ACIDENTES E NEGLIGÊNCIA CONTINUAM 
SEM RESPOSTAS

Na edição 162 do Jornal do Engenheiro, alertamos sobre uma das mazelas do sistema de distribuição de energia elétrica na região da Grande São Paulo, que estariam causando graves acidentes. Pela importância do fato, esperávamos por explicações da empresa concessionária. Contudo, para nossa surpresa, na edição 164, foi publicada resposta da CSPE (Comissão de Serviços Públicos de Energia). Em sua argumentação, o comissário geral da autarquia afirma que o valor da corrente de falta a terra é insuficiente para sensibilizar os relês de sobrecorrente de neutro. No entanto, ainda assim, permite o aumento do valor da corrente de ajuste de 1A para 5A, o que inibe a proteção e coloca em risco todos que circulam próximos a esses circuitos.

Os cabos de alumínio de bitola 336, 4MCM, padrão dos circuitos primários de distribuição, suportam correntes máximas de 530A. A corrente nominal de um cabo é da ordem de 55 a 66% da sua capacidade máxima. Portanto, a corrente nominal de um cabo fase de um circuito primário de distribuição situa-se em 400A. A corrente de neutro, ou desequilíbrio entre fases, é bem menor. Em alguns casos, a concessionária tem utilizado o cabo 556,5MCM que suporta 730A. A CSPE presta um serviço ao informar que os relês de sobrecorrente de neutro não estão sendo calibrados em 4A e sim em 5A (valor máximo ou fundo de escala), isto é, somente atuaria se a corrente de neutro no circuito primário fosse superior a 600A! Talvez isso explique o acidente-tragédia ocorrido na ETD Alvarenga, não citado pela CSPE e não divulgado propriamente pela imprensa. As labaredas de fogo caminharam pelos cabos da rede de distribuição e penetraram nas residências e empresas, queimando as instalações elétricas e equipamentos dos consumidores, sem atuação da proteção.

O sistema delta citado no artigo-resposta é apenas uma forma possível de ligação dos transformadores de distribuição que são protegidos pelos elos-fusíveis e pára-raios, não tendo qualquer interferência na proteção dos circuitos de 13,8kV. O apelo recorrente à melhora dos índices de qualidade é fictício. Pois cerca de 90% das falhas dos circuitos de distribuição devem-se a faltas fase-terra que são eliminadas pela atuação dos relês de sobrecorrente de neutro. O aumento da calibração desses relês mascara esses números, uma vez que o defeito não é detectado. Também os serviços de manutenção executados com a rede desligada praticamente foram extintos e são executados em "linha viva". Tudo para a melhoria burocrática dos índices. Na prática, os consumidores têm notado variações freqüentes de tensão, que ocasionam inclusive a queima de lâmpadas e equipamentos elétricos.

Finalmente, é preciso ressaltar que o aumento do ajuste dos relês de sobrecorrente de neutro está relacionado com a redução de pessoal, tanto que a própria CSPE "apontou falha na manutenção preventiva e no processo de acionamento e despacho das turmas de manutenção". A Eletropaulo decepou seu quadro técnico, reduzindo-o de 12.500, em 1997, para cerca de 3 mil.

Eng. Álvaro Martins
Diretor do SEESP

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