ENGENHARIA A SERVIÇO DO TERCEIRO SETOR

Primeira mulher a graduar-se em Engenharia Naval na Poli–USP no ano de 1972, Ana Maria Serrajordia Ros de Mello chegou a fazer mestrado em Energia Atômica no atual Ipen (Instituto de Pesquisas Nucleares) e passou a atuar especialmente na área administrativa. Sete anos depois de formar-se, o destino a impulsionaria para o terceiro setor, onde permanece ainda hoje.

Isso aconteceu poucos anos após o nascimento do seu quarto e último filho em 1979 e uma angustiante busca por um diagnóstico. "Quando ele estava com três anos e pouco, levei-o a um médico recém-chegado dos Estados Unidos, o qual não apenas verificou que meu filho era autista, como também promoveu reuniões com um grupo de pais que estavam passando pela mesma situação: após rodarem muito, uma vez com o diagnóstico nas mãos, não sabiam como proceder. Não havia atendimento especializado para essas crianças no Brasil. Fundamos a AMA (Associação de Amigos do Autista) em 1983 e criamos a escola (Naama – Núcleo de Aprendizado da Associação) um ano depois. A partir de 1985, passei a me dedicar integralmente a essa instituição, da qual fui voluntária até 1993 e a partir de então, contratada como gerente administrativa." À frente da entidade, hoje ela está aplicando seu know how no dia-a-dia com maior intensidade. "Com a ajuda da minha filha, engenheira de Produção que desenvolveu trabalho de conclusão de curso voltado ao terceiro setor na AMA, estamos reestruturando e informatizando a associação." Ana Maria garante que os conhecimentos adquiridos na faculdade ajudaram também na implantação da escola, inclusive na organização da parte pedagógica.


ATENDIMENTO NO BRASIL HOJE
A conjunção entre a formação profissional e a vivência do problema deram certo. A AMA em São Paulo não só ampliou suas atividades – hoje são dois locais, um sítio em Parelheiros que inclui residências e um Centro de Reabilitação Infantil no Largo do Cambuci, na capital paulista, sendo atendidos perto de 60 autistas de idades variadas no total, cerca de metade das vagas disponíveis –, como vem auxiliando na formação de outras instituições do gênero. Todavia, conforme lamentou Ana Maria, embora existam entidades espalhadas pelo País, ainda é pouco e não há nenhuma associação pública. "É uma das deficiências, por danos neurológicos, que mais gravemente atinge as pessoas e com menos ajuda", constatou. Somente na cidade de São Paulo, nascem a cada ano cerca de 200 com esse transtorno do desenvolvimento humano, que compromete três áreas: a comunicação (a criança não dá nenhuma pista dos seus desejos e necessidades nem mesmo com o olhar), a interação social (não percebe o outro ou aprende por imitação e mesmo quando fala, dificilmente atribui significado às palavras) e a imaginação.

Alguns convênios com gestões municipais vêm sendo firmados na tentativa de incrementar o atendimento. "Temos um com a Prefeitura de São Paulo, sendo 20 das vagas na escola reservadas à administração encaminhar crianças carentes. Dessas, seis estão ocupadas", explicou a gerente. Segundo ela, uma dificuldade para preenchê-las é a necessidade de fazê-lo aos poucos, pois o tratamento é individualizado e não há estrutura para aceitar mais de um aluno por mês em cada local – no sítio e no Centro de Reabilitação Infantil.

Tal distúrbio não tem cura, mas é possível alcançar um desenvolvimento dependendo do comprometimento de cada um. "No final de 1993, chegou no sítio um menino que ia completar sete anos, começou a ler sozinho com quatro, falava, porém não aprendia a escrever. Eu não trabalho com a parte pedagógica, mas pedi para tentar ensiná-lo, o que consegui em dois meses, usando o computador (na escola, em geral, utiliza-se o método montessoriano para a alfabetização). Hoje, vai fazer 14 anos (embora a idade máxima no Centro de Reabilitação Infantil seja 12, ele continua sendo atendido), passou para a sexta série e, apesar de ter limitações, está superintegrado. Há atualmente quatro crianças conosco e em escola normal", comemorou Ana Maria. Segundo afirmou, existem inclusive autistas na universidade.

A AMA é uma entidade particular sem fins lucrativos que sobrevive graças ao auxílio de padrinhos (empresas ou pessoas que "adotam" um aluno), contribuição de associados e doações. Apenas 25% das fontes de receita provêm do pagamento de mensalidade na escola pelos pais (R$ 500,00 por meio período). Quem quiser colaborar deve entrar em contato com a associação pelos telefones (11) 270-2363 ou 6272-8822 ou e-mail: info@ama.org.br.

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