POR QUE CARROS MÉDIOS E NÃO MAIS POPULARES?

As montadoras querem aumentar o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos carros populares e diminuir o dos médios, hoje 10% e 25% respectivamente. A proposta do Sinfavea (a indústria também tem sindicato para defender os interesses da categoria) é unificar os IPIs em 15% – na verdade, reduzir o IPI global pago pelas montadoras. 70% do mercado é de carros populares, mas os modelos maiores são muito mais caros.

Independentemente do aspecto tributário em si, o que mais chama a atenção é a miopia estratégica. Em lugar de privilegiar os modelos maiores e mais caros em detrimento do chamado carro popular, o Brasil deveria criar uma faixa adicional de IPI zero para veículos com preço de venda inferior a R$ 8 mil.

Do ponto de vista da massa popular, a aquisição de um automóvel tem três problemas: preço, preço e preço. Quanto mais barato, mais vende. Pobre compra carro usado ou novo barato!

Detalhe. O veículo pequeno não rouba mercado do grande. Ao contrário. Como ocorre com a maconha no caso das drogas, o carro pequeno é a entrada do mais pobre no vício do automóvel. Muitos deles passarão a consumir os mais potentes adiante. O fenômeno já se deu nos países desenvolvidos. Não será de outro modo no resto do mundo.

Mais ainda, 5/6 da população da Terra, 5 bilhões de pessoas, estão entre os pobres. É evidente o potencial de exportação desses veículos pequenos e baratos, desde que concebidos, desenvolvidos, fabricados e comercializados com os olhos no mercado mundial de baixa e média renda.

E o Brasil tem todas as condições de desenvolver tais veículos, validá-los no mercado interno e promovê-los no mundial. Em termos de Engenharia, talvez seja o melhor país do mundo para isso. Esses carros não precisam usar tecnologia atrasada. Ao contrário. Necessitam de tecnologia avançada para viabilizar características funcionais, desempenho e processos produtivos compatíveis com o baixo preço e a realidade moderna.

O problema são as estratégias das matrizes mundiais, totalmente voltadas aos saturados mercados de alta renda do Primeiro Mundo e às elites do resto do Planeta. Está faltando a sensibilidade de quem nasceu e cresceu produzindo e vendendo em grandes volumes o Ford modelo T, o Volkswagen (ou carro do povo) e até os modelitos japoneses do pós-guerra.

Existe aí uma enorme oportunidade de negócios no mercado interno, que conjuga justiça social e possibilidade de exportação. Falta apenas clareza estratégica das matrizes e suas filiais brasileiras, e mais ainda do Governo. Cabe a ele sinalizar os rumos do desenvolvimento, por exemplo, com a política fiscal. Que tal contrapropor à indústria automobilística IPI zero para carros realmente populares como forma de fortalecer filiais estratégicas no Brasil? Que tal incentivar filiais que desenvolvam carros populares e liderem suas empresas nessa área?

Eng. Paulo Tromboni de Souza Nascimento
Presidente

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