POLÍTICA CONTRASTA COM REALIDADE 
E EMPERRA NEGOCIAÇÕES SALARIAIS

Ao contrário do que ocorreu em 1999, no primeiro semestre deste ano pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) apontou que mais da metade das categorias obtiveram reajustes superiores à inflação no período. Para o assessor sindical do SEESP, João Guilherme Vargas Neto, o índice confirma a conjuntura propícia às ações e mobilizações dos trabalhadores. "Isso acontece em função de três fatores: a própria existência da estrutura sindical, a relativa retomada econômica, já significativa na indústria e nos grandes centros, e o repique inflacionário, configurado nas tarifas públicas das empresas privatizadas, combustíveis e remédios."

Embora o contexto seja oportuno, os engenheiros, especialmente os que atuam em estatais em São Paulo, vêm encontrando dificuldades nessas campanhas salariais. Tanto é que a data-base da maioria desses profissionais é em 1º de maio ou 1º de junho – nas energéticas –, porém negociações vêm se estendendo ainda hoje. Em algumas situações extremas, desde 1999 não tem havido acordo. É o caso da Sabesp. "Os dois últimos anos foram os piores durante toda a existência da companhia. Nunca houve uma política de recursos humanos tão nefasta para o trabalhador como essa", observa João Carlos Gonçalves Bibbo, diretor do SEESP, representando a categoria nas negociações com a empresa. Nessa, assim como na Cetesb, a decisão ficou para o TRT (Tribunal Regional do Trabalho). Na primeira, o julgamento do dissídio aconteceu no dia 31 de agosto, frente a ameaça de greve no dia 1º. E na segunda, ocorreu no dia 14 último, após dois dias de paralisação, considerada não-abusiva. Em ambas, a orientação é por 6% de aumento, estabilidade de 90 dias e manutenção dos benefícios – no caso da Sabesp, a determinação, se transformada em contrato, restabelecerá as conquistas sob efeito suspensivo desde 1999. Outra diferença é que na Cetesb a definição é de reajuste extensivo às cláusulas econômicas do acordo anterior. Já na Sabesp, a reposição não é assim abrangente, mas em compensação o TRT concedeu 4,5% de produtividade. A expectativa nas duas é que essas acatem as decisões do Tribunal. Também sem acordo há dois anos, os engenheiros da CPTM tentam, via SEESP, insistentemente negociar. A companhia resiste, afirmando não ter posicionamento que justifique um encontro com os sindicalistas. Situação idêntica vivem os profissionais na CDHU, onde não houve avanço e a conseqüência previsível é a paralisação das atividades. No Metrô, a categoria esgotou todas as possibilidades e finalmente aprovou em assembléia a proposta da companhia. "Praticamente oito meses de negociação intensa levaram a um quadro em que mantivemos todos os benefícios preexistentes e serão pagos R$ 540,00 a título de PLR, com possibilidade de algo mais na apuração dos resultados em janeiro de 2001", relatou Laerte Conceição Mathias de Oliveira, diretor do SEESP em campanha salarial na companhia. Ele lamentou a intransigência da empresa em não conceder sequer percentual relativo à reposição das perdas inflacionárias, como aconteceu no ano passado, em que os trabalhadores obtiveram reajuste de 3,88%, mas enfatizou os fatos positivos de terem sido preservadas as conquistas anteriores e estar prevista a instituição da Comissão de Conciliação Prévia até o final do ano. Na sua concepção, diante do cenário criado pelo Governo, que recorreu ao TST utilizando-se do efeito suspensivo para extrair benefícios, o acordo que deve ser assinado em breve pode ser considerado uma vitória. Engenheiros em empresas como Ferroban que o digam. Esses tiveram seus benefícios decepados. "Não temos cesta básica, assistência médica, vale-refeição. Temos apenas a CLT e uma cláusula que prevê uma indenização maior em caso de demissão sem justa causa. A companhia não está olhando para o seu bem maior, os funcionários", indignou-se Maxwell Wagner Colombini Martins, diretor do SEESP em campanha na Ferroban. Ainda segundo ele, a empresa implantou em maio último o Plano de Cargos e Salários sem a participação dos sindicatos. Como se não bastasse, suscitou a extinção do processo de dissídio coletivo no TST. O SEESP ingressou com pedido de agravo regimental, aceito pelo Tribunal Superior, para assegurar a realização do julgamento, ainda sem data definida.


ENERGÉTICAS

Na Cesp e CTEEP, o TST não deu o efeito suspensivo solicitado pelas companhias sobre a sentença dada pelo TRT, o qual concedeu aumento de 7% e remeteu para discussão a PLR. As empresas reabriram a negociação. A primeira delas propôs a diminuição desse percentual de reajuste para 2% em troca da prorrogação do acordo até 31 de dezembro de 2003 mais abonos da diferença que seria dada com os 7% e nada a título de PLR. Os engenheiros rejeitaram a oferta em assembléia. Já a CTEEP mantém a negociação em torno da PLR e da prorrogação do acordo, condicionando a deliberação desses itens à unificação dos acordos entre a EPTE e essa companhia. Uma comissão composta pelos representantes dos sindicatos irá estudar o assunto. "Diferentemente dos outros anos, as estatais deixaram de fechar acordo em mesa, apelando para a Justiça do Trabalho. Isso provou a inabilidade da Comissão de Negociação Salarial do Governo de São Paulo, ao propor reajuste zero e o corte dos benefícios conquistados", constatou Murilo Celso Campos Pinheiro, vice-presidente do SEESP, em campanha salarial nas energéticas. A explicação encontrada por Vargas Neto para tal orientação é que trata-se de postura do Governo para não admitir o aumento da inflação. "É a visão tecnocrática política predominando sobre a realidade negocial." Para João Paulo Dutra, diretor-tesoureiro dessa entidade, o mais triste é que os recursos que deveriam ir para o bolso dos trabalhadores serão usados para os pagamentos escorchantes da dívida externa.

Volta