ASSOCIAÇÃO DENUNCIA DESMONTE DA PETROBRÁS

A Petrobrás corre o risco de ser entregue de mão beijada a grupos estrangeiros. O alerta quem faz é Fernando Siqueira, presidente da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás). Para ele, a tentativa de modificar a marca para PetroBrax, anunciada no final do ano passado com o intento de internacionalizá-la, teria sido uma cortina de fumaça para esconder as verdadeiras falcatruas. A campanha publicitária contratada sem licitação que consumiu R$ 700 mil sem ter sido finalizada deixou como saldo apenas a extração do acento do logotipo da Petrobrás e, na concepção dele, serviu para desviar a atenção do público sobre a reestruturação da empresa, dividida em 40 unidades de negócios no mesmo período. Ele lembra que igual forma de administração quase levou à bancarrota empresas como IBM e British Petroleum no início dos anos 90. "Cria-se uma concorrência predatória entre os setores da própria companhia, avaliados independentemente por desempenho financeiro", explicou.

Para ele, o modelo foi adotado pela diretoria da companhia com o objetivo de reduzir sua eficiência e facilitar a criação de subsidiárias preparando-a para a privatização. Uma delas inclusive já entrou em negociação: a Refap (Refinaria Alberto Pasqualini), em Canoas, no Rio Grande do Sul. Pelo acordo definitivo concluído no final de 2000 entre a Petrobrás e a espanhola Repsol – que comprou a YPF argentina –, cada empresa transferirá à outra ativos avaliados em cerca de US$ 500 milhões.

A brasileira cederá à sua parceira na transação uma participação de 30% na Refap, cuja capacidade de produção é de 189 mil barris/dia. Entram na permuta ainda, do lado nacional, contratos de fornecimento de derivados que totalizam 40 mil metros cúbicos por mês a cerca de 250 postos franqueados da Petrobrás Distribuidora – BR, além de 10% dos direitos de concessão para exploração do campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro – conforme a Aepet, com reservas de 1 bilhão de barris. Em contrapartida, a Repsol-YPF transferirá à Petrobrás 99,5% da empresa de petróleo argentina EG3. Constituída de uma refinaria com capacidade de processamento de 30.500 barris/dia e aproximadamente 700 postos de serviço, entre próprios e franqueados, essa tem uma participação de cerca de 12% no mercado de combustíveis daquele país.


EFEITOS COLATERAIS

A companhia brasileira comunicou à imprensa que "o processo de troca de ativos é economicamente indiferente". Siqueira desmente a informação: "A Refap representa um dos mais estratégicos, porque, devido à localização, tem a garantia de mercado do Mercosul, enquanto a refinaria argentina é um ferro-velho. O próximo passo é negociar a Refinaria Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, também valorizada."

Conforme o presidente da Aepet, para efetivar o planejamento estratégico da companhia, foi contratada sem licitação uma empresa de consultoria chamada Arthur D. Little e desmontada a equipe interna responsável por esse trabalho. A Aepet está preparando ações contra tal "descalabro" e ingressou com representação junto ao Ministério Público, que está investigando a reestruturação da companhia.

A despeito de eventuais interesses escusos e escandalosos vazamentos de óleo, a Petrobrás mantém-se no topo. Terceiro maior complexo industrial da América Latina, é a sétima maior companhia pública no mercado de gás e óleo, com reservas provadas totais de 17,3 bilhões de barris equivalentes (óleo e gás).

O desmonte de um patrimônio como esse trará sérios efeitos colaterais. "Há hoje petróleo no Brasil descoberto que daria para nos suprir por 40 anos. Com a privatização e os novos donos exportando a produção, essas reservas podem se esgotar em menos de uma década. Como conseqüência, nos próximos 30 anos, teremos que importar um combustível estratégico por preços astronômicos. Isso significa que o País vai empobrecer", avisou Siqueira. Embora procurada pela reportagem do JE, a Petrobrás preferiu o silêncio.

Volta