OS ACIDENTES E A NEGLIGÊNCIA NO SETOR ELÉTRICO PAULISTA

A proteção elétrica dos circuitos de distribuição de energia elétrica de 13,8kV é promovida pelos elos-fusíveis das chaves tipo matheus, que protegem os transformadores contra curto-circuitos e sobrecargas, e pelos pára-raios de distribuição contra surtos de manobras e atmosféricos. Esses componentes são coordenados com outros instalados nos cubículos blindados localizados nas ETDs (Estações Transformadoras de Distribuição). Basicamente, os cubículos possuem uma chave religadora (função ASA 79), três relês tipo CO-8 de proteção contra sobrecorrente (função ASA 50/51), sendo dois instalados em duas das três fases e o outro no cabo elétrico de neutro.

Num sistema elétrico perfeitamente equilibrado, a corrente de neutro é nula. Entretanto, o balanceamento ideal é impossível e as diferenças de cargas entre as fases provocam o aparecimento ou retorno de corrente elétrica pelo cabo de neutro. Os relês são conectados à alta tensão por transformadores de corrente de relação 600A-5A. A Eletropaulo (estatal) adotava calibração do CO-8 de neutro em torno de 1A (Ampère), o que permitia desequilíbrios da ordem de 120A no circuito primário de 13,8kV. O circuito era mais sensível a desligamentos involuntários, compensados pela chave religadora, mas promovia segurança e qualidade no serviço. A Eletropaulo (privatizada) alterou a calibração para cerca de 4A, possibilitando desequilíbrios da ordem de 500A, o que torna raros os desligamentos involuntários. Tal ajuste é um absurdo e, no mínimo, negligente, pois, em grande parte dos casos, inibe a própria finalidade do equipamento de proteção, provocando acidentes gravíssimos, como os ocorridos em Itapecerica da Serra, Osasco e na Estação Transformadora de Distribuição Alvarenga.

A chave da questão é que a manutenção do ajuste em 1A demanda um número maior de profissionais para as providências de restabelecimento do funcionamento da rede, o que ficou inviável com os sucessivos cortes de pessoal da empresa. A Eletropaulo reduziu seu quadro de empregados de cerca de 12 mil para 10.500 em abril de 1998, e hoje conta com aproximadamente 5 mil. E, pasmem, com o aval dos órgãos "reguladores e fiscalizadores", pretende reduzi-los para cerca de 1.600. Com os atuais empregados, mesmo fora da época das chuvas, fica muito difícil atender com qualidade desejável aos problemas inerentes do serviço público de distribuição de energia elétrica.

Eis uma demonstração clara de interesses privados sobrepondo-se ao público, sob a batuta da CSPE (Comissão de Serviços Públicos de Energia) e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Eng. Álvaro Martins
Diretor do SEESP

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