MERCADO AINDA RESTRINGE PARTICIPAÇÃO FEMININA

Ao comemorar o primeiro Dia da Mulher do terceiro milênio, em 8 de março, o País ainda apresenta indicadores de mercado de trabalho que combinam mais com o século passado, inclusive na Engenharia. A pesquisa "Mercado Feminino no Estado de São Paulo no Quadriênio 1994-98", elaborada pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) mostra um crescimento na participação feminina de 47,3% para 50,9%. No entanto, o desemprego cresceu mais para as mulheres (25,2% contra 16,5%) e, embora o seu rendimento médio tenha melhorado 28,8%, seus salários ainda correspondem a apenas 64,3% dos recebidos pelos colegas.

Segundo Paula Montagner, chefe da Divisão de Mercado de Trabalho da fundação, dois fatores explicam essa situação. Primeiro, consegue salários elevados quem tem formação adequada e experiência recente. "Para muitas mulheres que ficaram fora do mercado, em geral para se dedicar aos filhos, só o nível de escolaridade não era suficiente ao retornar", observou. O segundo ponto é a capacidade de se impor ao pleitear uma vaga. "Essa é uma negociação dura, para a qual poucas mulheres estão aptas."


INSERÇÃO DIFÍCIL

Em conseqüência disso, o conjunto feminino tende a ter menor experiência profissional e atuar em áreas menos valorizadas. "Há poucas nas de ponta, no setor elétrico e de telecomunicações, e elas têm optado por modalidades como Engenharia Química ou de Tráfego." Ou seja, as engenheiras, além de serem minoria (cerca de 10% dos profissionais), estão relegadas às áreas de pior remuneração. Paula salientou que esse fenômeno não acontece por acaso ou acomodação, mas porque a mulher tem que dar conta sozinha de atribuições como administrar a casa e a educação dos filhos. "Superar essa situação é um processo de conquista individual e social, que requer capacidade de homens e mulheres repensarem seus papéis."

Comprovando que, quando se decidem a isso, as mulheres podem se dar bem nos tais nichos masculinos, Paula Bechara de Andrade, aos 25 anos, é gerente de Garantia na Volvo do Brasil. Formada em Engenharia Mecânica pelo Mackenzie em 1998, ela confirma a tese da pesquisadora da Fundação Seade. "Para conseguir uma boa colocação é fundamental a sua desenvoltura num processo de seleção e eu consigo me sair bem nessas situações." As promoções também foram disputadas com homens e ela acredita que conhecimento técnico e firmeza foram itens imprescindíveis. "Tenho interesse por essa área e também aprendi muito na prática, comigo não tem isso de não colocar a mão na graxa."

Mais experiente, a gerente de Negócios da Corning Cable System, Ruth Elvira Lupetti, aos 40 anos de idade e 17 de formada em Engenharia Eletrônica pela Mauá, coleciona histórias de discriminação. "Houve situação em que um colega foi promovido a gerente enquanto eu permaneci ganhando 10% a menos que ele, embora minha formação fosse mais adequada para o cargo. Já fui eliminada na disputa por um emprego porque queriam homens para a vaga. E até tive que ouvir de um cliente em busca de orientação técnica que ele não falaria comigo porque ‘mulher não sabe nada’. Hoje, isso não me atinge, mas quando estou em uma reunião de negócios com vinte pessoas, todas do sexo masculino, fica claro que as mulheres estão sendo preteridas."

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