ACORDO ASSINADO NA SABESP REPRESENTA RECOMEÇO

Especialmente nos últimos dois anos, os engenheiros e demais trabalhadores da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo) enfrentaram as agruras de atuar em uma estatal sob os desígnios de um Governo inflexível.

Viram conquistas suas serem retiradas arbitrariamente, com o endosso legal, e tiveram que administrar diversas greves em um período de alto desemprego. A intransigência da gestão Covas já em 1999 ecoou no TST (Tribunal Superior do Trabalho) e ganhou a forma de um efeito suspensivo tão radical quanto nefasto. Quem conta é o engenheiro João Carlos Gonçalves Bibbo, diretor do SEESP, representando a categoria nas negociações com a companhia: "Após termos obtido uma liminar no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) mantendo o acordo coletivo anterior e ter sido julgado o dissídio no final daquele ano, com a concessão de 3,88% de reajuste, repassados a todos os benefícios, a Sabesp prestou esse desserviço, entrando com pedido de efeito suspensivo junto ao TST." Ainda de acordo com seu relato, graças à ação do então presidente e ministro daquela instância, Wagner Pimenta, o qual deu seu aval para que todas as conquistas fossem cassadas, restou aos trabalhadores apenas o inserido na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Até hoje, é aguardado o julgamento desse processo por aquela corte.

Na tentativa de agilizar essa e outras pendências, como a referente à Ferroban, cujos trabalhadores também foram vítimas desse recurso previsto na Medida Provisória nº 1.950, Bibbo, Paulo Tromboni de Souza Nascimento e Murilo Celso Campos Pinheiro, respectivamente presidente e vice do SEESP, se reuniram no dia 27 de setembro último com o recém-empossado presidente do TST, ministro Almir Pazzianotto. Na ocasião, ele se comprometeu a julgar tais processos rapidamente. Sua eleição trouxe esperança aos sindicalistas e trabalhadores de dias melhores, até porque, conforme observou Bibbo, em casos já sob o seu comando, relativos à Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), à Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e ao IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), ele não deu o efeito suspensivo pedido sobre os reajustes concedidos pelo TRT.


CAMPANHA SALARIAL
Para o diretor do Sindicato, essa postura mais aberta e democrática motivou a Sabesp a negociar na campanha salarial deste ano, pois percebeu que o recurso, se solicitado, seria negado. Até então, a companhia vinha insistindo em não conceder qualquer reposição salarial e cortar benefícios, como no ano anterior. Em um clima adverso, os trabalhadores se viram obrigados a paralisar suas atividades por diversas ocasiões. Após essa saga, finalmente a empresa apresentou proposta, aprovada por eles em assembléia, e o acordo coletivo 2000 foi firmado, no dia 2 último. Nele, estão inseridos reajuste salarial de 6%, retroativos a 1º de maio último; vale-refeição (24 unidades com valor facial de R$ 9,00 cada); cesta básica de R$ 59,83 aos funcionários com salário base mais comissão de função até R$ 2.000,00; pagamento dos dias parados; continuidade das negociações sobre itens da pauta que não representem impactos financeiros à Sabesp e do processo do dissídio coletivo 1999-2000 e encerramento deste. Além disso, segundo lembrou Bibbo, durante a campanha, ficou assegurada uma PLR aos trabalhadores equivalente a uma folha de pagamento, sendo 80% proporcionais ao salário e 20% fixos. A primeira parcela já foi paga e a segunda está programada para abril de 2001. E ainda, manteve-se o número de delegados sindicais na companhia (18 titulares e 18 suplentes) e um dirigente afastado. "Considerando a postura intransigente do Governo Covas e da sua área econômica, o resultado foi muito positivo. Entre as estatais, foi a melhor proposta neste ano. Porém, quando se compara com o lucro enorme obtido pela empresa, de aproximadamente R$ 400 milhões líquidos no primeiro semestre e previsão do dobro no total, o saldo foi negativo. Não é o que os funcionários da Sabesp esperavam. Com certeza, eles mereciam muito mais. Mas está se reiniciando na companhia a fase de negociação e conquistas do que perdemos em 1999. Portanto, cremos que neste ano a campanha salarial foi vitoriosa", concluiu Bibbo.

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