOLOGIA JUNGUIANA

Formado em Mecânica em 1976, curso que começou na FEI e terminou na Universidade Brás Cubas, o engenheiro Marcos Manhanelli, após 16 anos de carreira na área de Transporte de Materiais, decidiu começar tudo de novo. Em 1992, aos 43 anos, ele prestou vestibular e decidiu encarar um curso integral na PUC de São Paulo: Psicologia.

Além da evidente influência da esposa psicóloga, Manhanelli acredita que a vocação já se manifestava desde o curso de Engenharia. “Quando estava terminando, fiz um trabalho sobre automação, dentro da matéria Sociologia do Trabalho. Nele, eu abordava o fato de o engenheiro, de uma certa forma, ter se perdido na disputa com a máquina sem perceber que estava além dela e tinha uma responsabilidade humana, de cujo foco não poderia se desviar. Acho que já era uma semente.” Depois, apesar do foco no setor de Logística, ele diversificou suas atividades, que passaram pela área de treinamento, redator da antiga revista da Editoria Abril, Transporte Moderno, além de empregos nos setores público e privado.

A decisão de mudar radicalmente veio no início dos anos 90, depois do Plano Collor, quando, como gerente comercial da revista Transporte Moderno, para onde havia voltado,  viu o mercado em que atuava mostrar sinais de recessão. “Estava absolutamente parado, não havia nada que se pudesse fazer ou propor para mudar aquele quadro. Nisso,  surgiu a Psicologia como possibilidade, o que vinha sendo discutido dentro do meu processo terapêutico.” Embora estivesse migrando para uma área completamente distinta da sua e fosse o ser estranho na PUC, Manhanelli fez uso da sua formação no novo curso. “Com a objetividade, interesse e  curiosidade típicos de engenheiro, me diferenciei como um estudante muito dedicado de Psicologia.”

Durante o curso, novamente por influência da mulher, ele optou pela Psicologia analítica. Após a graduação, fez uma especialização em Gerontologia no Hospital do Servidor Estadual e depois uma complementação em Jung , com abordagem corporal. O trabalho de conclusão de curso havia sido sobre novos paradigmas de relacionamento afetivo, abordando a proposta junguiana. “A concepção é de que cada pessoa tem um caminho,  chamado de processo de individuação, no qual deve se completar como ser humano. Com isso, o relacionamento seria de encontro, não de complementação”, explica o psicólogo que garante haver ainda aí “a marca da Engenharia e do cartesianismo, mas agora transformada”.

Mesmo assim, a passagem do concreto para o sutil não deixou de ser sofrida. “O engenheiro tem como objetivo construir, propor soluções; o terapeuta não, ele está ao lado de alguém que precisará ter suas próprias saídas.” Apesar do choque, Manhanelli acredita que mesmo no consultório a experiência pregressa é uma vantagem, tendo em vista que o trabalho é a fonte de angústias de muitos pacientes, especialmente homens que, por muito tempo, tiveram aí o seu principal reconhecimento na sociedade. “A vivência que eu tive em empresas é um diferencial como terapeuta. A minha audição do que as pessoas me trazem hoje está transformada, modificada pelo que eu pude viver”, avalia.

Atendendo desde 1997, o engenheiro-psicólogo vê boas perspectivas na carreira e não pretende voltar ao antigo ramo. Apesar disso, ainda mantém registro profissional junto ao Crea-SP e é sócio do SEESP, cujos serviços utiliza até hoje. “A  essa altura do campeonato, pode ser atavismo, um tipo de amuleto”, brinca.

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